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Sobram vagas de emprego e falta mão de obra qualificada em Três Lagoas

Três Lagoas é a segunda cidade em Mato Grosso do Sul que mais gerou empregos nos cinco primeiros meses do ano

Ranking  > Três Lagoas é uma das cidades que mais geram empregos em MS - Arquivo/JP
Ranking > Três Lagoas é uma das cidades que mais geram empregos em MS - Arquivo/JP

Mesmo em tempo de crise, em Três Lagoas não faltam oportunidades de emprego. A cidade é uma das que mais geram empregos em Mato Grosso do Sul, de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério da Economia. Nos cinco primeiros meses deste ano, Três Lagoas apresentou saldo positivo de 2.349 novos empregos formais, com carteira assinada. O município fica atrás apenas da capital.

A oferta de vagas em Três Lagoas é reflexo do complexo de celulose, que direta e indiretamente, proporciona muitas oportunidades de emprego. Diariamente a Casa do Trabalhador oferece muitas vagas de emprego, mas preenche-las é o grande desafio, dependendo da área. 

Por um lado, existem reclamações da falta de mão de obra qualificada para a ocupação dessas vagas, por outro, trabalhadores alegam que não é tão simples conseguir um emprego e que as empresas não dão oportunidades para quem não tem experiência, por exemplo, mesmo tenho graduação na área. Outras reclamações, são de que as empresas dão preferência para trabalhadores de outras cidades. Têm aqueles ainda que alegam que muitos não conseguem emprego porque não querem trabalhar. 

Três Lagoas é considerada a Capital Nacional da Celulose, em razão das três indústrias deste segmento que estão instaladas na cidade.  As fábricas de celulose e papel proporcionaram ao município muitos benefícios, entre eles, aumento da arrecadação. Para o ano que vem, por exemplo, a receita do município deve ultrapassar R$ 1 bilhão. Mas diante desses pontos positivos, o porque ainda existem tantas pessoas desempregadas em Três Lagoas? 

Para o professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), campus de Três Lagoas, o economista Marçal Rogério Rizzo, esse ponto é bastante controverso e polêmico. “Há quem diga que quem não trabalha é vagabundo e que há vagas de trabalho sobrando. O que ocorre é que as vezes as pessoas pensam que um desempregado pode trabalhar em qualquer lugar, basta ter a vaga de emprego. Todavia, temos que lembrar que há necessidade de qualificação da mão de obra. Sabemos que o colaborador que a empresa necessita tem um perfil diferente do que está sendo ofertado. Existem características técnicas, intelectuais, habilidades, capacidade e até mesmo atitudes que devem ser preenchidas pelo candidato para ocupar a vaga”, comentou.

Ainda de acordo com o economista, Três Lagoas tem uma arrecadação considerável e poderia atuar de forma mais incisiva na atração de empresas. Ações como a criação de incubadoras empresariais, segundo ele, poderiam ser um ponto de partida para pequenos novos negócios e vagas de empregos.  Ainda de acordo com ele, ações de apoio a qualificação e requalificação de mão de obra também deveriam estar no radar do município de forma contínua. Essa conduta é mais uma ação política do que propriamente gasto público. 

Conforme divulgado pelo Jornal do Povo, em Três Lagoas, muitas famílias estão em situação de pobreza, e muitas delas, sobrevivem com auxílio dos benefícios sociais e de doações da sociedade.  Para o economista, quem está nessa condição muitas vezes não consegue ver uma luz no fim do túnel. “ Existem duas formas de obter renda. A primeira é vendendo sua mão de obra. Agora deve-se entender que para encontrar boas oportunidades o trabalhador deve estar ativo. É melhor estar ganhando pouco, mas estar trabalhando, podendo obter experiência e ser visto para novas oportunidades do que em casa desempregado. Deve-se estar ciente que começamos de baixo e vamos obtendo melhorias ao longo do tempo. Para tanto, a qualificação é um ponto fundamental. A segunda forma de obter renda é empreender. Sugiro que para não começar errado seu negócio, mesmo que seja na garagem de casa que procure uma organização que possa auxiliar como, por exemplo, o Sebrae, que certamente irá ajudar muito nessa jornada”, orientou o professor de economia.

‘Trabalhador quer trabalhar, mas falta oportunidade’

O novo diretor da Casa do Trabalhador de Três Lagoas, Jean Carlos, confirma que sobram vagas de emprego na cidade e que a falta de qualificação profissional é um dos problemas enfrentados no município. No entanto, avalia que têm empresas que exigem muito e não dão oportunidade para quem está desempregado. “A gente percebe que o trabalhador quer trabalhar, mas chega na hora, a empresa exige demais e não dá a oportunidade”, disse.

Jean assumiu neste mês o cargo de diretor da Casa do Trabalhador com essa missão de “convencer” as empresas a darem oportunidade para os trabalhadores de Três Lagoas. “Estamos fazendo essa visita, conversando com as empresas para que essa situação posso melhorar, principalmente para o trabalhador”, adiantou.

Para o diretor, as empresas poderiam ajudar na qualificação desses profissionais, em troca, teria um trabalhador qualificado para a vaga que precisa ser preenchida.  como exemplo, informou que sobram vagas de  motoristas carreteiros em Três Lagoas e muitas demoram para serem ocupadas porque a pessoa não está preparada. “As grandes empresas poderiam fazer uma parceria e preparar esse pessoal para o mercado de trabalho. Isso seria bom para todos. Estamos batendo nessa tecla para que as empresas possam ajudar, dar essa oportunidade para quem quer trabalhar”, destacou. 

‘Senai vem atuando para melhorar mão de obra qualificada’ 

Diferente de outros municípios do Estado, Três Lagoas dispõe de toda uma estrutura para a qualificação profissional, principalmente para atender a demanda das grandes indústrias. O Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) tem uma unidade em Três Lagoas que oferece diversos cursos de qualificação profissional.

De acordo com diretor do Senai de Três Lagoas, Rodrigo Bastos, muitas pessoas que estão trabalhando nas indústrias do município frequentaram o Senai que, segundo ele, é um grande aliado na qualificação profissional. 

O diretor ressalta que os cursos oferecidos pelo Senai atendem a demanda das indústrias. “O Senai trabalha não apenas com os cursos de balcão, mas também “in company”, que são desenhados para atender a indústria. “Por exemplo, nós estamos oferecendo cursos para atender a demanda da fábrica de celulose de Ribas do Rio Pardo. Temos uma demanda de cursos de qualificação para as pessoas que ainda vão ingressar na indústria. Nós desenhamos com a indústria alguns treinamentos para que elas consigam moldar esse profissional para atendê-los quando iniciar a contratação. Em Três Lagoas, a gente também já trabalha assim com as indústrias, entendendo qual a real necessidade.  Esse é o papel do Senai, qualificar a pessoa para que ela saia daqui com a mão na massa”, destacou.

Além de cursos pagos, o Senai de Três Lagoas ainda oferece oportunidades de gratuitas. Atualmente, por exemplo, está com inscrições abertas para cursos técnicos de Recursos Humanos, Administrativo e Logística. Mas, de acordo com Rodrigo Bastos, mesmo de graça, alguns cursos precisam ter as inscrições prorrogadas por falta de procura.  

Citou como exemplo também, que o Senai está com inscrições abertas para cursos de mecânica, automação, química, celulose e papel. Além do Senai, Três Lagoas tem ainda o Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS) que oferece diversos cursos gratuitos, inclusive de idiomas, mas há aqueles que também demoram para ter as vagas preenchidas