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?Desta vez é para ficar?, diz Paulo Ricardo sobre volta do RPM

Eles acabam de lançar um CD duplo ? RPM Elektra

Foram muitos términos e voltas desde o primeiro fim em 1987. Mas desta vez, depois de três tentativas de retorno, os músicos Paulo Ricardo, Luiz Schiavon, P.A e Fernando Deluqui garantem: a banda RPM veio para ficar.

Eles acabam de lançar um CD duplo – RPM Elektra (Building Records) – e investem em dois sons diferentes e inéditos. O primeiro é com banda e se assemelha muito com o grupo dos anos 80. O segundo é um CD todo feito em remix, planejado para tocar em casas noturnas.

Paulo Ricardo e Deluqui continuam com pinta de galã. Schiavon e P.A. com a mesma sede de música. Em entrevista exclusiva ao Yahoo! Brasil, eles falam sobre o novo trabalho, fama de sex symbol e analisam as atuais bandas de rock.

Nos anos 80, Paulo era considerado um dos maiores galãs do Brasil. Capa de revisa com a Xuxa, show sem camisa… Como é voltar agora sem necessariamente ter esse apelo de sex symbol?
Deluqui: É uma coisa que não se desvincula totalmente. Esse apelo que temos com o sexo feminino vai continuar e como estamos muito envolvidos, com muita vontade de fazer, talvez role mais forte. É claro que você não vai fazer sucesso com as menininhas de 15, mas…

Paulo: O fato é que existe um peso da imagem na música tremendo. Hoje em dia eu estava zapeando e vi os indicados do Grammy… É incrível, todo mundo tem 18 anos. Mas penso que a gente esteja em outro segmento. A gente está com o que se constituiu no classic rock brasileiro, com as grandes bandas dos anos 80. Titãs, Paralamas… É claro que a gente sabe da importância da imagem e trabalha com essa questão, mas lá no começo a gente não tinha essa pegada galã. Isso é algo que as pessoas assimilam e começaram a ver. O que a gente procura inicialmente é ter gás, saúde, disposição para fazer um show de 1h30, e estar bem na foto. Essa coisa do galã é algo muito relativo e faz parte do lance musical.

Você continua bonitão. Manter a imagem de galã é uma preocupação?
Paulo: Não, é algo que acontece naturalmente. (A sensualidade) faz parte dos elementos e características do rock and roll…  Rock pressupõe o componente sexual, pressupõe uma rebeldia, selvageria, consciência política, ruptura com determinados padrões. Quando você se afasta disso, você cai no pop. E o rock tem os seus códigos e linguagens, principalmente o rock brasileiro que se estabeleceu nos anos 80. Ele tem esse componente, mas está dentro de uma performance. A partir do momento em que se torna uma preocupação, pode ficar artificial e perde sua força.

O RPM teve vários términos e algumas voltas. Quantas foram ao todo, mesmo?
Paulo: Realmente foram algumas paradas, mas as voltas foram todas produtivas A primeira parada foi em 1987 e sem dúvidas foi o nosso estremecimento mais sério. Voltamos no final de 1988, produzimos o “Quatro Coiotes” durante uma viagem a Búzios. Terminamos, voltamos em 2002 por causa de um projeto ao vivo da MTV, com seis músicas inéditas e até o tema do “Big Brother Brasil”. Ficamos até 2003 e depois paramos de novo. Em 2008, nós lançamos a caixa “RPM 25 Anos – Revolução” e o livro “Revelações por Minuto” (Marcelo Leite e Rui Mendes), mas não fizemos shows. E, agora, em 2011 é o que realmente sentimos ser a retomada da carreira e a volta definitiva. Seria na verdade a terceira volta, mas essa é para ficar.

Durante esse afastamento, vocês continuaram conversando? Acompanhavam um o trabalho do outro?
Fernando: A gente manteve contato, claro. A gente nunca deixou de conversar totalmente, inclusive convidei o Paulo para estar em alguns shows.

Paulo: O Schiavon, por exemplo, é padrinho da minha filha. Sempre conversamos, seja por um motivo ou outro. Mas a retomada surgiu do programa “Por Toda a Minha Vida”, da Rede Globo, que entrevistou a gente, amigos, gravadora, jornalistas ligados, e isso obrigou a gente a reviver todas as memórias e falar entre a gente. O RPM sempre foi um patrimônio intelectual muito importante para a gente ficar sem se falar. Ficamos muito tempo sem tocar juntos, mas não sem se falar.

