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Opinião

Ciclos Viciantes

Um tema habitual em consultório são as escolhas repetidas que fazemos, seguindo um padrão, de tal forma que mudamos nossas amizades, relacionamentos e repetimos o mesmo compasso em outras relações, exemplo clássico disso são as mulheres que escolhem homens que não querem compromisso, envolvem-se com eles e na busca de uma relação sentem-se usadas, inclusive sexualmente; homens que escolhem mulheres que sempre estão seduzindo; mulheres que se julgam inferior, suas escolhas seguem padrão claro: encontrar homens que a inferiorizam ou as deixam para trás.
Quando trato o tema exemplifico com a seguinte questão: uma roupa só para quando temos um gancho para pendurá-la, nas relações isso se manifesta da mesma forma, nosso gancho é inconsciente e não percebemos como fazemos nossas escolhas.
 O trabalho de análise é exatamente esse, interromper o processo repetitivo através da percepção consciente da força que está oculta e racionalmente não é percebida.
 Muitas vezes as mulheres seduzem sem desejar seduzir, acabam por achar “natural” as seduções, “esse é seu jeito”, verdade por um lado, porém esse “jeitão” de ser é também a sua defesa, o que Reich, chama de defesa de caráter.A forma de defesa igual e constante, para situações diferentes de forma inflexível, implica em erros e escolhas “tortas” pela incapacidade de mudar.
Existe saída, é preciso redescobrir como se é levado aos labirintos que conduz sempre a um local sem saída e repete-se num ciclo continuo e infeliz. Mudar e não recorrer à defesa convencional, para cada sujeito aplica-se de uma forma.
 Um psicólogo experiente consegue rapidamente perceber esse ciclo, mudá-lo é outra conversa, pois o sujeito que reclama, quer a mudança, sem a busca da origem de seu eterno retorno, não por preguiça ou incompetência, isso se dá porque descobrir algo que está oculto, provoca dor, e aí reside à dificuldade da análise, quando por ventura explicamos o acontecido, não existe reflexo no sujeito, pois o conteúdo emocional, não está no raciocínio, está guardado a sete chaves no fundo da alma e só quando tem uma percepção emocional daquilo oculto é que acontece naturalmente a mudança. Na verdade é como se a ponte que liga a vida consciente com as forças guardadas e escondidas na sombra do inconsciente não existisse, portanto a função simbólica do sujeito está avariada, precisa recompor o mundo simbólico e entrar em contato com sentimentos guardados para que se possa mudar, daí temos os famosos “insights”.
 A mudança a partir daí é natural e nem sabemos como conseguimos romper o ciclo viciante das repetições infelizes, mas com certeza percebemos o efeito em nossa capacidade de sentir alegria e amor.
Os problemas continuam, isso é a vida, muda nossa capacidade de encarar, tornamo-nos mais flexíveis na resolução de questões que antes pareciam insolúveis, assim como em nossas escolhas, agora livre do gancho interno não se repetem às escolhas infelizes.
                                                                                                              

Silvio Rocha é Psicólogo