Veículos de Comunicação

Setembro Amarelo

Combatemos o suicídio ouvindo mais quem está ao nosso lado' , diz psiquiatra

Neste mês de setembro é celebrada a campanha Setembro Amarelo para combater as causas da depressão e o suicídio

- Antonio Luiz/Rádio Cultura
- Antonio Luiz/Rádio Cultura

Neste sábado (10) é celebrado o Dia Mundial de Combate ao Suicídio. A data é inserida dentro da campanha “Setembro Amarelo”, que é o mês dedicado à prevenção ao suicídio. No Brasil, trata-se de uma iniciativa do Centro de Valorização da Vida (CVV), da Associação Brasileira de Psiquiatria e do Conselho Federal de Medicina.

Segundo dados repassados pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS), de janeiro até agosto deste ano, foram registrados 8 óbitos provocados por suicído. Em todo o ano passado, o mesmo número. Já em 2020, foram 14 mortes. Em relação a tentativas de violência auto provocada (auto-mutilações), de janeiro a agosto deste ano, foram registradas 199. Em 2021, esse número chegou a 217 casos. 

Para falar sobre esse tema, o Jornal do Povo entrevistou a psiquiatra do Centro de Assistência Psicossocial (Caps) de Três Lagoas, Priscila Salomão. Uma pessoa em depressão apresenta tristeza, crises de choro, desânimo, angústia, sensação de falta de prazer, alterações do sono, irritabilidade, falta de concentração e isolamento social. Além disso, destaca o papel da família como fundamental, para as pessoas que precisam de uma rede de apoio. 

Como nós conseguimos evitar o suicídio e como ajudar alguém que tem esse tipo de pensamento? 
Priscila
Nesse mês de setembro devemos ter em mente o objetivo de valorizar a vida. Quando abordamos o tema de prevenção ao suicídio, eu sempre tento focar na valorização da pessoa e da vida. Além disso, precisamos refletir e sabermos que precisamos investir na saúde mental, para que nossos dias sejam mais leves e, se porventura adoecermos, o pior não possa acontecer. 

Quais são os serviços disponibilizados pela Rede Pública de Saúde?
Priscila
Nosso município tem se empenhado muito e investindo na saúde mental. Hoje a prefeitura redirecionou o sistema de atendimento e cada Unidade Básica de Saúde (UBS) tem um profissional de saúde mental, que pode acolher esse paciente e encaminhá-lo para o tratamento, caso isso seja necessário. Para o tratamento nós temos profissionais de psicologia na rede básica, no Caps e, em casos mais graves, esse atendimento é realizado pelo Caps 2. Essa preocupação com a saúde mental está sendo encarada com responsabilidade em nossa cidade.
 

Muita gente reclama e afirma que existe muita demora para conseguir um tratamento com um profissional de saúde mental. Essa demora existe realmente?
Priscila
Como já afirmei, caso a pessoa tenha urgência nesse atendimento, basta ir ao posto de saúde. No local, ela será acolhida e veremos qual o grau de urgência. Por isso, existe essa lista que a população reclama porque os casos mais urgentes, já encaminhamos para o atendimento. Existe uma escala de gravidade e esses profissionais são treinados para identificá-la.

Em relação a procura para esse tipo de serviço, aumentou nos últimos anos em Três Lagoas? 
Priscila
A gente tem que entender, que não só em Três Lagoas, houve esse aumento na demanda por saúde mental. Devido ao estilo de vida que temos levado, o mundo tem adoecido psiquicamente com mais facilidade. Hoje nós temos que trabalhar para acabar com o achismo de que psicólogo e psiquiatra é coisa de gente doida, por exemplo. Se você não está bem, deve procurar ajuda. Todo esse trabalho que a imprensa faz e nós da saúde pública, para desmistificar esse tipo de atendimento, tem feito a população procurar mais o nosso auxílio. 

Como a senhora disse, ainda existe muito preconceito com o tratamento de saúde mental. Nesse contexto, qual a importância da família e amigos para que o paciente se recupere de uma depressão, por exemplo?
Priscila
O entorno desse paciente não pode ser um ambiente tóxico. Aquela visão, que ainda existe, que depressão é frescura, falta vontade, preguiça, só afeta ainda mais o psicológico dela. Os familiares devem identificar os sintomas, como: isolamento social, perda de peso, irritabilidade, choro, entre outros. Devemos perceber que essa pessoa não é mais a mesma, pois são diversas mudanças que ela terá em seu comportamento e precisamos estar atentos a elas. Portanto, esse setembro é um mês em que precisamos estar focados na atenção para os nossos filhos, parentes e amigos. 
 

Porque as pessoas têm tanto dificuldade para identificar alguém que está em quadro de depressão?
Priscila
O egoísmo e a correria do dia-a-dia não nos deixam olhar para o outro. Não apenas olhar para cumprimentar. Quando você pergunta para uma pessoa, está tudo bem? e ela responde que não, muitas vezes não sabemos o que fazer, como agir nesse momento. Porém, nós devemos cultivar o ato de ouvir e cuidar uns dos outros.

Porque tem aumentado o suicídios entre crianças e adolescentes no mundo todo?
Priscila
Todos nós estamos suscetíveis ao adoecimento mental, ao sofrimento, sejamos crianças, adolescentes, jovens ou idoso. A depressão não escolhe idade e, por esse motivo eu reforço, precisamos estar atento às pessoas. Os tempos são outros, nossa vida mudou e a ansiedade de aceitação pode interferir na nossa saúde. 

Nesse contexto, as mídias sociais têm estimulado o aumento de problemas psíquicos?
Priscila
O problema das redes sociais é que elas nos afastam do contato físico. Portanto, se você passa muito tempo nesse mundo virtual, ele pode contribuir sim com agravamento de uma depressão, por exemplo. Nesse ambiente você vive algo que não é tão verdadeiro, uma realidade falsa, que no mundo físico não acontece da mesma forma. Geralmente nós só publicamos coisas lindas, maravilhosas, mas a vida real não é assim, pois todo mundo sofre, tem problema e enfrenta dificuldades. 
 

Em relação à Rede Pública de Ensino, existe um profissional que faça o atendimento aos alunos?
Priscila
Muitas escolas estão colocando, no seu quadro de profissionais, psicólogos. Eu acredito que esse tipo de serviço nas unidades de ensino é muito importante, pois o professor é alguém que está próximo aos seus alunos. Eles podem ter esse olhar diferenciado e precisam ter um local adequado para encaminhar essa criança, ou adolescente. Caso não tenha psicólogo na escola, o professor deve ter uma referência para quem encaminhar o aluno e também a família. Toda criança é fruto de uma família e, por esse motivo, ela deve ser inserida também nesse apoio.
 

O que leva uma pessoa a tirar a própria vida?
Priscila
Nós temos que entender que, na maioria dos casos, a pessoa está doente psiquicamente, ao ponto de cometer esse ato extremo. O instinto desde que nascemos é prezamos pela vida. Ao sair do ventre, a primeira coisa que fazemos é puxar o ar, tomar fôlego. Ninguém fala para o bebe, você precisa respirar, pois é um instinto. A pessoa chegar ao ponto de ter pensamento suicida, isso indica que ela não está bem, está doente.