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Crise paralisa 50 frigoríficos no país

A Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) estima que um total de 50 unidades brasileiras estão com os abates paralisados por conta dos reflexos da crise financeira internacional no setor. De acordo com o presidente da Abrafrigo, Péricles, Salazar, o abate mensal dessas unidades é de 30 mil cabeças e chega a representar 15 mil postos de trabalho.
Ao participar de audiência pública ontem (17) na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado, ele lembrou que há "um receio generalizado" por parte dos produtores em relação à venda de bois a prazo. "As restrições e as garantias aumentaram na mesma proporção da crise".
Salazar se disse surpreso com notícia de um pacote de socorro aos grandes frigoríficos brasileiros, divulgada ontem pelo jornal Valor Econômico. Ele criticou a estratégia de colocar mais dinheioro "em meia dúzia ou em uma dúzia de empresas" e afirmou que ninguém pensa no pequeno e no médio produtor.
"O governo terá que fornecer um norte sem que o dinheiro público financie essa solução. A injeção financeira não será o remédio adequado para a crise", acrescentou.

CONTESTAÇÃO

Em debate promovido pela Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA), os senadores cobraram dos grandes frigoríficos em recuperação judicial transparência na apresentação de seus problemas financeiros, em especial na identificação de dívidas contraídas. Os parlamentares também querem prioridade para o pagamento aos pecuaristas que entregaram seus animais para abate.
Osmar Dias (PDT-PR) foi o primeiro a cobrar a apresentação de informações precisas sobre a crise nos grandes frigoríficos. "Precisamos saber qual é o tamanho do buraco, até mesmo para que o governo saiba quais serão as medidas necessárias para tapar esse buraco. É preciso cuidado para que os recursos públicos não sejam jogados fora", frisou ele. No mesmo sentido, a senadora Kátia Abreu (DEM-TO) cobrou a elaboração de um "mapa verdadeiro da situação".
"Sempre cobramos transparência da cadeia produtiva. Agora precisamos saber quando e como os produtores poderão receber esse dinheiro”, disse ela, referindo-se ao pagamento pelos animais entregues aos frigoríficos." Kátia Abreu também cobrou informações sobre o uso de R$ 250 milhões emprestados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ao grupo Independência, em novembro de 2008.
Já o senador Valdir Raupp (PMDB-RO) defendeu a ajuda à rede Independência.
"Se o Brasil teve quatro bilhões de reais para socorrer o Grupo Votorantim, por que não socorrer o grupo Independência, que está há trinta anos no mercado e pela primeira vez enfrenta dificuldades?", questionou.

DISCUSSÃO

Já o presidente da CRA, senador Valter Pereira (PMDB-MS), assinalou o interesse da comissão em entender a crise na pecuária brasileira e discutir com todos os segmentos envolvidos uma solução para o problema. Conforme sugeriu, é preciso que o governo tente agilizar um encontro de contas entre cada um desses segmentos.
De acordo com o senador, tal fato se torna medida fundamental para que as empresas em dificuldades possam alavancar o crédito necessário ao saneamento de suas dívidas. "Acho que a comissão marcou um tento em sua contribuição", afirmou ao final da audiência pública.