Nesta volta, quem tomou a iniciativa?
Em 2008, a gente esteve no “Faustão” para lançar a caixa e o livro. Não tínhamos certeza sobre o futuro da banda, mas já sabíamos que só nos reuniríamos se todos estivessem dispostos a se dedicar integralmente ao RPM e produzir um novo disco de estúdio. Como se fosse um recomeço de carreira mesmo, 24h dedicado à banda, sem projetos paralelos. E com músicas novas, pois foi muito legal o projeto com a MTV, Olhar 43, remix, mas a gente queria ter material novo, retomar o pique de compositor. O que aconteceu foi que em março de 2010 o Ricardo Waddington (diretor da Globo) começou a ligar para a gente para adiantar as entrevistas, daí o Schiavon começou a me chamar para almoçar e bater papo sobre isso. Não foi algo tão objetivo…

Schiavon: Foi acontecendo.

Vocês já sentem a mudança de público? Quem gosta do RPM hoje: os saudosistas dos anos 80 ou a garotada mais nova?
As duas coisas. Do palco, é visível que a gente tem essa galera que cresceu com a gente, mas também tem uma garota que não tinha nem nascido que a gente começou. O que a gente pretende é lançar um disco novo para os dias de hoje, para uma linguagem contemporânea. Tanto que o disco é duplo exatamente para isso: um é um disco clássico, RPM tocando, outro CD é remixado pelo DJ Joe K. É para a pista de dança. Penso que somos praticamente uma banda nova que tem uma história.

O segundo CD tem remixes. Parte da vontade de fazer algo diferente e que abranja um novo público?
Paulo: É isso e mais. Queremos reparar uma falha que nós sem querer cometemos no começo na carreira. Nós fomos os primeiros artistas a fazer um remix no Brasil. É um dado histórico, tanto que está no livro da jornalista Claudia Assef, o “Todo DJ já sambou”. “Loira Gelada” remixado detonou uma onda e começou o processo de levar o DJ para onde ele está hoje. Hoje, o DJ é uma estrela pop, como o David Guetta. Nos anos 80, os remixes foram feitos apenas para radialistas e DJs de casa noturna. Então, como a cena é outra, a gente quis lançar remixes no nosso CD.

O que você pensa dessa nova geração de rock brasileiro?
Schiavon: Prefiro não comentar…

P.A: Tem muita banda boa que não está na mídia. Você vê nas casas do underground que existem bandas boas, mas não tem divulgação.

Paulo: Eu diria que não só no Brasil, mas no mundo, o rock já não tem a mesma importância e influência que tinha nos anos 60, 70 e 80. Se você vir os tops dos países, você vai ver muito hip hop e um ou outro grupo de rock. Não tem hoje uma densidade de grandes bandas no mundo inteiro e, no Brasil, não é diferente. Quando você pensa em um talento jovem no Brasil ele não necessariamente estará montando uma banda de rock. Ele pode estar na MPB, no sertanejo universitário, pode estar no axé music, com conteúdo mais erótico e tal. Mas o sangue novo é sempre bem vindo independente de qualquer coisa.

Poderia dizer que RPM Elektra é o disco preferido da banda?
Paulo:
Acho que é. Hoje o sonho de toda banda é ter um disco duplo.

P.A: É o caçula, né? A gente gosta dos outros, mas o caçula é aquele com que a gente tem mais contato agora.

RPM definitivamente não está para saudosismo…
Paulo: Queremos alcançar os velhos fãs que viveram o RPM dos anos 80, mas também essa moçada que vai ouvir o RPM em uma casa noturna e vai querer conhecer essa simbiose entre rock e música eletrônica que a gente faz. A gente não quer que o RPM seja percebido como uma coisa dos anos 80, que você vai botar no carro para a mulher e ver como eram legais naquela época, nem que vai botar para o filho e ouvir ele dizer “não quero saber disso, é coisa do seu tempo”. A gente quer estar tocando hoje, na noite hoje, na casa noturna de quem está saindo hoje, para a garota de 20 e poucos anos. A gente continua com a mesma fome que a gente começou e, pelo menos por enquanto, ninguém está com nenhuma doença grave (risos).

O que o RPM mudou artisticamente desses 20 e poucos anos?
Paulo: Só temos percebidos vantagens. Estamos mais focados, amadurecidos, mais conscientes do business do showbusiness, que é muito perigoso, difícil de se lidar no Brasil. A gente continua com prazer em falar com jovens, e não achamos só legal as coisas dos anos 80. Como eu disse, hoje quero tocar depois da Lady Gaga, quero tocar nos mesmos shows das bandas que estão aí. Então, também somos o que está aí agora. O resto é só uma história.