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CRÔNICA: O homem menino e o menino homem

Escrito pelo Padre Sandro Rogério

Era início da noite. Vagava em meio às pessoas e lojas. O shopping estava preparado para o aumento no fluxo de pessoas naquele horário. Fui levado pela fome à praça de alimentação. Contemplei mansamente a comida exposta e atrativa aos olhos famintos dos passantes. Nem queira saber como estavam os meus! Aliás, o olhar que me guiou veio da barriga (risos).

Uma agitação concentrou atenção de todos os presentes. Um homem “atacou” violentamente um jovem garçom, abrindo-lhe a camisa e retirando-lhe o avental. Tudo de modo estúpido. Outros garçons por ali acudiram o companheiro de trabalho. O jovem nada disse. O homem esbravejava. Não encontrei sentido – pelo menos não de onde avistava a cena.

O jovem foi levado calmamente para dentro da cozinha do restaurante. Outros garçons e seguranças conversavam com o referido homem. Ninguém sabia direito o que se passou. Arrisquei:

– Ele estava bêbado?

– Não sei nem o que aconteceu… respondeu-me a atendente da balança.

Saí sem saber ao certo, mas acompanhava ao longe toda a movimentação. Ao final da refeição fiquei ainda sem saber ao certo o fato gerador daquela muvuca. De longe ouvi a atendende confidenciar a uma dessas curiosas de plantão que não havia motivos para a tal agressão física.

Matutei a situação. Fiquei encantado com o comportamento do “menino”. Verdadeiro homem, não revidou, não se exasperou. Havia rubor em sua face. Seu ser franzino estava desajustado ao lugar. Afinal, enquanto tantos por ali passeiam e se refestelam, ele ganha a vida, trabalhando… E, no trabalho, alguém lhe feriu.

Se por um lado, vi um menino homem, por outro, vi um homem menino. Um homem (pela idade, cerca de 35 anos) com comportamento pueril. Daqueles que resolvem as querelas na base da porrada.

Que exemplo me deu aquele homem? Nada que valha à pena guardar e repetir. Mas, posso confirmar. Há muitos homens meninos pela vida. Desses que brincam e brigam e se consideram viventes! Há muitos meninos homens pela vida. Desses que mesmo sem a experiência angariada ao longo dos anos sabem silenciar diante do inominável desaforo alheio.

Graças a Deus, ninguém saiu ferido da brincadeira provocada pelo homem. Seria muito desagradável ver aquele menino ferido na dignidade pelo “menino” passado em anos que se considera, e poderia até mesmo pela identidade atestar-se, homem.

A cronologia de nossa vida nem sempre está de acordo com a experiência apreendida no acumulado dos anos. Peçamos a Deus nos dê sabedoria para contar os nossos dias e na longevidade da vida também tenhamos conteúdos condizentes e amadurecidos, cada qual a sua estatura.

A sabedoria não é fruto do amontoado de anos, mas da docilidade às experiências quotidianas da vida. Para cada quantidade de anos, uma quantidade de experiência e maturidade se espera. Se a vida é uma escola, esforcemo-nos por sermos bons alunos dela.

Padre Sandro Rogério dos Santos

Adm. da Paróquia São Miguel Arcanjo – Piquerobi

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