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Romeo y Julieta de Aramburo faz releitura do clássico de Shakespeare

Peça, uma releitura do clássico de Shakespeare com elementos da realidade social boliviana

O grupo Kinkteatr, da Bolívia, trouxe o espetáculo Romeo Y Julieta de Aramburo para o 14º Festival América do Sul Pantanal. A peça, uma releitura do clássico de Shakespeare com elementos da realidade social boliviana, foi apresentada na noite desta quinta-feira (24.5) no prédio histórico Casa Vasquez, em Corumbá.

Com elementos em cena que ressaltam o contraste entre o preto e o branco, uma comprida mesa com lençol branco, cercada de copinhos com leite, serviu de cenário para a atriz Camila Rocha, que fez o papel da Julieta. Seu figurino branco contrastou com Romeo, encenado pelo também diretor da peça, Diego Aramburo, todo vestido de preto. “O figurino cria o contraste entre Julieta e Romeo. Ter o preto no branco sempre é complementar. O branco reflete a inocência, as noivas com seu vestido branco. É importante criar”.

O diretor ressalta que a peça foi montada pelo grupo em 2007, quando a Bolívia tinha Evo Morales no Governo. “Era muito visível a divisão de classes sociais na Bolívia. No começo, o país era dividido pela cor de pele, hoje é muito mais forte isso, mas a divisão de gênero sempre existe”, diz Diego, se referindo ao fato de o público ser dividido, com as mulheres sentadas de um lado do palco, e os homens de outro. “A peça busca a reflexão sobre o fato de olhar o outro, do exercício sempre subjetivo do olhar. É importante que o público entre em contato com o olhar do outro público”.

A peça é uma adaptação, com a tradução do clássico de Shakespeare feita para o espanhol pelo próprio diretor, com uma releitura própria. “Além de uma briga entre duas famílias, buscamos a reflexão sobre a realidade social boliviana. Tem muitas crianças morando na rua, acredito que na América Latina é parecido também”, diz. A atriz Camila completa: “O processo de criação é muito rico, sob um olhar adolescente, o processo de destruição pelas drogas na adolescência. Na Bolívia mata-se por droga, por amor. É uma realidade latino-americana também”.

A Julieta da atriz de Cochabamba é muito intensa, tanto é que ela se cortou em uma das cenas em que usa um estilete, e tem elementos de sua experiência pessoal. “É real para mim a personagem, foi construída com conceitos que são parte de minha história. A história de amor com o diretor (Camila e Diego foram casados), é uma maneira honesta de sentir e encarnar”.

A trilha sonora é composta por música ao vivo de violoncelo, e a trilha sonora foi sugerida pela atriz, inclusive as músicas que ela canta em cena, em inglês. “O celo acompanha tudo, cria uma tensão, é uma presença muito forte, não só a presença musical, mas a presença física também”.

É a primeira vez do grupo no Fasp, e para o diretor, a diferença de idiomas falados pela Bolívia e pelo Brasil foi um obstáculo. “É um pouco difícil, como a linguagem não é igual, não há a possibilidade tão rica de compreender o tratamento diferencial que foi dado na tradução de Shakespeare para o espanhol. A gente fala muito rápido em alguns momentos… mas a recepção do público foi muito forte. Estamos muito agradecidos pelos aplausos, finaliza”.

(Informações Notícias MS)