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Editorial: Devolução de impostos em forma de benefícios

Nas ruas onde o defeito de engenharia ocorreu deveria haver placas com os nomes de quem promoveu o desperdício para que o povo não se esquecesse deles

Poucas vezes uma fotografia conteve tantos contrastes como a publicada na capa do Jornal do Povo, em sua edição de ontem. A imagem de autoridades políticas de Três Lagoas em uma das muitas ruas enlameadas da cidade só não choca mais porque o fundo da reportagem é de uma boa notícia. Afinal, não é sempre que uma prefeitura consegue arrancar dinheiro do governo estadual para obras de infraestrutura, especialmente as que não contêm placas de inauguração e que acabam se integrando à vida da comunidade. É histórica a “preferência” de políticos por prédios, praças etc.

O choque da imagem é ver que pessoas que, como o povo, sabem das dificuldades geradas pela falta de infraestrutura foram lá, no meio da lama, registrar que conhecem mesmo o problema. Felizmente, desta vez, para anunciar uma solução, mesmo que parcial.

A verdade é que a cidade carece de muito mais que os R$ 3 milhões liberados pelo governo estadual para asfaltamento e recapeamento. A necessidade gerada por anos de falta de investimento exige, hoje, um gasto astronômico para eliminar a necessidade. O ideal para a cidade é que a infraestrutura chegasse antes que os moradores, a construção de casas etc.

Entre os alívios que este empenho dos políticos promove está o de saber que ao menos em parte das ruas não será necessário “quebrar nada” para construir o asfalto, como ocorreu em tantas outros, em que as redes de água e de esgoto chegaram depois e todo o pavimento teve de ser rasgado.

Nas ruas onde o defeito de engenharia ocorreu deveria haver placas com os nomes de quem promoveu o desperdício para que o povo não se esquecesse deles.

A ida de autoridades da prefeitura, da Casa Civil do Estado e da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul às ruas sem asfalto ainda deixa outra marca latente. A de que a infraestrutura faz parte da qualidade de vida da população. Sem asfalto, água encanada, esgoto coletado e tratado e sem luz, uma cidade não pode ensejar possuir um título de que trata bem seus cidadãos.

No caso de Três Lagoas, os investimentos em infraestrutura ainda carregam um detalhe saliente: a cidade vende a imagem de que é progressista, avançada, geradora de emprego e renda. Por isso, não pode conter em seus retratos imagens de ruas que ainda seriam dignas de vilarejos, de localidades atrasadas.

É certo que um empresário que almejar investir em uma cidade optará, sem dúvida, por aquela que comprovar seus investimentos em qualidade de vida. Hoje, e finalmente, não é só “o povo” que reclama de ruas de terra, por exemplo. Empresários, gestores em geral e investidores já sabem que isto é indispensável para que as famílias – e seus membros trabalhadores – vivam bem.

E é interessante registrar que não se faz nenhum favor aos contribuintes quando um governante se esforça para obter caminhos de melhora da cidade que governa. Como servidor público muito bem pago, o político tem obrigação de buscar meios para isso, seja através de contatos no governo estadual ou de articulações no federal. Mais ainda quando se trata de uma cidade como Três Lagoas que é altamente geradora de impostos para os dois principais níveis de governo.

O envio de recursos oficiais à prefeitura da cidade é somente a devolução de uma pequena parte do que a cidade produz e envia aos governos federal e estadual, na forma de impostos e tributos em geral. Receber e usar bem os R$ 3 milhões liberados pelo governador Reinaldo Azambuja é obrigação dos governantes municipais, incluindo a fiscalizadora Câmara em favor de quem, muito antes, contribuiu para o caixa do Estado.