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Opinião

Acredite se quiser

Alguém está de fato preocupado em combater as grandes mazelas sociais? Se a dor da fome, da ausência de um teto digno para morar e os mais diversos tipos de privação atingisse todos os segmentos sociais, certamente já se teria encontrado uma solução plausível de políticas públicas para o bom combate social.

Mas como no Brasil as classes dominantes de políticos e de empresários bem-sucedidos só pensam, respectivamente, nas glórias do poder, nas mordomias, nas benesses públicas e nos altos lucros, carrear recursos para dar dignidade à população carente com investimento em saneamento básico, moradia, emprego, educação etc. tudo isso é uma mera ficção de propósitos, respaldada nas falsas promessas de governos, que vão se sucedendo e não solucionam com ações eficazes as antigas agruras sociais.

Somos um País megalomaníaco para tudo, menos para combater a pobreza dos infortunados. Muitos oportunistas políticos se apresentam, com bandeira em punho, pregando a defesa social, mas depois de eleitos revelam a sua verdadeira face mentirosa e pérfida.

Dão migalhas aqui e acolá e passam a vivenciar outra realidade: a da ribalta do poder, da qual provam e gostam, e começam ter comportamento igual ou pior à velha burguesia brasileira.

Quando se vê a euforia de autoridades governamentais com a exploração de petróleo em águas profundas, no chamado pré-sal, onde serão investidos milhões de dólares em infra-estrutura, numa operação que pode ou não dar certo, tem-se a exata dimensão do abismo que separa – a vontade e não vontade – da política governamental.

De um lado está a vontade megalomaníaca de deixar cunhada na pedra do pré-sal, para a posteridade, o nome do governo, de forma extemporânea principalmente agora quando se está procurando alternativa barata de energia não poluente.

E, do outro, temos a não vontade, representada pela velha e conhecida incúria dos políticos e governos, que não querem investir no social sob a falaciosa argumentação de não haver recursos públicos disponíveis. Recursos sempre existiram.

Só que são destinados para cobrir o rombo deixado com o desperdício da máquina pública de Brasília, com altos salários dos ministros do STJ e STF, dos deputados e senadores etc. Quando se escuta o governo dizer que o dinheiro oriundo do pré-sal será canalizado para o social, educação etc. parece que o presidente da República pensa que todos somos uns idiotas para continuar acreditando nas encardidas promessas vãs.

Ou ele se faz de sonso para nos dar o bote, ou é muito pretensioso em achar que esquecemos o seu comportamento para com a CPMF.

Até quando seremos enganados? Vejam como se comportou a Câmara Federal, diante da suposta crise de caixa do governo: no dia 1º de janeiro de 2009, a Câmara dos Deputados deu posse a 11 novos parlamentares federais, que imediatamente entraram de férias sem trabalhar e recebendo as sinecuras regulamentares.

Este País não é uma mãe? Quando, senhores, o Congresso vai ter vergonha e respeitar os gastos públicos?

Se o País fosse sério, e em respeito a seus desassistidos sociais, a posse desses suplentes políticos seria apenas um ato formal, mas sem direito a nenhuma remuneração até o reinício dos trabalhos legislativos, já que a Casa estava em recesso parlamentar.

Mas sabemos que isso é querer exigir demais de nosso viciado corpo político. Quem assistiu à posse pelos meios de comunicação viu a alegria contagiante estampada no rosto de cada suplente.

Afinal, ser parlamentar no Brasil é uma dádiva caída do céu àqueles que conseguem ingressar no comitê privilegiado das benesses públicas. E só ter a sensação de iniciar a vida "espinhosa" política recebendo sem trabalhar já é um grande alento para muitos quererem continuar e não largar mais a "cansativa" e "desgastante" faina pública.

Realmente, não entendemos da arte matreira: "quem parte ou reparte e não fica com a maior parte ou é burro ou não entende da arte." Eles estão certos, e nós é que somos uns estultos de bandeira empinada pregando moralidade no deserto.

Eles têm mesmo é que rir de nossas desgraças. Somos uns cara-pálidas incorrigíveis porque continuamos a votar nessa corja que dilapida o País.

Julio César Cardoso é bacharel em Direito e servidor federal aposentado