Veículos de Comunicação

Entrevista

Cresce movimento pelo voto limpo

Entidades de classe e que reúnem autoridades se juntam para combater a corrupção nas eleições de outubro deste ano

Entidades de Mato Grosso do Sul lançaram, nesta semana, um movimento para combater crimes políticos. A campanha "Voto certo é voto limpo", que visa conscientizar a sociedade sobre os danos causados pela compra de votos,  pretende alcançar todos os municípios do Estado. O procurador regional eleitoral do Ministério Público Federal, Marcos Nassar, diz que a compra de votos é a exploração da pobreza e da ignorância de eleitores, que também cometem crimes ao negociar com políticos corruptos. 

 

Jornal do Povo – Como funciona a campanha? 

Marcos Nassar – É uma frente importante de enfrentamento aos ilícitos eleitorais que a gente tem em todas as eleições. Em 2012, a campanha foi “voto não tem preço e tem consequências” e em 2016 “voto vendido, futuro perdido”. Neste ano, vamos continuar combatendo e prevenindo a compra de votos, chamada corrupção eleitoral e também outros ilícitos comuns nas eleições.

 

JP – Os slogans são extremamente atuais e revelam consequências do que lá em 2012 já falavam.

Nassar – Exato. A compra de votos é um problema antiquíssimo no nosso país. A conduta do político, do candidato que compra, é em certa medida mais reprovável que a do eleitor que vende o voto. Na maioria das vezes, o candidato compra em larga escala e de formas variadas. O eleitor também pratica uma conduta reprovável em vender seu voto. Há casos de pessoa bastante pobre, que precisa daqueles R$ 100 para o gás, para pagar uma conta. Mas, não deixa de ser um crime eleitoral 

 

JP – Como será a campanha?

Nassar – A campanha está sendo feita pela internet, pelas redes sociais, pelos sites das entidades, das instituições organizadoras e dos apoiadores. Também teremos camisetas, outdoors, adesivos, e contamos com a divulgação pela imprensa.

 

JP – Como os pré-candidatos estão se portando até esse momento?

Nassar – Já identificamos alguns abusos, em especial em relação a outdoors. Tomamos algumas providências e temos apurações em andamento na Procuradoria Regional e no Ministério Público federal. 

 

JP – Há descrença, de desanimo nesta eleição?

Nassar – Isso é um problema do componente cultural. As pessoas não fazem a ligação direta do voto com a qualidade dos serviços públicos que receberão. Porque, esse candidato que hoje compra votos, que pratica ilícitos eleitorais, se tornará o mandatário amanhã. O gestor público corrupto, alimenta a corrupção essa que drenará os recursos que deveriam ir para saúde, educação, saneamento básico, segurança pública e outros serviços essenciais dos quais dependem especialmente as pessoas pobres. Então, essas pessoas pobres, que normalmente vendem os seus votos, são as que mais sofrem depois pela má qualidade do serviço público. 

 

JP: Mudando de assunto, a operação Lava Jato é resultado de trabalho do MPF?

Marcos: Sim. É um grande avanço, algo que pudesse dizer inédito no país, uma iniciativa acima de tudo republicana, porque faz com que a lei seja aplicada a pessoas que eram consideradas intocáveis. Mas, não é suficiente, não é a operação que vai mudar o país, que vai mudar essa cultura da qual nós estamos falando. É preciso mais, é preciso avançar, é preciso que as pessoas acreditem que seu o voto pode fazer a diferença, porque se a maioria tiver essa crença sem dúvida o voto realmente fará a diferença.