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Poupança, o pior caminho prevaleceu

Pois bem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preocupado com os efeitos políticos na mudança do cálculo dos rendimentos da caderneta de poupança, optou, sim, pelo pior caminho. Em vez de enfrentar tecnicamente o problema, tomou medidas paliativas em seu governo, deixando a resolução final para o próximo presidente. Uma decisão que contrasta com aquele presidente do primeiro mandato, que não se cansava de repetir não ter receios de tomar medidas impopulares em nome da estabilidade econômica. Agora, curvou-se às pressões politiqueiras.
Pior ainda é que o caminho adotado vai acabar beneficiando, nesse ano, exatamente aquela turma que alguns petistas adoram atacar, mesmo muitos fazendo parte dessa galera: os rentistas. Isso mesmo, Lula vai baixar o Imposto de Renda de aplicações financeiras em fundos de investimentos caso o Banco Central faça nova redução na taxa de juros. Objetivo: torná-los mais atraentes que a caderneta de poupança.
Dentro do governo, auxiliares de Lula culpam a oposição de ter transformado o caso da poupança numa bandeira política. Com isso, teria ficado impossível seguir pelo caminho mais racional. Qual seja? Acabar com aquela parcela de juros tabelados para o rendimento da caderneta de poupança. Se um dia isso fez sentido, no cenário que se desenha para o Brasil perdeu totalmente a razão de existir. Com a taxa básica de juros do Banco Central caindo, caminhando para ficar abaixo dos dois dígitos, esse rendimento tabelado trabalha contra o bom funcionamento da economia.
Bem, explicando um pouco melhor o caso, hoje a poupança rende 6% de juros garantidos todo ano, mais a variação da TR (Taxa Referencial) –calculada com base na média dos juros cobrados por bancos na negociação de CDBs. Com os juros do BC caindo, os fundos de investimentos –aplicação preferida da classe média para cima– estão perdendo competitividade. Resultado: há o risco de uma migração de dinheiro dos fundos para a caderneta de poupança. E risco porque, nesse caso, o governo poderia ter dificuldades em rolar sua dívida, financiada pela grana dos rentistas aplicada nos fundos de investimento.
O governo deveria enfrentar de frente o caso e propor o fim dos juros tabelados de 6% anuais, deixando que cada banco ofereça a remuneração mais apropriada de acordo com as força do mercado. Não trilhou esse caminho. Acredita que isso não é tarefa para governo em fim de mandato. Mas o principal motivo, realmente, foi não dar munição para a oposição na véspera da eleição presidencial. Afinal, a oposição disse que o governo estava preparando um confisco ao estilo Fernando Collor –o que é uma grande mentira, mas na guerra política, infelizmente, tudo vale–, o suficiente para o governo Lula balançar e evitar mexer profundamente no sistema. E Lula realmente não quer alterar a vida da maioria dos poupadores brasileiros, principalmente os pequenos, que sempre viram na poupança um porto seguro para momentos de necessidade.
E, além de não ter trilhado o melhor caminho, não é que o governo acabou divulgando um conjunto de regras confusas, repleto de detalhes que requerem praticamente um manual para evitar erros. Enfim, pelo menos o governo fez algo para manter as taxas de juros em queda.

Valdo Cruz é jornalista é jornalista e repórter de matérias especiais