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Editorial - Liberdade de expressão e religião

Jornal foi alvo de um atentado terrorista

Nesta semana a imprensa mundial ‘parou’ para acompanhar o triste acontecimento com o periódico parisiense Charlie Hebdo. O jornal sátiro, que se destaca com suas charges, foi alvo de um atentado terrorista que resultou na morte de 12 pessoas, desse total oito de seus jornalistas e chargistas.

A ação terrorista desencadeou uma série de operações na França, que resultaram na morte dos dois irmãos suspeitos de serem os autores do atentado. No restante do mundo, levantou-se  nova discussão sobre liberdade de expressão. Embora estejamos  a milhares de quilômetros de distância, este fato deplorável fere a imprensa em todo o mundo. Nós do  Jornal do Povo, sempre repudiamos qualquer tipo de cerceamento à liberdade de expressão, o direito de informação, enfim, propugnamos pela veiculação da informação com credibilidade. E mais, qualquer ação que resulte em agressão e até em mortes de jornalistas como é o caso ocorrido no periódico parisiense.

O número de jornalistas assassinados todos os anos não é pequeno.  No ano passado, 118 profissionais perderam suas vidas em ataques com bomba ou incidentes de fogo cruzado em todo o mundo. Os dados são da Federação Internacional de Jornalistas (FIP) e aponta um crescimento em comparação ao ano anterior, quando 105 jornalistas haviam sido mortos em algum tipo de confronto.

A Palestina aparece no topo da lista com maior número de mortes em jornalistas. No entanto, em 2014, registrou 25 assassinatos de profissionais da imprensa na América Latina. Por aqui, não é diferente. Embora as questões  que atentam contra jornalistas e o exercício da profissão não envolvam disputas religiosas, questões políticas e a luta contra o narcotráfico acabaram por ceifar a vida de muitos jornalistas. Mato Grosso do Sul não está fora dessa lista.

A situação é grave e precisa ser combatida à altura. No caso  de Paris, é preciso discutir a questão da intolerância, seja política ou religiosa. Nada justifica a morte de 12 pessoas, muito menos usar o nome de Deus para ceifá-las.

A questão eram as charges de Maomé, que desde 2006, vinham sendo alvo de críticas pela comunidade muçulmana. O periódico também satirizou o papa, e por isso,  foi alvo de ações judiciais.A França, que garante nação livre e democrática, não se intrometeu.  Críticas, opiniões, juízo de valor enfocados por quem quer que seja e veiculadas na imprensa, podem no Estado democrático ser objeto de discussão no âmbito do  judiciário, que alisará a intensidade dessa crítica e se esta afronta a moral, a ética, os bons costumes, se trouxe ou não prejuízos às pessoas envolvidas  em seus comentários, se houve ou não intenção deliberada de prejudicar ou ofender.  Para quem não se conformar , portanto, há o remédio jurídico que pode ser utilizado em qualquer país democrático. O estado democrático é laico, e não tem como interferir em questões religiosas. Atender à pressão de fundamentalistas, é ceder a irracionalidade.

Esse episódio pode resultar em um agravamento nas relações já conturbadas entre muçulmanos e a comunidade europeia e de muitos outros países aliados ideologicamente e por razões comerciais. Esse atentado só contribui para aumentar a intolerância entre os povos, insuflando mais o ódio, que não pode ser generalizado a todos os que professam a religião de Maomé. É certo que a maioria quer paz e tranquilidade e não pensa e nem age como estes terroristas, os quais mais se aproximam da inconsequência do que na defesa de seus ideais, sejam religiosos ou de conduta.  A maioria não é terrorista, aliás, estes são a minoria. Nem o Alcorão, nem a bíblia e nem o Torá pregam a violência,  a segregação ou xenofobia. A diferença está na interpretação de quem lê e, principalmente, de quem dissemina ideias.

A luta dos veículos de comunicação e, caso haja interesse, das religiões em si, é de lançar luz sobre esses fatos e levar conhecimento à população. Apenas através desse entendimento, é que as intolerâncias poderão ser minimizadas para a construção de uma sociedade mais justa e fraterna.