Veículos de Comunicação

Entrevista

Projeto da Aegea Saneamento vai transformar lodo do esgoto em fertilizante

Empresa tem 12 anos de existência, está presente em 13 estados e é proprietária da Águas Guariroba

Empresa tem 12 anos de existência, está presente em 13 estados e é proprietária da Águas Guariroba - Isabelly Melo
Empresa tem 12 anos de existência, está presente em 13 estados e é proprietária da Águas Guariroba - Isabelly Melo

O diretor de relações institucionais da Aegea Saneamento, Paulo Antunes, falou sobre a importância de as empresas investirem em recursos humanos, meio ambiente e governança. Além disso, durante a entrevista, Paulo destacou um trabalho que vem sendo desenvolvido pela empresa em relação ao lodo que sai do esgoto. Em todo Mato Grosso do Sul, a Aegea produz 500 toneladas de lodo por mês nas 68 cidades atendidas pela empresa. O diretor explica o que a instituição faz com esse resíduo. A Aegea é a proprietária da Águas Guariroba e de outras 153 empresas espalhadas por todo o país.

A Águas Guariroba ganhou um prêmio, é isso mesmo? 

Paulo Antunes Isso mesmo, ganhamos o prêmio ESG, essa sigla em inglês. A letra E é de Meio Ambiente, Environnement; o S é de Sociedade, Social, nesse caso a sociedade envolve tanto os colaboradores e empregados quanto o meio social em que a empresa está inserida. Na Águas Guariroba em Campo Grande temos mais de 700 colaboradores, mas estamos inseridos em uma cidade com quase 1 milhão de habitantes, precisamos nos relacionar com essas pessoas, com as instituições, prefeitura, com a imprensa. Então, toda essa dinâmica faz parte deste Social.

E cada vez mais a sociedade cobra essa relação das empresas? 
MARIELA Exatamente. Isso não é um assunto novo. Só ganhou mais força, principalmente depois da pandemia, quando os seres humanos perceberam que nós podemos ter um inimigo comum para todos. Mas em 1700 já tinha um engenheiro alemão que constatou que se tirassem as árvores de maneira desordenada, elas iriam  fazer faltar. Então, ele criou um plano de que teria que ser sustentável se você administrasse uma certa quantidade pra dar tempo para a natureza se recuperar. Esse conceito chamou-se de sustentabilidade e ele vem evoluindo ao longo do tempo. A evolução dele hoje é essa pauta ESG que começa com os objetivos de desenvolvimento sustentável. Têmos o pacto global da ONU, e aqui eu digo: a Aegea faz parte, ela é signatária do pacto da ONU, isso significa que nós estamos buscando atender os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável estabelecidos em comum acordo entre as nações. Por exemplo, o objetivo 6 se refere à água, ao saneamento para todos, nós estamos ainda em um país que metade da população não tem esgotamento sanitário em sua casa, e onde praticamente 33 milhões de pessoas não tem água. Este privilégio que temos em Campo Grande, não é um privilégio de mais de 33 milhões de pessoas, é quase uma Argentina inteira sem água no nosso país. Nós precisamos cuidar do meio ambiente para que ele tenha capacidade de se recompor. Uma agressão ao meio ambiente gera situações como enchentes, verão que mata pessoas pelo calor na Europa. Nós precisamos cuidar das pessoas, tratá-las bem. Pode ser nas empresas, pode ser na sociedade, e aí que vem a governança de que como as empresas são administradas, como que ela controla, como ela é transparente em relação ao modo que trata seus empregados ou o modo com que trata seus acionistas.

Tem um trabalho sendo desenvolvido em relação ao lodo que sai do nosso esgoto? 
Paulo Antunes Quando nós tratamos o esgoto, cada família gera uma quantidade de esgoto por dia, esse esgoto, pela tubulação vai parar lá na nossa estação, que trata esse esgoto. No fim do tratamento, a parte líquida vira o efluente e é devolvido, em condições tratadas e sustentáveis, para o rio ou córrego. A parte sólida é o lodo e esse lodo precisa ser descartado. Uma coisa interessante é que esse lodo representa pouco mais que 2% do total do esgoto produzido, parece pouco, mas em quantidade ele pode ser muito. Vou dar exemplo do interior de Mato Grosso do Sul, porque a Aegea assumiu o tratamento de esgoto das cidades com a Sanesul através da MS Pantanal, produzimos cerca de 500 toneladas de lodo por mês. Em todas as 68 cidades do estado que nós atendemos a tendência é aumentar ao longo do tempo porque nós vamos aumentar a cobertura de esgoto.

