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Opinião

Resposta aos leitores

O mundo é cruel. Há algum tempo tomei a decisão de publicar artigos, crônicas e comentários na imprensa sul-mato-grossense com o propósito de cumprir uma missão cívica. Minha geração formou-se com a crença de que este trabalho tinha praticamente uma via única: escrevíamos e publicávamos sem que os leitores pudessem, digamos, interagir ( palavra horrorosa) com nossas ideias, conceitos, opiniões. Éramos onipotentes em nossa razão e sabedoria. O público era uma abstração sociológica.

Agora isso mudou  vertiginosamente. Publicamos e quase de imediato recebemos e-mails com comentários os mais diversos possíveis. Somos celebrados, detestados e até achincalhados pelo facebook, tuíter e outras quinquilharias do mundo virtual. Às vezes dói. Outras vezes compensa o esforço empreendido, mas na maioria dos casos terminamos fazendo o papel de carrasco de nós mesmos. Constatamos, após o texto ser divulgado, até que ponto maltratamos a nossa língua por falta de conhecimento, pressa, desatenção e até pelo próprio programa Word, que insiste em fazer autocorreção das palavras que dedilhamos com zelo e determinação.
 
As mensagens mais comuns são aquelas em que os nobres leitores comentam com os famosos "concordo" e "discordo" acerca dos pontos de vista que  emito aqui e ali. Claro que o tom no uso dos verbos é graduado conforme a verve de quem escreve. Mas chamo a atenção para algo que Paulo Francis dizia quando seus artigos causavam espanto e náusea em muita gente. Para Francis, a palavra escrita provoca divergências imensas por aqui porque nossa tradição católica dá de barato que aquilo que está escrito é a "verdade" – sem relativismos, alternâncias ou reentrâncias.
 
Muitos leitores pensam que uma opinião ou comentário tem o poder das "verdades bíblicas" como se fosse uma imposição divina. Nos países formados pela ética protestante (lembrando aqui alguns dos conceitos Weber),  o indivíduo é livre para interpretar a palavra de deus a seu próprio juízo, sem mediação de qualquer igrejinha moral. Ele diz a sua "verdade" de acordo com as circunstâncias que o embalam. No fundo trata-se apenas disso mesmo: uma opinião é nada mais nada menos do que uma opinião.
 
Quando escrevo faço-o por respeito à liberdade de poder expressar ideias e pensamentos. Se algo muda, se  sigo minha estrada repensando a realidade circundante, posso dessa forma até mudar de opinião como quem troca de gravata. Simples assim. Como dizia o Barão de Itararé: "é melhor mudar de ideia do que não ter ideia pra mudar".
 
Mais do que a minha "verdade" pessoal considero o fato de poder expressá-la sem freios e contrafeios externos um dado de extrema relevância. No jornalismo, a coerência é uma atitude para idiotas. Por isso, tenho me divertido com o frenesi de leitores que escrevem prometendo me dar uma surra na próxima esquina, ou quando me acusam de "preconceituoso", ou ainda  quando fazem medição com a famosa régua ideológica que estabelece a centimetragem do bem e do mal.
 
Calma, companheiros. Estamos dentro do mesmo ônibus fazendo a mesma viagem pela história de nosso tempo. Se provoco irritação em alguns, maltrato outros, critico alguma coisa, simplesmente estou exercendo meu direito inalienável de expor o que penso, acreditando ferreamente que a liberdade é o valor supremo da condição humana.
 
Portanto, não me ofendo com os comentários mais flamejantes de leitores que parecem marcados pelo ódio persecutório. Muitas vezes recebo seus xingamentos com alegria porque sei que, de alguma forma, alguma coisa do que escrevi tocou sua alma sofredora.
 
Não ligo quando o sujeito me escreve dizendo que estou fazendo o joguinho político de uns para prejudicar outros; que pertenço à panelinha daqueles que só enxerga o lado ruim das coisas; que mudei de posição, deixando a esquerda e passando para a direita. Na verdade, todo esse papo só faz com que eu sinta compaixão, torcendo para que o missivista se recupere daquele surto de idiotice e entre numa fase menos amarga da vida.
 
Quando me atacam com calúnias e difamações delirantes minha única reação é o bocejo. Sou daqueles que acredita que a maior vingança é ser feliz. Meu conselho sincero a essas pessoas é o seguinte: se não gosta de mim, tudo bem, entre na fila, pois minha única preocupação é saber qual será a sua extensão final. Àqueles que me elogiam e me emprestam apoio reitero que continuarei seguindo fielmente os preceitos emanados do direito de livre expressão, beijando os pés dessa deusa que se chama liberdade. Abraços. 


*Dante Filho é jornalista