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Consulta popular

Milagres acontecem. Recebo um telefonema do Ibope consultando-me sobre o Governo Dilma. Me fazem as perguntas de praxe: avaliação administrativa (positiva, negativa, regular etc.), pessoal e eleitoral, pontos fracos e fortes, setores que estão indo bem ou mal, principais problemas, além das expectativas para os próximos doze meses. Enfim, tudo aquilo que os institutos investigam para saber o que os cidadãos comuns pensam a respeito do mundo governamental.

Respondo a cada pergunta para possibilitar que a nossa presidente, no final, tenha uma boa avaliação. Acho que tudo vai bem, sua figura me agrada, seu jeitão está ok, não reclamo, dou nota 10 em tudo, aponto os problemas nas áreas de educação e saúde, digo que estou relativamente preocupado com a inflação, ou seja, respondo tudo sem rancor e abandono por instantes qualquer viés critico que possa vir a ter em relação `as mazelas governamentais.
 
Suponho que minhas respostas ao Ibope, na soma geral da pesquisa, garanta popularidade à Dilma, dando-lhe a impressão de que tudo caminha bem, que seu governo ‘e um estouro, que sua reeleição será favas contadas. No momento, a presidente não precisa me agradecer, pois acho que, olhando o Brasil superficialmente, não posso me furtar em reconhecer que a nau navega sem tormentas, apesar de que não sabemos qual o rumo que estamos tomando nem se estamos preparados para tempestades que podem acontecer lá na frente.
 
Sou generoso com dona Dilma porque temo que seu enfraquecimento político possa vir a colocar Lula no primeiro plano, estimulando apetites de poder de sua turma, o que acho que não convém ao Brasil. Fico imaginando quedas bruscas na popularidade de nossa presidente e, com isso, temo que malucos de todos os matizes comecem a entoar o cântico da volta do sapo barbudo, levando a classe política a se rearticular em torno de personagens que, sinceramente, já deram o que tinham que dar.
 
Neste sentido, torço para que tudo siga os conformes, deixando para o momento correto tomar posições políticas para fins eleitorais. Claro que não gosto de muita coisa que acontece no atual governo. Há desleixos administrativos, uma falta de visão sobre a condução do processo econômico que assombra pessoas esclarecidas, uma ideologização infantil sobre questões que envolvem o papel do Estado e da iniciativa privada, um populismo démodé na formulação do marketing, ou seja, somando tudo isso e mais um pouco ainda, antevejo crises futuras que dona Dilma não conseguirá gerir.
 
A votação recente da MP dos Portos foi apenas um aperitivo do que vem pela frente. Ali ficou claro que politicamente o Governo não tem competência nem destreza para convencer a sua base aliada de que tem o comando do processo em mãos firmes. O que ficou evidenciado foi um atabalhoamento geral do comando político governista quando do outro lado do balcão se encontra gente competente para administrar apetites de uma base famélica de vantagens e prebendas.
 
Mesmo assim, torço para tudo certo e que cheguemos ao embate eleitoral com o País mais ou menos equilibrado. Caso contrário, mais uma vez teremos que decidir no fio da navalha, escolhendo entre ficar o espeto ou cair na brasa. Espero que a sociedade brasileira sofra pouco, apesar de que as cenas da disputa em torno da bolsa família na semana passada, depois de um tititi de que o beneficio seria extinto, reduz a nossa esperança acerca de um mundo melhor nos próximos 30 anos.
 
Esse acontecimento mostrou, ao contrario do que se pensou, não uma defesa da população mais pobre no sentido de que se garanta uma renda mínima para quem não tem o que comer, e sim que, a qualquer momento, por vontade única e exclusiva de um soberano, possa se suprimir um benefício sem que ninguém possa fazer nada. Todos estavam preocupados em raspar o fim do tacho sem protestar contra a possibilidade (irreal) do governo em dar e tirar as coisas a seu bel prazer. Isso foi uma demonstração inequívoca de que a massa se considera absolutamente impotente contra o poder. Oremos.
 
*Dante Filho é jornalista e escritor