O que fazemos com esse lodo? É ambientalmente permitido que a gente coloque esse lodo nos aterros sanitários. Mas quando você coloca esse lodo no aterro, provavelmente isso vai descer em forma de chorume (termo utilizado) para a terra, para os lençóis de água. Então, poderá então ser emitido o gás de efeito estufa como o metano, então, você tem ali uma situação controlada, mas que poderia ser evitada. 

Atualmente, nós conseguimos e isso está em tratativa já há alguns meses com uma indústria que produz fertilizantes através do esterco de boi em confinamento. Eles toparam a experiência e fizemos muitos testes, agregando o lodo com o esterco de boi. Em todos os testes realizados, ao adicionar lodo ao esterco, 10% de lodo e 90% de esterco bovino mais todo o processo de compostagem, nós criamos um novo fertilizante altamente eficiente que pode ir para o solo e recompor o solo de uma forma muito melhor do que um fertilizante mineral. Isso foi acompanhado e monitorado pela Semagro e pelo Imasul, então nós teremos todas as condições, em breve, de termos esse fertilizante sendo comercializado por essa indústria parceira.

Aegea não vai passar nenhum real para essa empresa e essa empresa não vai passar nenhum real pra nós, isso é um tipo de parceria estratégica em que as duas empresas se juntam pela pauta ESG. O resultado disso é que não teremos mais lodo nos aterros em Mato Grosso do Sul, o resultado disso é que 20% dessa produção, que pode chegar a mil toneladas por mês, nós faremos a doação para um programa estadual que visa atender pequenos agricultores, assentamentos, áreas degradadas, hortas comunitárias e o nosso próprio viveiro que produz as mudas para serem plantadas em todas as cidades do estado.

Sabemos que a população cobra muito da gestão, por ser uma concessionária pública. O que está sendo feito em relação à transparência de dados? 
Paulo Antunes Nós somos um serviço público que atende à sociedade campo-grandense. Dessa maneira, a transparência precisa estar e está no nosso DNA, a Aegea mesmo não sendo uma SA de capital na bolsa, Ibovespa, ela procura atender todas as regras de governança como se lá estivesse. Regras de governanças envolvem transparência, que é eu informar à toda a sociedade e a Aegea, a Águas Guariroba. Essa conduta todas as unidades buscam de forma incessante, mostrando seus balanços, informações e índices alcançados. Então, pra nós, transparência na governança está no nosso dia a dia.

Em Campo Grande nós temos uma das melhores, senão a melhor água do Brasil e isso pode ser comprovado e confirmado a qualquer momento de forma transparente. Em Campo Grande nós temos um dos menores índices de perda de água, apenas 19% de perda, em média no Brasil é de 39% de perda, ou seja, toda a água produzida no Brasil, cerca de 40% se perde no meio do caminho, e nisso Campo Grande tem um dos menores indicadores, isso é transparência.

A Aegea é a primeira empresa na América Latina que contrai recurso no mercado internacional atrelando metas ESG que envolvam o meio ambiente e o social. Três metas que até os grupo que investira ficou impressionado. Primeira meta: nós vamos reduzir até 2029, 15% da energia consumida, isso ajuda na questão do efeito estufa, 15% é muito porque nós vamos crescer e mesmo crescendo, vamos reduzir essa porcentagem; segunda meta: nós vamos alimentar o percentual de mulheres em cargos de liderança, considerando o cargo de gerente para cima, hoje nós estamos com 32% de mulheres ocupando esses cargos, a nossa meta é 45% de mulheres ocupando cargos de liderança até 2030; e a terceira meta é equidade racial, nós hoje temos 17% de negros e pardos ocupando cargos de liderança. O nosso objetivo é chegarmos a 27% de negros ocupando esses cargos, a meta maior que isso é aplicar no quadro funcional da Aegea, o que existe na sociedade brasileira, as cores do Brasil precisam estar nas cores das nossas unidades.