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Editorial: Sem definição de prioridades para Três Lagoas

Prefeitura deveria ter, ao menos, tentado solucionar a deficiência

O Jornal do Povo revelou há poucos dias, com exclusividade, que a Prefeitura de Três Lagoas não se integrou a um programa estadual para a construção de casas populares, mesmo que isso lhe custasse apenas a definição de uma área pública de tamanho equivalente. O espanto foi geral quando a notícia estampou a capa do jornal e foi postada na fanpage do Grupo RCN de Comunicação, na internet.

E não era para menos. O leitor sentiu-se indignado ao saber que esta cidade, no ano de seu primeiro Centenário e considerada uma das mais importantes do Estado do Mato Grosso do Sul e do País, não dispõe de áreas destinadas à construção de casas populares.

Quarenta cidades sul-mato-grossenses aderiram ao programa; todas, como Três Lagoas, têm elevado déficit habitacional. Na cidade, mais de 14 mil candidatos a uma casa estão aguardando em fila a oportunidade de ver o poder público lançar um programa que contemple unidades em número e qualidade suficientes. Mesmo que esse déficit não seja zerado, certamente o programa do governo estadual contribuiria para baixar esse número que não é pequeno para uma cidade como a nossa, que recebe gente de todos os quadrantes do país.

Mas não. A Prefeitura de Três Lagoas simplesmente disse que não tinha área disponível para se integrar ao programa. Pior, evidenciou não ter política pública de programa habitacional, porque se não tem área disponível, sequer está na fila de projetos para serem aprovados a construção de mais unidades habitacionais para famílias de baixa renda. Simplesmente disse que não tinha área disponível e deixou de integrar o programa do governo estadual.

Isso demonstra que a cidade não possui apenas déficit de casas ou de terrenos para obras. Faltam também planejamento e definição de prioridades. Construir casas para as pessoas que são atraídas à cidade para trabalhar deve ou não ser uma prioridade da administração estadual?

A matemática para isso é bastante simples. Basta levantar o índice de crescimento econômico da cidade e os investimentos que atrai anualmente – o que a coloca entre as que mais crescem no País – e a quantidade de pessoas que se instalam aqui para trabalhar.

O resultado dessa equação absolutamente simples é o que define as prioridades do município. Do contrário, dá nisso que se vê com a falta de área para se construir mais casas para famílias de baixa renda. A possibilidade de reduzir o déficit habitacional, proporcionando mais condições de crescimento à cidade, como se constata, esbarra num obstáculo minúsculo diante da capacidade de desenvolvimento de Três Lagoas. Será que é difícil admitir que administrar uma cidade, uma empresa ou até uma casa é, também, se precaver de dificuldades e desafios?

Uma família quando planeja ter mais filhos pensa, primeiro, na estrutura da casa onde mora. Quando isso não ocorre, filhos são obrigados a dormir no quarto dos pais, na sala ou até na varanda. Não é isso o que esperam as pessoas que vêm para Três Lagoas e não é isso o que merecem os cidadãos que fazem parte deste Centenário.

A prefeitura deveria ter, ao menos, tentado solucionar a deficiência, quem sabe com a desapropriação de uma área. Mas, ao que se sabe, a administração deixou sem resposta até a Secretaria estadual de Habitação. A falta de prioridades atinge, portanto, a comunicação oficial da prefeitura. E contamina a comunicação com o cidadão comum, que também está até agora sem uma resposta.

A construção de casas populares é item obrigatório de qualquer plataforma de trabalho, como certamente fez parte de todas as campanhas eleitorais realizadas em Três Lagoas. Trata-se de quesito indispensável para a composição de qualquer boa gestão, ao lado dos indispensáveis investimentos em educação, saúde, segurança etc.

Quando a prefeitura deixa de responder ao governo, deixa o cidadão a ver navios e ignora um déficit habitacional que supera aos 10% de sua população. Considerando-se apenas uma inscrição para obtenção da sonhada casa própria para a família, fica evidente que o elenco de prioridades não está definido e que as necessidades da cidade não estão definidas nem são consideradas urgentes. Trata-se de ocorrência grave, diante de uma situação que projeta investimentos industriais na ordem de R$ 17 bilhões para os próximos anos. E é evidente que o desenvolvimento industrial atrairá mais gente para cá. Onde morarão é uma questão ainda sem resposta.