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Cordialidade marcou criação de MS, diz ex-deputado que defendeu divisão

Não se confirmou nenhuma previsão de hostilidades entre MT e MS, afirma Costa

Com o processo de divisão do Estado do Mato Grosso em duas unidades federativas, ocorreu a fundação do Mato Grosso do Sul. Esse processo ocorreu no dia 11 de outubro de 1977 – completando hoje, portanto, 38 anos – com a sanção do presidente da República na época, o general Ernesto Geisel. 

O Brasil vivia a ditadura militar, instalada havia 13 anos. Tudo era bastante complicado quando se tratava de negociar com o governo – especialmente em um caso em que as opiniões eram tão divididas, ao menos em aparência. 

Na prática, a rivalidade que se supunha não ocorreu e o clima de cordialidade marcou a decisão governamental de criar um estado a partir da divisão de outro totalmente estabelecido, organizado e forte. 

A divisão em questão só foi concretizada efetivamente em 1º de janeiro de 1979. Na passagem dos dois anos, entre esta data e a assinatura de Geisel, o Mato Grosso demonstrou que concordava com “o corte na pele”, como a divisão foi chamada. 

A razão, dizem pessoas que viveram à época, era a redução de gastos com manutenção do governo no sul. Então, a criação de um novo estado significava alívio, desobrigações e o passo adiante que o progresso do Centro-Oeste projetava.

A avaliação é do ex-deputado federal Edward Reis Costa, que permaneceu no cargo por 12 anos seguidos, sempre pela extinta UDN (União Democrática Nacional). “Preponderou um clima de cordialidade, que construímos ao longos do anos, envolvendo autoridades das duas regiões – com o governo militar – e não se confirmou nenhuma previsão de hostilidades. Foi um acontecimento de grande importância para todos nós, visto que a criação de Mato Grosso do Sul  já representava um impacto significativo ao desenvolvimento de todo o Centro-Oeste. Temos nesta data inúmeros motivos para comemorar, tanto em Mato Grosso do Sul como em Mato Grosso”, disse.

Proposta gerou divisões políticas, mas foi solucionada com diplomacia

Como em todas as situações em que se exige sacrifícios, a divisão do Estado Mato Grosso produziu defensores e críticos. Entre os argumentos favoráveis, muito se falou da perspectiva de maior desenvolvimento da região emancipada. Entre os críticos, preponderou a falta de um plebiscito para consulta à população sobre a ideia.
O governo militar não partiu da vontade popular para traçar o novo estado à caneta. Fez simplesmente um decreto em que o Mato Grosso perdia domínio sobre grande parte de seu território – exatamente onde a agropecuária gerava a maior fatia de riqueza, apesar do maior peso político estar situado em Cuiabá, a capital de direito, enquanto que Campo Grande era de fato.
A historiadora Marisa Bitar afirma em diversas publicações que os motivos que levaram a ditadura a “impor a divisão”, sem consulta popular foram, basicamente, impulsionar o desenvolvimento regional e fortalecer as fronteiras locais com a Bolívia e o Paraguai;
Contudo, o assunto já era antigo. Outros historiadores, como Douglas Alves da Silva e Justino de Oliveira apontam que, em 1889, políticos corumbaenses pediram em manifesto a transferência da capital de Mato Grosso para Corumbá. O movimento, porém, tornou-se considerado como marco inicial do movimento divisionista. 
O historiador Hildebrando Campestrini em publicação da história de Mato Grosso do Sul que a criação do estado ainda teve episódios na Revolução Constitucionalista de 1932. Defensores da proposta de reforma constitucional, liderada por São Paulo, tentaram aproveitar o movimento para conseguir a autonomia do sul. Foi nesta época que Campo Grande tornou-se um polo importante da campanha de emancipação. 
O contraste com a cordialidade citada por Edward Reis Costa fica, portanto, minimizada. O sul, mais tarde, virou Estado de Mato Grosso do Sul.