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Uma mulher de fibra chamada Tia Nega

Uma três-lagoense que lutou muito por si, pela família, por amigos e desconhecidos

O seu nome é Visitação Verón da Motta, mas ninguém a conhece assim. Todos a conhecem como a Nega do Madrugada. Vereadora por dois mandatos, Tia Nega, como é mais conhecida, já cozinhou para pedreiros na obra, vendeu sorvete, teve restaurante e lutou por causas que acreditava. A mais importante foi trabalhar de madrugada, fazendo salgadinhos para vender nas cantinas de escolas para ajudar os dois filhos se formarem na faculdade. Um é diretor de Esportes da Prefeitura de Campo Grande e presidente da Federação de Vôlei do Estado de Mato Grosso; o outro é um renomado médico em Três Lagoas. Foi Tia Nega quem conseguiu o Centro de Convivência dos Idosos e a Creche Diva de Souza. A organização de associações de bairros foi iniciativa de Tia Nega. No dia 15 de março ela foi homenageada na Assembléia, em Campo Grande; três dias antes, se emocionou na Câmara Municipal de Três Lagoas. Sua casa é sempre muito movimentada, principalmente por políticos e por politiqueiros. Aí o pau de fuxico come. Leia abaixo os principais trechos da entrevista com a sorridente Tia Nega.

Jornal do Povo – Tia Nega, quem é a senhora?
Tia Nega – Eu sou a Nega do Madrugada, mãe de dois filhos, José Eduardo Verón, casado com Maria Inês, diretor de Esportes da Prefeitura de Campo Grande e presidente da Federação de Vôlei do Estado de Mato Grosso do Sul, e do médico Paulo Verón, casado com Valéria. Tenho seis netos, sendo uma mulher, e um bisneto.

JP – Mas como a senhora se chama?
Tia Nega – Visitação Verón da Motta.  Nunca ninguém me chamou pelo nome. Tem uma historia sobre o meu nome, coisa mais gozada.  Um dia fui homenageada no hospital, todo mundo que ia falar, dizia que queria marcar a presença da Tia Nega. Ai, o Germano [Molinari Filho], que foi representar a Simone [Tebet], falou que queria agradecer a presença de Visitação Verón da Motta. As meninas que estavam comigo falaram para ele que o meu nome era Tia Nega e não Visitação. O Germano falou que como estava representando a prefeita, não podia me chamar por apelido. Mas a prefeita Simone me chamava de Tia Nega

JP – A senhora foi homenageada em Campo Grande, qual foi o motivo?
Tia Nega – No dia 15 de março fui escolhida pelo deputado estadual Eduardo Rocha para representar as mulheres de Três Lagoas. Não sei se representei bem, mas que eu fui, eu fui. Três dias antes, fui homenageada pela vereadora Vera Marisa Rocha. As duas homenagens eram referentes ao Dia Internacional da Mulher.

JP – De onde vem a ver política?
Tia Nega – Meu marido foi vereador quatro vezes, na época que ninguém recebia nada para ser vereador. Eu mesma fui vereadora por dois mandatos seguidos, de 89 a 96.Hoje a vida política está muito difícil, está muito diferente da minha época, era mais séria.

JP –  Conquistas políticas?
Tia Nega – O Centro de Convivência dos Idosos, que eu consegui na época do ex-prefeito Miguel Tabox. O prefeito me levou a tiracolo para Brasília. Como eu tenho uma amiga na Capital Federal, esta amiga conseguiu verbas para dois terrenos, para construir um centro de convivência e uma creche. Mas chegando aqui, o Miguel não quis mais construir a creche do lado dos idosos. Ele achou melhor que ficasse lá no Paranapongá. A creche Diva de Souza também foi uma conquista minha.


JP
– Mais alguma marcante?
Tia Nega – Quando eu fui vereadora… Eu tenho um amigo que é o dono da Comercial São Paulo, eu gosto muito dele, igual um filho. Eu disse: me leva ali num lugar que eu quero ver um negócio, quero ver se vou conseguir. Antigamente era uma passagem de nível, saia da Lagoa aquela água fininha. Para a pessoa ir para o bairro São João, você tinha que dar uma volta. Eu dizia, será que não vou conseguir isso? Ai o Sami falou: Ó Nega, se você conseguir, você está de parabéns, porque eu acho muito difícil o prefeito Miguel Tabox fazer isso aqui, vai gastar muito. Ai eu fiz um requerimento de projeto de lei pedindo essa passagem de nível e o Miguel fez. Hoje passa carro pesado, passa até ônibus. É no bairro Santa Rita, na rua Bernardino Antônio Leite, atravessando para São João.  Agora não precisa dar mais volta.

