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Síndrome de Benjamin Button: projetos novos que nascem velhos

As facilidades que as tecnologias da informação e da comunicação (TICs) proporcionam para as atividades na área de comunicação promovem muitos projetos, muitas ideias a se tornarem reais. O potencial atual é aproveitar as características multimídia da web para empreendimentos que reúnem, no jornalismo, o texto e o vídeo. As tecnologias desenvolvidas nos últimos anos facilitaram economicamente a criação desse tipo de empreendimento. Ficou mais barato construir sítios web, dado que há uma grande oferta de sistemas de bancos de dados, base de todos os sítios web dinâmicos.

A facilidade e o custo menor para criação de empreendimentos novos na internet nem sempre são acompanhadas de projetos inovadores. A cada dia surgem novos empreendimentos, mas, lamentavelmente, com estruturas velhas. Muito semelhante ao filme de ficção, dirigido por David Fincher e estrelado por Brad Pitt e Cate Blanchet, O curioso caso de Benjamin Button, em que o protagonista principal nasce velho, como se fosse uma pessoa de mais de 80 anos que requer todos os cuidados devido às enfermidades próprias da velhice, mas num bebe, que, teoricamente, deveria ser muito saudável.

Os projetos que reúnem texto e vídeo, apesar de ainda não se configurarem na totalidade das características do ciberjornalismo, podem ser considerados um passo adiante se se comparar com novos empreendimentos que se sustentam unicamente no texto, e pior, na prática do Crtl V + Ctrl C. Os empreendedores sabem que o vídeo é um grande chamariz para o seu projeto, pois ao leitor do cibermeio é mais interessante “ler” uma notícia no vídeo do que ler nos textos, muitas vezes confusos e poucos claros, quando não mal redigidos.

Os projetos mais recentes pecam pela desconhecimento das características do ciberjornalismo, da difusão da informação no ciberespaço. As propostas tem ares de nova, com nomes “diferentes”, lançamentos sob intenso investimento publicitário, regados por recepções festivas, “coquetéis” tampouco menos modestos. Organizam esquipes com muitos profissionais, sinal muito bem recebido pelas associações profissionais como indicativo de ampliação do mercado de trabalho, que aos poucos se minguam pelo também desconhecimento das técnicas do ciberjornalismo. Equipes normalmente administradas por profissionais reconhecidos pela sua história, mas que não se qualificaram ao longo do tempo e, portanto, também estão alheios às possibilidades de produção e difusão no ciberespaço.

E que produto se tem? Um novo sítio web de jornalismo que mantém a mesma estrutura dos antigos, mesmo leiaute, mesma semântica e ausência, em grande parte, das inovações em ciberjornalismo decorrente de suas características próprias. Apesar de associar o vídeo ao produto, as possibilidades de inovação se acabam quando o material veiculado, novamente, reproduz o que é produzido pelas agências, ou seja, há uma importação exacerbada de informação “estrangeira”, a qual o público tem acesso por meio dos grandes portais web de notícias consolidados.

De outro lado, é importante que se afirme, há um componente muito positivo nesses novos empreendimentos, mesmo que temporário, o incremento das oportunidades de mercado profissional no jornalismo. É importante ressalvar que se deseja que essas novas oportunidades se consolidem, que os novos projetos se estabeleçam, se desenvolvam e possam ampliar continuamente as oportunidades de trabalho para jovens jornalistas qualificados nos inúmeros cursos de Jornalismo existentes que, no decorrer dos anos, se qualificarão, por meio principalmente da pesquisa, no ensino e desenvolvimento das técnicas de ciberjornalismo.

E, neste caso, se pode observar o quanto os novos empreendimentos estão dissociados do que se faz nas universidades, que no Brasil são os únicos centros de pesquisa e desenvolvimento. Em outras palavras, os novos empreendimentos são tão intuitivos quanto o conhecimento empírico dos nomes antigos do jornalismo. E em momento algum, é importante que esteja claro, se menospreza o conhecimento empírico, pelo contrário. É uma característica, metodologia imprescindível na pesquisa aplicada. A questão é que um pesquisa aplicada consistente não pode prescindir do conhecimento cientifico desenvolvido ao longo dos séculos e em inúmeros circunstancias de reflexão e experimentação.

Que surjam muitos mais novos empreendimentos, que se abram muitas mais oportunidades de mercado profissional aos jornalistas, que estes novos empreendimentos se consolidem e fortaleçam um jornalismo de qualidade, ético, principalmente no âmbito local e regional. E que estes empreendimentos colaborem de forma positiva para que a pesquisa possa desenvolver novos meios, novas possibilidades e assim oferecer retroalimentação a esses empreendimentos. E que assim como no caso Benjamin Button, esses empreendimentos tenham cada vez mais juventude, inovação e ousadia.

Gerson Luiz Martins é jornalista e pesquisador do PPGCOM e CIBERJOR/UFMS