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O fim da picada

Dengue de novo – Esse é o fim da picada ! É no verão que a dengue faz um número maior de vítimas, pois o mosquito transmissor encontra excelentes condições de reprodução. Nesta época do ano, as temperaturas altas e o alto índice pluviométrico aumentam e melhoram o habitat ideal para a reprodução do Aedes Aegypti: a água parada. Lata, pneus velhos, vasos de plantas, caixas d’água e outros locais deste tipo são usados para fêmea para depositar seus ovos.
Outro fator que torna os grandes centros urbanos locais preferidos deste tipo de inseto é a grande quantidade de seu principal alimento: o sangue humano. A questão é preocupante porque em várias cidades do Estado um sem numero de casos não foram registrados devido às pessoas se tratarem em casa e por isso não passarem aos registros oficiais. Vale lembrar que a origem do Aedes aegypti, inseto transmissor da doença ao homem, é africana. Na verdade, quero enfatizar que quem contamina é fêmea, ela é rajadinha de branco; o macho apenas se alimenta de seivas de plantas.
A fêmea precisa de uma substância do sangue (a albumina) para completar o processo de amadurecimento de seus ovos. O mosquito apenas transmite a doença, mas não sofre seus efeitos. De origem espanhola, a palavra Dengue significa "melindre", "manha", estado em que se encontra a pessoa contaminada pelo arbovírus (abreviatura do inglês de arthropod-bornvirus, vírus oriundo dos artrópodes), no caso, encontrado na fêmea do mosquito Aedes aegypti ou na do Aedes albopictus, esse último conhecido como "tigre asiático".
Os primeiros registros de Dengue no mundo foram feitos no fim do século XVIII, no Sudoeste Asiático, em Java, e nos Estados Unidos, na Filadélfia. De lá espalhou-se, principalmente através do tráfego marítimo. No Brasil, chegou na metade do século XIX com as embarcações que transportavam escravos, já que os ovos do mosquito podem resistir, sem estar em contato com a água, por até um ano.
Dentre os cuidados que podem ser adotados para evitar a reprodução do mosquito Aedes aegypti, o uso de produtos caseiros, como o sal, é um dos mais recomendados, por ser um método de combate eficaz e de baixo custo. Adicionado na dosagem certa, o sal torna a água imprópria para a reprodução do mosquito, através de sua ação larvicida, que evita o desenvolvimento de larvas em locais com água parada.
A bióloga Alessandra Laranja, do Instituto de Biociências da UNESP (campus de São José do Rio Preto), durante a pesquisa da sua dissertação de mestrado, descobriu que a borra de café produz um efeito que bloqueia a postura e o desenvolvimento dos ovos do Aedes Aegypti. O mosquito pode ser combatido colocando-se borra de café nos pratinhos de coleta de água dos vasos.
Com duas colheres de sopa de borra de café para cada meio copo de água, pode ser aplicada em pratos que ficam sob vasos com plantas, dentro de bromélias e sobre a terra dos vasos, jardins e hortas. É a busca de soluções caseiras e baratas para um povo tão ausente de recursos como o brasileiro. Quero ressaltar que a dengue não tem tratamento específico. Na maioria das vezes é tratada pela hidratação e pelo uso de antitérmicos para controlar a febre, a cefaléia, e as dores no corpo. As pessoas contaminadas devem evitar o uso de medicamentos a base de ácido acetil salicílico que podem favorecer as hemorragias.
Mas nunca se deve tomar qualquer medicamento sem a orientação do médico que deve ser o responsável pelo diagnóstico correto da doença. Mas de imediato siga as regras abaixo e motive seus vizinhos a fazerem o mesmo: – Não deixe acumular água em pratos de vasos de plantas e xaxins. Na hora de lavar o recipiente, passe um pano grosso ou bucha nas bordas.
Substitua a água dos vasos de plantas por areia grossa umedecida; – Esvazie as garrafas sem uso. Elas devem ser guardadas de boca para baixo, de preferência em lugares cobertos; – Todo material descartável que acumula água, como copos de plástico, latas e tampinhas de garrafa, deve ser jogado no lixo; – Pneus velhos são um dos lugares preferidos do mosquito da dengue.
Por isso, eles devem ser guardados em lugar coberto ou furados. Mantenha as caixas d´água, poços, latões e filtros bem fechados; Troque diariamente a água de bebedouros de animais. Lave bem o recipiente com uma escova ou bucha; – Mantenha limpas as calhas, lajes e piscinas; – Elimine a água acumulada em bambus, bananeiras, broméias, etc.
Evite plantas que acumulem água, como gravatás, babosa, espada-de-São-Jorge, entre outras. A dengue é, portanto, uma doença intrinsecamente ligada à problemática urbana . A solução para o seu controle é complexa e difícil, a exemplo de outras doenças que são fruto do contexto atual, como a Aids e o diabetes não insulino-dependente, a obesidade e a hipertensão.
É fundamental uma mudança das premissas do controle da dengue. Cabe estar mantendo-o sob controle. A dengue deve entrar na lista de doenças a serem enfrentadas não como uma inclusão temporária, sazonal, mas como um problema permanente, com raízes profundas na sociedade contemporânea, com determinantes cuja eliminação ou modificação demandam profundas transformações econômicas, sociais e culturais. Sejamos todos “o fim da picada” propugnando e auxiliando a acabar com os criadouros.

Rosildo Barcellos é articulista.