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Opinião

A máquina brasileira de moer professores

Escolas públicas em todo Brasil vêm-se transformando numa verdadeira máquina de moer professores

*Wilmara Cristina Gomes

Ano a ano, as escolas públicas em todo Brasil vêm-se transformando numa verdadeira máquina de moer professores. Parece ser esse o sentimento do professor lotado na rede pública de ensino. Hoje, pensando em melhorar a renda, um professor trabalha muito; em média, ele necessita ministrar 33 aulas semanais e cumprir 7 horas de aula/atividade exigidas pela lei.

Cabe lembrar que os salários pagos para a maioria dos professores brasileiros são baixos; o trabalho, estressante e perigoso.

No tempo em que os autores deste artigo passaram pelo ensino fundamental, as condições de ensino-aprendizado eram mais favoráveis. Ainda havia estímulo para a vocação, dedicação, compromisso e competência dos nossos mestres, e o ambiente era favorável ao aprendizado, mas, nos tempos considerados modernos, da revolução da tecnologia da informação, a situação mudou – e o professor encontra-se no meio do labirinto, sozinho, tentando achar uma saída. Os problemas da sociedade correram para dentro da sala de aula – e o professor precisa resolvê-los antes, para depois ensinar.

Resumidamente, dentre outros fatores, três problemas ou condições desfavoráveis ao ensino têm afligido o professor:

1. O desrespeito, por pares, pais e alunos, ao ofício de professor. Os próprios pares desonram a profissão: para alguns, a principal preocupação não é o aprendizado e, pois, desistem, rapidamente, de transformar a realidade de seus alunos. O comportamento dos alunos também tem piorado, e um dos motivos é a falta de correção e apoio dos pais às coisas erradas que seus filhos andam fazendo na escola. Na verdade, alguns pais jogam seus filhos nas escolas – e são os professores que devem educar. Passam a responsabilidade e, às vezes, o problema adiante.

2. O uso indevido da tecnologia da informação: o professor ganhou um concorrente de peso, o smartphone. Enquanto as escolas oferecem infraestrutura tecnológica precária, internet na velocidade da tartaruga, os alunos manipulam seus equipamentos sofisticados durante o horário das aulas. Não é uma simples questão de falta de autoridade; é mais um problema da sociedade, o vício tecnológico, que adentrou os muros da escola – e o professor tem que enfrentar.

3. A ineficácia e ineficiência das políticas públicas. É preciso fazer as coisas certas com desperdício mínimo de recursos. Falta visão sistêmica aos gestores, formuladores e executores das políticas que deveriam melhorar a gestão escolar. Secretários de educação, planejadores, diretores, coordenadores, professores, técnicos administrativos, pais, alunos, sindicatos e outros interessados precisam trabalhar pela mesma causa de forma coordenada. Não há mais espaço para amadores ou desperdício de recursos.

Na esfera pública, há um abismo entre quem planeja e quem executa as ações. Os planejadores ou formuladores das diretrizes, na maioria das vezes, estão distantes da ação e não conhecem a realidade das salas de aula e das secretarias das escolas. Em Mato Grosso do Sul, por exemplo, o professor da Rede Estadual de Ensino deve apresentar o plano de ensino da sua disciplina praticamente todos os meses do ano. Nitidamente, percebem-se duas distorções: a primeira, relacionada ao prazo de entrega, que é o mesmo para quem ministra três, cinco ou dez disciplinas em turmas diferentes. A segunda distorção é a evidente preocupação em controlar o professor e não em melhorar o ensino ou a aprendizagem. No Paraná, os professores foram espancados durante uma manifestação. São Paulo vive uma greve de mais de dois meses e não de diálogo com o governo.

            Os problemas de natureza gerencial ou operacional nas secretarias de educação e nas unidades escolares multiplicam-se dia a dia, mas é possível, enfrentá-los. Não basta, porém, vontade; é preciso coragem e competência para mudar a realidade das escolas, pois a moagem de professores caminha para uma produção em massa.