JP – Além de dona de casa e vereadora, a senhora trabalhou com quê?
Tia Nega – A mulher do dr. Pedro Pedrocian, governador do Estado de Mato Grosso, depois ele foi governador de Mato Grosso do Sul, me convidou para trabalhar na promoção social em Campo Grande. Só que era  para atuar aqui em Três Lagoas, se eu tinha condições de tomar conta do “Panelão” aqui. Naquela época, o Lúcio Queiroz Moreira era o prefeito, por sinal, muito bom também. Montamos um escritório, fizemos cadastramento das famílias carentes, que precisavam desse “Panelão”, e todo mês vinha caminhões entregar cesta básica, mas era uma cesta de primeira. Com isso, eu criei associações de bairros. Se hoje tem associação de bairro em Três Lagoas, fui eu quem organizou. Elegíamos um líder em cada bairro, para ajudar na entrega das cestas. Em cada bairro tinha uma horta comunitária. Dava o peixe e ensinava a pescar. Não trabalhei sozinha, arrumava equipe. Também criei o Clube de Mães. Vinha flanela, leite para fornecer para as mães, máquinas para a mãe costurar roupas para crianças.

JP – O que mais a senhora fez na vida?
Tia Nega – Nós temos um estádio aí, hoje é o Noroeste, existe mas acabou também. Mas antigamente era Ubaldo de Medeiros, que era diretor da Noroeste, aquela coisa toda. Para construir aquele estádio, eu fui cozinheira. Cozinhava eu, Lídia, irmão do Pimpão (só fala assim que todo mundo conhece), e dona Olinda, do Pedro Rocha. Fizeram uma barraca no estádio e nós fomos para lá para fazer comida para os pedreiros, eles não estavam cobrando para construir o estádio, então, nós fizemos a comida. Eu também tive restaurante, churrascaria Pingüim e soverteria Pingüim. Tem muita gente que quando toma sorvete, lembra do sorvete que eu fazia. “Nossa, Tia Nega, eu lembro do sorvete da senhora”.  Nós tínhamos 25 carrinhos na rua.

JP –Por falar em estádio, o Madrugadão é em homenagem ao seu marido, não é?
Tia Nega –  Sim, sim, tem um estádio com o apelido dele. Também tem uma rua com o nome dele, Benedito Soares da Motta.

JP – Porque Madrugada?
Tia Nega – Porque quando ele era solteiro, de certo, ele gostava. Minha sogra dizia que ele só chegava de madrugada. Ele me falava que não, é que o pai dele tinha açougue e ele acordava cedo para ajudar o pai (ah ah ah ).

JP – Conta uma história suas.
Tia Nega – Eu levantava duas horas da manhã. Eu, minha mãe e meu marido para fazermos salgados para fornecer as cantinas dos colégios e para mandar dinheiro para meus filhos fazerem faculdade. Fiquei 10 anos levantando duas horas da manhã, dormindo tarde da noite, para fazer salgadinhos. Fornecíamos duas vezes por dia as cantinas dos colégios. E o Madrugada tinha um escritório de contabilidade. O começo da minha vida com o Madrugada foi paulada.


JP – O que a senhora acha dessa mulherada no poder?
Tia Nega – Eu acho bom e quero que continue assim, é lógico. Nós sabemos administrar melhor. Eu acredito que essa menina vai administrar melhor que um homem. Muito embora ela, a Simone, não vai pegar como governadora, ela vai querer ser senadora.

JP – E a Márcia Moura?
Tia Nega – Você chegou num ponto… Eu acho que o Eduardo [Rocha] está fazendo campanha para ele. Tem gente que trabalha com ele e já me falou. Precisa ver o pau de fuxico aqui de manhã como que falam.

JP – O que é pau de fuxico?
Tia Nega – Ah ah ah, é a fofoca política que acontece de manhã em casa. Mas é verdade, não podem fazer isso com a Márcia. Ela é uma pessoa dócil, precisa ver para ela entrar no gabinete, cumprimenta um funcionário, abraço outro… A Simone não deixa ela sair da sombra. Ela deve levantar a cabeça e tocar sozinha. Aquele Walmir [Arantes], enquanto ele estiver aí, ele amarra ela. Ele veio para cá para trabalhar com a Simone.