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Narcotráfico

Segurança na fronteira é reforçada após prisão do "Fantasma"

Prisão de Caio Bernasconi foi realizada no momento em que ele trocava de aeronave em uma pista na área rural de Ponta Porã

Uma das aeronaves apreendidas com Caio Bernasconi - Divulgação/PF-MS
Uma das aeronaves apreendidas com Caio Bernasconi - Divulgação/PF-MS

A Polícia Federal prendeu nesta segunda-feira (02/05), em Ponta Porã-MS, na fronteira com o Paraguai Caio Bernasconi Braga, conhecido como o "fantasma da fronteira" e braço direito de um dos maiores narcotraficantes da fronteira Brasil-Paraguai.

Caio era procurado desde 2015 e foi preso quando trocava de aeronave na pista de uma área rural. Os dois aviões de pequeno porte foram apreendidos e a PF constatou que um deles pertence a uma empresa de aviação agrícola do município fronteiriço.

Em 2018 Caio chegou a ser localizado pela PF na capital paulista mas conseguiu fugir no momento da prisão ao  jogar o carro que dirigia em cima dos policiais federais que por pouco não foram atropelados. 

Em 2020, ele teve outra prisão decretada após ser denunciado na Operação Além-Mar, uma megaoperação da Polícia Federal deflagrada no estado de Pernambuco. De acordo com as investigações, Caio era responsável por atravessar carregamentos de cocaína do Paraguai e também por enviar a droga em contêineres de frutas destinados à Europa.

Em uma das denúncias feitas pelo Ministério Público consta a informação sobre a descoberta de duas toneladas e meia de cocaína, em apenas um contêiner enviado por uma empresa ligada a Caio. Esse carregamento foi apreendido no porto de Rotterdam, na Holanda.

Para não ser descoberto, o "fantasma da fronteira" se identificava como agente comercial e usava o nome falso de Wilhiam Alexandre Cespedes Prieto. De acordo com as investigações, Caio é ligado à quadrilha chefiada por Sérgio de Arruda Quintiliano Neto, o "Minotauro", preso há quatro anos.

MINOTAURO

O narcotraficante Sérgio de Arruda Quintiliano Neto, o "Minotauro", é apontado como um dos chefes do Primeiro Comando da Capital (PCC). Ele foi preso em Camburiú, Santa Catarina, em 2019, e permanece no cárcere.

O esquema criminoso entre Caio e Minotauro começou no interior de São Paulo quando eles ainda eram jovens. Em 2018 os dois foram condenados, num mesmo processo da Justiça paulista, por comandarem um esquema de tráfico de drogas. A Polícia Federal já investigava a dupla cinco anos antes.

Caio e Minotauro montaram um esquema de tráfico de drogas desde a fronteira Brasil-Paraguai, a partir de Mato Grosso do Sul, passando pelo interior de São Paulo até chegar à Baixada Santista.

OPERAÇÃO ALÉM-MAR

A operação Além-Mar, realizada em agosto de 2020, mobilizou aproximadamente 630 policiais federais. Durante as investigações, a PF encontrou 32 empresas em comum entre Caio e Minotauro, usadas para lavagem de dinheiro do narcotráfico. Entre as empresas descobertas constam até mesmo corretoras de criptomoedas.

Na época, a Justiça Federal determinou que fossem cumpridos 139 mandados de busca e apreensão e 50 mandados de prisão (20 prisões preventivas e 30 prisões temporárias). Os mandados foram dirigidos a endereços e pessoas localizados em 13 estados (AL, BA, CE, DF, GO, MS, PA, PB, PE, PR, RN, SC, SP).

Também foi realizado o sequestro de aviões (7), helicópteros (5), caminhões (42) e imóveis (35) urbanos e rurais (fazendas) ligados aos investigados e ao esquema criminoso, além do bloqueio judicial do valor de R$100 milhões.

Quatro organizações criminosas autônomas, atuando em conexão, viabilizavam o esquema de tráfico internacional de drogas investigado na atual operação, por meio do qual toneladas de cocaína foram exportadas para a Europa via portos brasileiros, especialmente no Porto de Natal-RN.

A primeira célula do grupo, estabelecida em São Paulo/SP, transportava cocaína através da fronteira Brasil- Paraguai, por via aérea, até o estado de São Paulo, distribuindo-a no atacado para organizações criminosas estabelecidas no Brasil e na Europa

A segunda, estabelecida em Campinas-SP, parceira da anterior, recebia a cocaína internalizada no território nacional para distribuição interna e exportação para Cabo Verde e Europa.

A terceira, estabelecida em Recife/PE, era integrada por empresários do setor de transporte de cargas, funcionários e motoristas de caminhão cooptados, e provia a logística de transporte rodoviário da droga e o armazenamento de carga até o momento da ocultação nos containers.

A quarta parte da organização criminosa, estabelecida na região do Braz, em São Paulo/SP, atuava como banco paralelo, disponibilizando sua rede de contas bancárias (titularizadas por empresas fantasma, de fachada ou em nome de “laranjas”)  para movimentação de recursos de terceiros, de origem ilícita, mediante controle de crédito/débito, cujas restituições se davam em espécie e a partir de TEDs, inclusive com compensação de movimentação havida no exterior (dólar-cabo).

Prisões em flagrante e apreensões de drogas ao longo das investigações caracterizaram um modus operandi dividido em três fases: entrada da cocaína pela fronteira com o Paraguai e armazenamento no interior de São Paulo; transporte interno da droga para as regiões de embarque marítimo e armazenamento em galpões; transporte internacional mediante embarque da droga em navios de carga (contaminação de containers) ou veleiros.

Durante a fase sigilosa das investigações foram presas 12 pessoas e apreendidas mais de 11 toneladas de cocaína, no Brasil e na Europa, relacionados ao esquema criminoso. Dentre esses presos  estava um grande traficante, que permaneceu foragido da justiça brasileira por 10 anos e era procurado pela Polícia Federal e pela National Crime Agency – NCA, do Reino Unido. Ele foi preso em Jundiaí-SP em março de 2019.

As investigações foram iniciadas no ano de 2018, a partir de informações difundidas à Polícia Federal pela National Crime Agency – NCA, como resultado de parceria estabelecida para reprimir o tráfico de cocaína destinada à Europa.

Mesmo durante o pior momento da pandemia da Covid-19, diante da situação de emergência de saúde pública e o isolamento social imposto, o esquema criminoso não foi interrompido, tendo sido apreendidos, entre os meses de março/20 e julho/20, mais de 1,5 tonelada de cocaína.