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Aos modos de Saturno

Vem da mitologia greco-romana que Saturno, na ânsia famélica e voracidade pelo poder, chegava a devorar seus próprios filhos. Mutatis mutandis, pode-se afirmar que a saturnidade também contaminou amplos setores da política em nosso país, desde os grotões mais distantes até ao refulgente planalto brasiliense.

O quadro sucessório já delineado tanto na esfera federal como nos mais diferentes estados da Federação demonstra a saciedade que o espírito caudilhista apossou-se daqueles que detém e manobram as cordas robustas do poder. Claro, para cumprir o ritual, há exceções – raras, diga-se.

De clareza solar é o ambiente eleitoral para o mais alto cargo da República. O atual titular e a fruto de um prestígio popular cujas raízes nem os mais agudos cientistas políticos (psicólogos, sociólogos ou arrevistas) conseguiram até agora definir, tem ele uma extensa carreira de devorador. Já nos primeiros anos de sua caminhada petista considerou dispensáveis companheiros da inteligência universitária dos Franciscos Serra e Welfort e lá mais adiante de Plínio de Arruda Sampaio; habilmente soube por manhas e patranhas tais cortar as asas de José Dirceu, José Genuíno e da vibrátil Heloísa Helena, culminando por colocar uma irremovível pedra no caminho da inflexível senadora Marina Silva, embora esta possa lhe trazer algumas dores de cabeça no presente processo eleitoral.

O primeiro mandatário quer manter o poder. Fez candidato do seu partido quem bem entendeu e a está empurrando goela abaixo das demais agremiações que lhe bajulam. Ela, a candidata, aí está sonolenta pelos efluvios embriagadores de uma perspectiva de poder. Na convenção nacional do PT, ela demonstrou robusta qual a sua missão – a de louvar o seu padrinho – e se sentar na curul presidencial ser uma títere do “homem de São Bernardo”, este mais do que nunca condestável do PT e da estrutura administrativa do Governo Federal. É a fisionomia atualíssima da candidata, nada obstante alguns mais próximos dela afirmem que pela sua formação revolucionária, é de luta e bem conhece as artimanhas da guerrilha e estando no comando não se curvará a ninguém. Contudo, será interessante melhor observá-la e parodiando aquela precaução do astuto castelhano: “No creo em miasmas, mas que los hay, hay”.

Nos estados, a ação não difere, embora tenham aqui e ali conotações diferenciadas. No Estado do Maranhão, por exemplo, o clã do ex-presidente José Sarney determina o caminho a ser seguido pelos partidos, alguns que até no passado tinham posições irreconsiliáveis com ele. Se de início as bases não se ajustam, a ordem baixa de Brasília para que se acomodem ao dito do clã Sarney, ou adaga ferina da intervenção atingirá o âmago partidário dos pretensos rebeldes.

Aqui em nosso Estado, há uma anemia total. Como de resto fenômeno nacional, as agremiações partidárias deixaram de ter organicidade, o que prevalece são os interesses das mais diferentes cúpulas, e se disputa há é justamente pelo conflito de anseios entre os integrantes das mesmíssimas cúpulas. No PT existe a briga pelo sua liderança, surda e cruel entre um diligente senador e um ex-governador representante autêntico de suas raízes históricas.

No PMDB, já em processo de esclerosamento pelo uso continuado das gorduras do poder federal e estadual, a briga não é menor, onde a vontade do suserano ainda prevalece: alijou legítima pretensão de reeleição de um senador, este de tradicional identidade partidária e que se revela como um dos destaques da atual Casa Alta do Congresso Nacional; mantem uma atuação subjetiva de a médio prazo alijar lideranças novas de seu partido que possuem outro sentido de atuação; num trabalho franciscano de simulações, negaças e promessas, anestesiou uma naturalíssima quão almejada pretensão do tucanato em participar com candidato próprio ao governo do estado. Da mesma forma vai levando os democratas para o sacrifício de sua maior expressão política. Bom, e por aí vai..

Ruben Figueiró de Oliveira é senador suplente de Marisa Serrano (PSDB)