Alguns fatores fizeram com que o preço da carne bovina subisse de 2014 para cá, levando o consumidor três-lagoense a migrar da carne de primeira para os cortes de segunda e até mesmo para a carne suína e de frango, que tem custo menor.
O comerciante do ramo, José Carlos Dias disse que além da migração do consumidor para carnes mais baratas, ainda houve redução de cerca de 30% no volume de consumo. “A redução é nítida e vem acontecendo desde o início deste ano”, destaca o comerciante.
A migração dos tipos de carne José Carlos afirma que atingiu em torno de 40% dos consumidores, no caso daqueles que deixaram a carne de primeira e estão comprando os cortes de segunda. Ainda segundo ele, as pessoas que trocaram a carne vermelha pela branca são representadas por 30% dos consumidores. “Quem fazia churrasco com carne de primeira, hoje faz com a de segunda. Antes era comum aquele movimento nos fins de semana de turmas de amigos e familiares indo para o rancho. Hoje esse costuma é mais raro”, ressalta.
O comerciante cita que a alta no preço, aliado aos demais reajustes de impostos e bens de consumo também tem refletido no quadro de funcionários. “Não cheguei a demitir, mas dois funcionários pediram demissão e optamos por não contratar novos, com isso nosso quadro de funcionários diminuiu 20%. Inclusive cheguei a antecipar e a dar férias coletivas.
Antonio Carlos Alástico, que também é proprietário de açougue cita que também notou que em seu estabelecimento cerca de 30% dos clientes têm preferido levar para casa o frango e a carne suína, principalmente as pessoas de menor poder aquisitivo. “Quem pode comprar carne de primeira, não deixa de consumir o que gosta. Vai e compra, independente da alta no preço”, avalia Antonio Carlos.
Um proprietário de frigorífico que abastece os açougues e supermercados de Três Lagoas afirma que percebeu a queda nas encomendas de abate, de aproximadamente 30%, de 2014 para 2015.
SINDICATO RURAL
O presidente do Sindicato Rural de Três Lagoas, pecuarista Marco Garcia, lembra que, um dos reflexos para a alta no preço da carne bovina deve-se ao grande abate das matrizes entre 2008 e 2012, no Mato Grosso do Sul, fazendo com que os pecuaristas encontrassem dificuldade para recompor o rebanho, levando à falta de animais aptos para serem abatidos e assim abastecer frigoríficos e consequentemente revendedores do produto.
Marco também cita a crise econômica no Brasil, como outro fator para a alta do preço. “Hoje a pecuária sofre reflexo direto da crise econômica. Em 2014 a economia ainda não havia sentido essa crise. A exportação estava 20% maior e neste ano cai, sem contar que o consumo interno deu uma reduzida. O valor da arroba do boi subiu em virtude da falta de bovinos, mas de dois meses para cá, o preço vem caindo. A queda já chegou em 10% nos últimos dois meses.
Para o pecuarista, dependendo do cenário econômico dos próximos anos, pode ser que daqui, dois ou três anos, o valor da carne vermelha volte a baixar.
Outro tema abordado por Marco é a migração da pecuária para as culturas da região, como é o caso da cana, soja e eucalipto. “A expansão dessas culturas aconteceu até o ano passado, mas de lá para cá, com o retorno da rentabilidade da pecuária, o interesse por disponibilizar áreas rurais que não seja para a pecuária, estabilizou o cenário. Ninguém sai de uma atividade que voltou a dar lucro”, finaliza Marco Garcia.