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O Baú, o Jabuti e o Rei

Estamos chegando ao fim de 2010, ano em que a cobra fumou no Brasil. Perdemos a Copa da África, mas conquistamos o direito de sediar as Olimpíadas de 2016; o mundo continuou em sua crise econômica gerada pela ascensão chinesa, mas o Brasil, antes sempre patinho feio, desfilou feito cisne nesse lago; tivemos a eleição presidencial mais disputada e aguerrida desde o processo de redemocratização e vimos uma mulher, pela primeira vez na história, conquistar o direito de ocupar o cargo de Presidente da República. Certamente tudo isso constará nas análises e retrospectivas da grande maioria dos analistas  e colunistas do país e nem vou me atrever a dividir com eles esse quinhão. Afasta de mim esse cálice. Prefiro ficar com as cagadas. E três grandes momentos ilustram a  “defeclopédia”   de 2010.
O primeiro fato digno de registro foi o megaempresário Sílvio Santos, em plena campanha eleitoral, ter visitado misteriosamente o presidente Lula no Palácio do Planalto, na semana seguinte ter colocado o SBT em declarada campanha pró-Dilma – chegando a criar o fatídico episódio da bolinha de papel na cabeça do candidato José Serra, desmentido horas depois pelos grandes jornais e emissoras do país – e, na semana seguinte, abocanhar um empréstimo de R$ 2,5 bilhões para salvar o Banco PanAmericano da falência. O dono do Baú, mesmo com essa dívida monumental, continua dando suas famosas gargalhadas e jogando cédulas de Real em forma de avião para a plateia, numa clara evidência de que pão e circo são as atrações favoritas do humilhado povo brasileiro.
Dias depois de Dilma Rousseff vencer o pleito presidencial, a Câmara Brasileira do Livro anunciou que o Prêmio Jabuti 2010, a maior premiação literária do país, seria entregue ao cantor e compositor Chico Buarque pelo romance  “Leite Derramado”. Não por acaso, Chico sempre foi o principal porta-voz do PT junto à classe artística e atuou maciçamente nela como cabo eleitoral de Dilma. Deu-se o inferno. Em outubro, a CBL havia anunciado os vencedores nas subcategorias e a obra de Chico Buarque ficara em segundo lugar, sendo vencedor o jornalista Edney Silvestre com o romance  “Se Eu Fechar os Olhos Agora”. Tampouco por acaso, o jornalista é funcionário da Rede Globo, que demonstrou uma tendência pró-Serra nas disputa eleitoral. Resultado: de forma suspeita, no início de novembro, a CBL anunciou Chico Buarque como o grande vencedor do ano.
Ao contrário do que gosta de pensar Lula, como a opinião pública não é ele nem o PT, milhares de brasileiros indignados com os critérios da premiação
e com a vitória duvidosa – e talvez política – de Chico Buarque, assinaram a petição online  “Chico, Devolve o Jabuti!”. Alheio à discussão, o cantor recusou-se a acatar o pedido da multidão e não devolveu o prêmio, que inclui um cheque de R$ 30 mil. De quebra, o livro será transformado em peça teatral e o Ministério da Cultura, antes mesmo da existência do texto, já aprovou sua captação de recursos, através da Lei Rouanet, no total de R$ 1,5 milhão.
Mas essa é só uma parte da fatura que o dinheiro do povo irá pagar. Segundo denúncia da revista Veja, “entre 2010 e 2011, a Caixa Econômica Federal irá despejar R$ 9,5 milhões em projetos que celebram Chico Buarque”. Para finalizar essa relação  de total conflito de interesses e tráfico de influência, Anna de Hollanda, irmã caçula de Chico, foi escolhida pela presidente eleita Dilma Rousseff para ser a nova ministra da Cultura.
A última grande desgraça de 2010 ficou por conta do dito rei Roberto Carlos. Há 36 anos o cantor e compositor integra a programação desta época do ano. Mesmo com pérolas da música popular brasileira no repertório, a mesmice dos shows vinha definhando sua audiência e encerrará 2010 com sua duvidosa majestade em xeque-mate. A realização
de seu espetáculo na famosa praia de Copacabana, na noite de Natal, irritou os cariocas e deixou os moradores ilhados após uma equivocada decisão da Prefeitura, impedindo todos os acessos ao gigantesco bairro.
O resultado foi uma avalanche de protestos e, apesar do contrário propalado, o absoluto fracasso do evento, onde compareceram cerca de 200 mil pessoas, apenas 20% do público de 1 milhão de pessoas que era esperado. Isso sem contar a lebre que corre relatando que o show teria custado entre R$ 1,5 e R$ 2 milhões aos cofres públicos, valor alocado sem processo licitatório e com concessão exclusiva à principal emissora de TV do país.
Quando nada, esse foi o pior show de fim de ano da carreira de Roberto Carlos e já é uma mancha em sua trajetória, bem como no caminho político
do prefeito Eduardo Paes.Que venha, então, esse tal Ano Novo!

Helder Caldeira é Escritor, Colunista Político, Palestrante e Conferencista