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Nunca antes na história deste país

Depois de escolher e eleger sua sucessora, depois de, nas barbas da Justiça e dos representantes das nações estrangeiras, assumir ostensivamente a direção da campanha de sua candidata, exercendo um poder que nem a Constituição Federal nem as leis lhe outorgavam, de resto, inconciliável com o caráter nacional de sua investidura, depois de se autodenominar "o povo", "a opinião pública", o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, às escâncaras, fez as vezes do coronel Hugo Chávez, da Venezuela.

E para não deixar dúvidas, se autoconcedeu o diploma de haver realizado o maior e melhor governo do Brasil em todos os tempos.

A verdade é que os governos acertam e erram, e por muitas razões.

A primeira dessas razões é que os governantes são homens, e estes, ainda que cheios de louváveis propósitos, não são imunes a erro.

Ora, em relação ao governante que está vivendo seus últimos dias nas suas funções, pode-se dizer o mesmo.

O governante também tem seus acertos, tanto mais dignos de nota quando seu chefe, a despeito de sua clara inteligência, não é e nunca foi um scholar, nem pretendeu sê-lo, também incorreu em falhas lamentáveis por ação e omissão.

De resto ele tinha de pagar tributo ao maldito sistema presidencial.

Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito pela maioria do eleitorado. No entanto, seu partido não chegou a eleger cem deputados, quando são 513 os membros da Câmara, nem 20 senadores, quando 81 são os membros da Câmara Alta.

Com seu saber, da experiência feito, sua habilidade e sua prática sindical, não teve dificuldade em obter maioria parlamentar e crescer em poder e influência, a ponto de, como erva de passarinho, à custa da oposição, a ponto de desequilibrar a equação política nacional.

O Executivo se agigantou e seu titular fez o que quis durante seus dois mandatos, interna e externamente.

Para ficar em um exemplo, o presidente mostrou que fez o que quis ligando-se ao Irã para mostrar seu distanciamento de Washington. Foi de um primarismo a lembrar a criança que reage pondo a língua de fora, quando não faltavam maneiras adequadas para marcar as diferenças.

O escândalo do Complexo do Alemão (conjunto de favelas no Rio de Janeiro tomado pelas forças policiais no final do ano – nota do editor), um território soberano encravado no território nacional, durante oito anos não foi visto pelo governo do "nunca antes", e só rompeu o pacto da convivência silenciosa quando o morro iniciou a guerra civil.

De janeiro a agosto do ano em curso, navios que fazem escala no Brasil, juntos, parados, tiveram de esperar 78.873 horas, ou 3.286 dias, para atracar em portos nacionais.

É importante notar que cada dia parado custa ao barco coisa de 25 mil dólares (mais de 42 mil reais).

Esses números indicam que, comparados com os do ano anterior, o aumento foi expressivo, de 16%.

Ainda mais, deve-se lembrar, esse fenômeno levou as cinco maiores empresas de navegação a 741 cancelamentos de escala, 62% superiores ao de 2009, no mesmo período.

Por sua vez, para o atraso no embarque e desembarque de mercadorias, não são isentas de responsabilidades a descoordenação entre Agência Reguladora do setor, Polícia Federal, Receita Federal e não sei mais o que.

A título de ilustração, só no porto de Santos, 120 navios ficaram fundeados simultaneamente por falta de alguma providência de terra.

São fatos de inconcussa gravidade que, direta e indiretamente, atingem magnos interesses do país e de milhares de pessoas.

Muito teria a dizer a respeito desses acertos e erros da administração do presidente da República.

Mas me falta espaço para mostrar que a majestática declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva parece decorrer de uma explosão de megalomania festejada por uma publicidade "nunca antes vista neste país".