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Saiba como funciona o transplante de medula óssea

Procedimento atinge até 80% de cura, mas vem acompanhado de quimioterapia pesada

O transplante de medula é um procedimento indicado para casos agressivos de câncer cuja doença não foi totalmente eliminada na quimioterapia.

O autotransplante, ou transplante autogênico, consiste na colheita da medula do próprio paciente, de onde serão retiradas células-tronco que serão congeladas e reimplantadas na medula no dia do transplante.

É na medula óssea que se produzem todas as células do sangue (leucócitos, plaquetas e hemácias), fundamentais para a sobrevivência, explica Luis Fernando Bouzas, diretor do Centro de Transplante de Medula Óssea do Inca (Instituto Nacional do Câncer) e coordenador do Redome (Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea).

– Como colhe a medula e congela, ele [o paciente] tem a oportunidade de receber uma dose de quimioterapia maior e mesmo assim se resgata a medula, caso tenha sido afetada.

Mas o paciente só pode receber o transplante se a doença estiver controlada e não tiver atingido a medula. E isso se dá pelas sessões de quimioterapia feitas previamente. Caso contrário, o material colhido estaria doente e não poderia ser reintroduzido no corpo, explica Bouzas.

Primeira etapa: colheita da medula óssea

Constatada a possibilidade, a colheita da medula pode ser realizada de duas maneiras: pela aspiração do osso da bacia com uma agulha especial (método mais tradicional), de onde serão retiradas as células, ou pela coleta de sangue mobilizado dentro da medula.

O segundo método tende a ser mais eficaz, mas não é usado em todos os lugares porque requer mais tecnologia, explica o coordenador do Redome. Ele se resume a administração de uma medicação conhecida como fator de crescimento, que estimula a medula a produzir mais células que passarão a circular pela corrente sanguínea.

Uns cinco dias após o estímulo, médicos retiram amostras desse sangue por meio de uma máquina (aférese) capaz de separar as células-tronco, que depois são congeladas para serem usadas no dia do transplante.

– Quando você faz essa colheita de sangue periférico, você tem uma melhor seleção da célula-tronco porque mesmo que tenha uma célula doente [na medula], ela não é estimulada.

Segunda etapa: “superquimio”

O próximo passo é submeter o paciente a uma pesada quimioterapia, administrada por dias com vários medicamentos. Apesar de acabar com os tumores, invariavelmente vai atacar a medula, destruindo também a imunidade do paciente.
É por isso que nesse meio tempo o paciente tem que ficar praticamente isolado, na UTI do hospital, à base de antibióticos e outros medicamentos que o impeçam de sofrer infecções e morrer.

– Normalmente o doente tolera porque é uma carga [de quimioterapia] calculada. Damos os medicamentos porque ele vai sofrer com feridas na boca, vômitos, diarreia e com a maior suscetibilidade de infecções. Os primeiros quinze dias são os mais críticos.

Durante todo esse período, o paciente fica internado, a fim de se preparar para o transplante.

Terceira etapa: transplante e recuperação

Comparado ao transplante de medula com doador, o autogênico é mais simples por não haver risco de rejeição, já que as células transplantadas são do próprio paciente, explica Bouzas.

Entretanto, sua fase mais crítica é a do pós-transplante, já que as células demoram por volta de 15 dias para se reproduzir e chegar à corrente sanguínea. Antes disso, o paciente precisa continuar isolado para evitar infecções.

– De doze a quinze dias é que começa a recuperar as células da medula. A gente chama isso do dia da pega, quando o paciente começa a ter as células de novo.

O momento, sempre muito celebrado, é o começo da vida sem o câncer. Segundo Cármino Antonio de Souza, presidente da Associação Brasileira de Hematologia e Hemoterapia “boa parte dos pacientes de 60% a 80% com linfoma voltam à vida normal”. De 25 milhões de casos no mundo, 4% levam a óbito e o restante chega à cura ou mantém a doença controlada.