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Os médicos estrangeiros: solução ou mais um problema?

A entrada de médicos estrangeiros no Brasil tem gerado várias controvérsias. Uma, por exemplo, é dizer que as vagas estão sendo tiradas dos profissionais brasileiros, quando as vagas que estão sendo ofertadas foram rejeitadas por nossos médicos pelo fato, principalmente, de não oferecerem condições mínimas de trabalho a –  faltam leitos, materiais e outros recursos necessários para um bom desempenho da função. 

Um fato que chamou atenção foi o de que alguns médicos brasileiros vaiaram os profissionais cubanos enquanto desembarcavam no aeroporto. Será que essas pessoas não entendem e não vêem que esses médicos estrangeiros deveriam ser vistos de forma diferente? Afinal, estão ocupando vagas que os profissionais da pátria mãe gentil não quiseram ocupar. Onde está o bom senso e o pensamento coletivo? As perguntas são: Quer trabalhar em cidades menos favorecidas? Em comunidades carentes longe dos grandes centros? Não. Então não reclame e deixe quem está disposto a trabalhar (ou a fazer milagres). Certamente, deve ser melhor trabalhar em clínicas particulares bem estruturadas e com conforto. Prova disso é a alta taxa de desistências dos médicos brasileiros para ocuparem vagas do Programa: só no Distrito Federal, 6 de 15 médicos desistiram, isso até o dia 4 de setembro. Se as vagas não forem ocupadas por médicos brasileiros, por certo serão disponibilizadas aos estrangeiros.


Outro ponto questionado é a respeito do Exame Revalida, que nada mais é que a prova para validar o diploma médico no território nacional dos formados no exterior. Se os profissionais que estão vindo para o Programa Mais Médicos fizessem esta prova e fossem aprovados, teriam os diplomas validados, assim poderiam migrar para os grandes centros e até exercer a função em consultórios privados, poderiam ter o registro no CFM (Conselho Federal de Medicina) e caso houvesse alguma incorreção na atuação profissional, seriam investigados e até punidos pelo Conselho: isso poderia prejudicar o Programa? Tirar o foco da questão? Concentrar ainda mais profissionais em grandes centros? Mas, se são médicos, não deveriam ser tratados da mesma forma que os mesmos profissionais brasileiros, inclusive com acompanhamento do CFM? As questões ainda estão sem respostas.


Para participar do Programa é preciso que os países tenham a taxa de médicos per capita maior que a do Brasil, que hoje é de 1,8 médicos para cada mil habitantes e os únicos países latino-americanos que cumprem este quesito são: Cuba, Uruguai, Argentina, México e Venezuela, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Entretanto, a formação desses profissionais em seus países é capaz de atender as necessidades da saúde pública no Brasil? O objetivo do Programa, que é levar médicos para as áreas mais carentes será cumprido, mas ainda vale lembrar que: apenas médicos não resolvem o problema da saúde pública no Brasil.

Filipe Menegon Rosa: Acadêmico do curso de Administração da UFMS – Câmpus de Três Lagoas. E-mail: liperosa@live.com. Caroline Leite de Camargo: Professora e Diretora do Instituto Três Lagoas de Educação Profissional.