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FURARAM MEU BOLSO, GOVERNO CORRUPTO

"Fora corruptos" ou " Para a roubalheira ou paramos o Brasil”

*Karina Fernandes Daniel e Alexander José Gomes Conehero

"Fora corruptos" ou " Para a roubalheira ou paramos o Brasil”.  Nos últimos meses, discursos como estes ecoaram pelas ruas de todo o Brasil. A insatisfação do brasileiro com a atual gestão do país é gritante. As movimentações no cenário político, diretamente ligadas com as transações econômicas escusas, despertaram na população certo cansaço e indignação com tanta roubalheira e as suas conseqüências. Neste âmbito de revolta social é que surge a questão: desde quando a sociedade brasileira se tornou tão ética e intolerante ao ato de corrupção?

“Caía a tarde feito um viaduto […]” na canção O Bêbado e o Equilibrista, de 1979, interpretada magistralmente por Elis Regina, os autores João Bosco e Aldir Blanc, além de homenagear a morte de Charles Chaplin (natal de 1977), trouxeram críticas ao contexto social da época, então sob o jugo ditatorial. Considerada o Hino da Anistia, a canção expressava com certo eufemismo também a tragédia do desabamento do viaduto Paulo de Frontin, no Rio de Janeiro, sobre automóveis e pedestres, onde morreram 29 pessoas. Denúncias traziam notícias de materiais desqualificados, comprados por baixo custo, pois o dinheiro para a obra pública havia sido desviado.

Se traçarmos uma linha do tempo entre as transações econômicas e relações políticas brasileira, veremos que a corrupção não é nova. Nas palavras de Amauri Teixeira "A corrupção do Brasil é estrutural, ela não é apenas do governo", ou seja, está intrínseca na estrutura da sociedade brasileira, é personagem cotidiana.

Nos dias atuais acompanhamos de perto um escândalo que indigna o Brasil e inflama a ética e a boa fé dos brasileiros.

A Operação Lava Jato, que clareou o uso ilegal, da até então maior empresa brasileira, na produção de dividendos para os partidos e empresas envolvidas, fez com que a população se manifestasse, em especial pelas manobras evidentes do Governo Federal em atrapalhar as investigações.

Durante o escândalo do Mensalão, com desvios vultosos de verbas públicas para a compra de votos favoráveis por parte do Congresso Nacional aos projetos do Governo, não houve qualquer manifestação da população.

O que então difere o escândalo de 2012 (Mensalão) do atual (Lava Jato)? Por que não se bateram panelas naquela época? A corrupção de 2012 não precisava ter fim, como precisa a de 2015? Ou o brasileiro de 2012 não era tão ético como brasileiro de hoje? Ou ainda, o brasileiro de 2015 teve seu limite alcançado pelo acúmulo de escândalos?

Comparando os momentos, em 2012 vivíamos um momento de estabilidade econômica e crescimento, diminuto, mas contínuo. Todavia, o escândalo do Petrolão se juntou à ressaca do Mensalão, sucessão eleitoral, estelionato político, tropeços governamentais e diversos outros menores casos de corrupção. Tudo antevia uma queda brutal na economia brasileira e isso refletiu no bolso de todos e fez com que o “gigante” despertasse.

Observa-se, contudo, uma mudança na postura do brasileiro de 2012 e de 2015 e pergunta-se: a corrupção de 2015 tornou os brasileiros éticos e probos, altamente intolerantes a condutas corruptas ou o sentimento de ética do brasileiro só aparece quando há prejuízo a ele?

Esta revolta social em busca de um país sem corrupção abre um leque de questionamentos a respeito do que o brasileiro entende por ética. Queremos mesmo que o nosso governo seja ético ou queremos simplesmente que ele não prejudique nosso bolso?

O brasileiro para em fila dupla, fura fila, arredonda troco em seu favor, arruma pequenas desculpas para todas as suas falhas etc. É cultural, mas também contraditório, pois são estas pessoas que se insurgem contra a corrupção.

Não há dúvida de que a corrupção prejudica o país como um todo, afetando principalmente aqueles que dependem de políticas públicas nas áreas da educação, saúde e segurança. Os mais abastados também sofrem, pois buscam e necessitam os mesmos serviços no setor privado, sem, contudo, se desvencilhar dos encargos tributários. Em suma, pagam por produtos e serviços que não estão disponíveis. Esta visão cultural da vantagem, sempre propiciará com que a corrupção seja protagonista do Brasil. Pode-se trocar e trocar governos, pode-se acabar com as panelas de tanto bater, mas enquanto não houver uma mudança cultural e legal acerca do assunto, patinaremos em avançar o país que ainda beneficia poucos, mas é de todos.