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Opinião

Biografia é educação

Na saudável comunicação do leitor com o jornalista que a internet possibilita, observações e contribuições são sempre bem-vindas. Também são positivas por levantar questões que efetivamente merecem ser abordadas. Este foi o caso de uma leitora do interior de Minas, professora, que observou a freqüência com que nos referimos a datas e figuras históricas em nossos artigos, fazendo um paralelo entre o passado e o presente. Indaga a atenta leitora a inspiração desta busca de biografias, muitas das quais desconhecidas do leitor mais jovem.
Fiquei pensando na observação e na pergunta e concluí que buscar nomes do passado é uma forma de enfrentar o pessimismo com o presente. Mostrar que até recentemente tínhamos valores a serem admirados e tentar fortalecer o sentimento de resistência e de luta para a volta dos padrões éticos e morais que dão sustentação e estabilidade ao regime democrático. Os períodos de exceção ao longo da história, da nossa e do resto do mundo, surgiram das crises econômicas, morais e na perda da confiança popular nas elites dirigentes. E sempre com muito cuidado para que estas situações não se tornem definitivas, com prejuízos para os regimes de liberdade.
Realmente, assim tem sido, desde a Revolução Francesa, que reagiu (e mal) a um desgaste do poder monárquico, salva pela entrada em cena de um jovem general, que foi Napoleão Bonaparte. Mas as crises políticas e as pressões externas livraram a França do terror criminoso, mas não permitiram que ingressasse no progresso que o cônsul e depois Imperador queria lhe imprimir – e em parte o fez –, como bem revela em suas memórias de Santa Helena.
Acredito que são os homens que fazem a história e não apenas os acontecimentos. Não fosse Napoleão, a França teria atravessado muitos anos de violência e privações. Não fossem inábeis os vencedores da Primeira Guerra, não teríamos tido a segunda. Não fosse o general Francisco Franco, um iluminado, predestinado, a Espanha teria mergulhado no comunismo e o mundo hoje seria diferente. Basta uma olhada no livro A Batalha da Espanha, que está nas livrarias, para se compreender a importância para o ocidente daquele bem-aventurado espanhol. Fosse outro o governo dos EUA, a Alemanha teria sido contida a tempo, como defendeu insistentemente a Itália, assustada com a falta de liderança na França, a ingenuidade na Inglaterra e a influência de Stalin nos EUA de Eleanor Roosevelt. Portugal, então, seria um país das dimensões econômicas da Albânia, não fosse a presença austera de Antonio Salazar, pelo menos nos seus 25 primeiros anos de governo.
No Brasil, sempre tivemos a mão de Deus a nos oferecer um Pedro I, orientado por José Bonifácio e depois um Pedro II, ajudado por um Paraná e um Caxias. Uma República que só se consolidou pela correção de seus primeiros presidentes e a firmeza do ministro da Guerra de três governos, general Dionísio de Castro Cerqueira. Chegamos à modernidade em 30; nos livramos dos radicalismos em 37; encontramos a democracia em 45; salvamos a democracia em 64; nos inserimos no mundo ocidental com presença forte com a redemocratização de 85; hoje, somos respeitados pela orientação correta  na economia lançada por Collor e Itamar. Claro que estudar os homens é compreender melhor a história.
Agora que entramos no ano do centenário de Tancredo Neves, não haverá como se evitar a lembrança do Marquês do Paraná, seu grande inspirador na busca da conciliação nacional. A leitora atenta tem toda razão ao observar que escrevemos muito sobre personagens. Eles é que fazem a história e influem em nossos destinos.
Nesses tempos de escolhas, o eleitor deve pensar na personalidade dos candidatos, na formação moral, no relacionamento com parentes, amigos e companheiros. Na maneira de se comportar, com cordialidade ou com ressentimentos, com alegria ou com mágoas. É muito importante saber como são os políticos, de onde vêm, com quem aprenderam e o que fizeram. Afinal, sabemos que só o amor constrói e nada de bom pode partir de quem cultiva mágoas, ressentimentos, idiossincrasias e não tem alegria no viver e no conviver.

Aristóteles Drummond é Jornalista, Administrador de Empresas e Relações Públicas