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Renda do setor vai desabar no Brasil, nos EUA e na Argentina

Conforme dados do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), o faturamento dos agricultores norte-americanos deverá cair neste ano-safra ao patamar mais baixo desde 2003

A renda do setor agropecuário dos três principais fornecedores de alimentos para o mundo – Brasil, Estados Unidos e Argentina – deve registrar queda superior a R$ 80 bilhões em 2009, segundo estimativas de associações agrícolas desses países. A combinação entre recessão, desajuste entre custos e preços e impactos negativos do clima pode fazer, inclusive, com que alguns setores passem a registrar perda.

Conforme dados do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), o faturamento dos agricultores norte-americanos deverá cair neste ano-safra ao patamar mais baixo desde 2003. Segundo o órgão, o lucro líquido da atividade agrícola terá retração de 20%, para US$ 71,2 bilhões, ante o recorde de US$ 89,3 bilhões. A exemplo do que já aconteceu com agricultores brasileiros e argentinos na última safra, o aperto no orçamento deverá fazer com que os produtores norte-americanos adiem as aquisições de tratores, fertilizantes e sementes.

No Brasil, a renda do produtor com a safra de grãos deve encolher em R$ 10,4 bilhões, segundo estimativa feita pela RC Consultores. O estudo feito no início deste ano estima para a safra 2008/2009 um rendimento da ordem de R$ 79,4 bilhões aos agricultores, ante R$ 89,8 bilhões contabilizados na safra passada. Esta seria a primeira queda na receita de grãos em três anos.

O aumento dos custos de produção vai gerar uma necessidade de recursos da ordem de R$ 155 bilhões para financiar a próxima safra (2009/2010), segundo a Confederação Nacional de Agricultura (CNA). Desse montante, R$ 78 bilhões será para a produção de grãos. "Trouxemos esses números para explicar a dificuldade que o produtor terá para a próxima safra. Se as tradings, que respondem por mais de um terço do financiamento da atividade, se afastaram, será preciso substituí-las", afirmou Kátia Abreu, presidente da CNA, após reunião com o presidente da República nesta semana.

De acordo com José Sidnei Gonçalves, pesquisador do Instituto de Economia Agrícola (IEA), ainda é precipitado traçar um panorama para a safra brasileira, mas é certo que será um ano muito apertado em termos de rentabilidade e, mesmo com todos os esforços do governo, o Brasil não conseguirá manter o patamar de exportação do último ano. Segundo ele, a definição deve acontecer após o mês de março, período em que se inicia o pico da safra para os principais grãos e a divulgação do resultado das empresas no primeiro trimestre. "Não sei se o cenário é de marola, me parece mais complexo. O que aparece na imprensa é a queda de setores onde já se sabe que há problemas, como o sucroalcooleiro e o de celulose, mas acho que a crise vai pegar outros setores exportadores e vai pegar áreas importantes como soja, milho e algodão", avalia Gonçalves.

Os produtores rurais argentinos, por sua vez, terão uma queda no faturamento de cerca de R$ 28 bilhões em 2009, segundo cálculos das Confederações Rurais Argentinas (CRA). Além das perdas em consequência da seca o impasse entre setor agrícola e o governo de Cristina Kirchner tornam o cenário ainda mais pessimista. Em 2008, os embarques da atividade agropecuária somaram US$ 28 bilhões, 40% das exportações totais da Argentina. O setor contribui com 14% da arrecadação do Tesouro, por meio do pagamento de direitos de exportações de grãos, carnes e laticínios.

Greve na Argentina

Nem mesmo o agendamento de uma reunião com o governo para a próxima terça-feira, anunciado por Débora Giorgi, ministra da Produção, impediu que os agricultores argentinos declarassem uma nova greve como protesto contra a atual política agrícola do país. Os ruralistas decretaram a paralisação do fornecimento de grãos e boi gordo por pelo menos quatro dias. Leite, frutas, hortaliças e ração para o gado continuarão sendo comercializados.

Durante uma coletiva de imprensa, Mario Llambias, presidente da CRA, sinalizou que os agricultores aceitaram o convite do governo, mas não as condições que estão sendo impostas. "Falaremos de todos os temas que precisam ser tratados, incluído as retenciones – limitações às exportações agrícolas – , a questão do leite, carnes, seca, tudo", destacou Llambias