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Enfim

Editorial: Enfim, o ano começou!

Vem ai, as Olimpíadas e as Paralimpíadas do Rio; as eleições municipais, a quase incontável lista de feriados, dias sanificados e pontos facultativos

O ano de 2016 começou, em primeiro de janeiro, com um calendário repleto de eventos no país. Vem ai, as Olimpíadas e as Paralimpíadas do Rio; as eleições municipais, a quase incontável lista de feriados, dias sanificados e pontos facultativos estaduais e municipais – só em Três Lagoas uns 30 dias assim nesse ano entre os nacionais, sem contar as folgas que fazem pontes entre dias úteis e feriados, invariavelmente em fins de semana. Diante desta constatação é inevitável o disparo de uma frase jargão muito conhecida de todos: “o ano só começa depois do Carnaval”. 
Como aquelas “lendas urbanas”, essa postura brasileiríssima e absolutamente intrigante altera o comportamento das pessoas. E passa ser uma “verdade”.
Uma avaliação fria e racional sobre esta questão leva-nos à constatação de que este tipo de este comportamento não é nada saudável, porque inevitavelmente prejudica o andar da economia. Para agravar mais este clima de inércia, as pessoas deixam para traz obrigações e funções e adotam a insuportável afirmação “só depois do Carnaval”.
É nesse tipo de raciocínio e comportamento que não se gera emprego, não se cumpre metas, não se conclui projetos e não se busca resultados. O mau exemplo começa verticalmente desde o Congresso Nacional, assembleias legislativas e câmaras municipais. Nenhuma sessão importante ocorre nas Casas Legislativas antes do Carnaval.
No Judiciário é mais ou menos igual, com a diferença básica de que há sempre um juiz, desembargador e um promotor de Justiça no plantão para atender com urgência casos que são submetidos à sua apreciação. O recesso dos Poderes em todos os âmbitos começa pouco antes do antes do Natal. E, depois se reinicia durante o reinando de Momo, quando acontece bailes carnavalescos, apresentações de escolas de samba e blocos pelas ruas e avenidas na maioria das cidades brasileiras. 
Mesmo sendo o poder que arrecada tributos e ordena gastos, o Executivo não fica muito atrás no hábito de paralisar suas atividades neste período. Em prefeituras, principalmente, expedientes são cortados ao meio, senão cancelados integralmente, para desespero de quem precisa de um documento, de uma certidão de um órgão público municipal e, evidentemente, de quem precisa de médico em um postinho de saúde ou de remédio em uma farmácia pública.
Em Mato Grosso do Sul, onde o expediente da maioria das prefeituras e repartições do governo estadual funciona menos de seis horas por dia, a gazeta entre o Natal e o Carnaval bate na casa dos 20 dias parados. Mas, os cidadãos e as empresas continuam pagando impostos sem nenhum dia de folga. 
Mas, não é somente o setor público contaminado pela “sensação” de que não é preciso fazer mais nada porque é final de ano e também porque o Ano Novo começa só depois do Carnaval. Esta prática brasileira atrapalha e prejudica o setor privado. Trabalhadores e até empresários são induzidos a entrar na onda de que nada acontece entre 20 de dezembro e a Quarta-feira de Cinzas. Empresas inteiras ficam fechadas, mesmo não sendo período de férias coletivas de trabalhadores.  E quem ganha com isso? O trabalhador parado, a empresa fechada, o governo? Quem?
O Brasil terá mais de 30 dias de feriados, nesse ano, por conta de decretos federais, estaduais e municipais, além das “pontes” entre datas solenes e finais de semana. Um prejuízo de trilhões de dólares. Podem ser períodos de descanso físico importante, mas são profundamente danosos para a saúde financeira do setor privado e do país. Nenhuma empresa pode se dar ao luxo de paralisar sua produção por um mês, porque, afinal, nenhum tributo ou custo fixo deixa de ser cobrado no período.
Depois desta reflexão, é inevitável questionar se não seria esta uma das causas de o país patinar ano após ano e não registrar índices consideráveis de crescimento? Não seria esta uma das causas do desemprego, da pequena oferta de oportunidades e até do peso que os tributos causam sobre o “custo Brasil”? Certamente que sim.
Mas, prosseguindo, acabar com os feriados e com as pontes com finais de semana seria a solução? Talvez. Mas, quem faria isso? Nenhum governante depois do ex-presidente José Sarney teve coragem de mexer nesse vespeiro. Foi dele uma iniciativa, derrubada logo depois no Congresso, de acabar com feriados no meio de semana. As reações foram agressivas contra a medida. Hoje não seria diferente e alimentaria a impopularidade de governantes. Pior para o país, melhor para políticos.
A paradeira entre o Natal e o Ano Novo faz parte do “jeitinho brasileiro” de governar, de brasileiros serem governados e de avaliações de motivos de o país seguir líder absoluto do Terceiro Mundo e de tudo o que isso possa representar de ruim, de atrasado e de desprezível.