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Três Lagoas

A verdadeira rotina do Circo além do picadeiro

Nômades, a família circense viaja o país levando alegria às cidades do interior

Uma pequena cidade ambulante, cheia de cores e histórias. Assim pode ser resumida a vida da família conhecida como Pantaneiros, agora no comando do Circo Fox. Eles viajam pelo Brasil, rodando o interior dos Estados com "carrinhos" que são casas, os famosos traillers de circo, capazes de acomodar confortavelmente toda família circense.

Nômades, eles trocam de lugar a cada cinco dias e garantem gostar de fazer tantas mudanças.  Essa semana eles passaram por Três Lagoas.

De acordo com Djalma Dias Farias, 43 anos, que se auto define palhaço, trapezista, dono, paga contas, empresário entre outras funções desempenhadas por ele no circo, o Fox é resultado de uma divisão entre irmãos. “Meu pai tinha um circo e nós resolvemos desmembrá-lo e desta divisão cinco novos circos foram criados, um para cada irmão, desde então já se passaram dois anos”, lembrou.

Pertencente a quinta geração, Djalva nasceu no circo e viu sua família crescer gradualmente, hoje é pai de três e tem dois netos que também vivem no circo. “Marcelo, meu filho mais velho é casado e participa do globo da morte, Jéferson de 18 anos, também casado, trabalha como palhaço, trapezista e o que aparecer, e Ana Paula, minha caçula de oito anos, é a bailarina. Aqui constituímos família cedo, aos 18 anos o filho já é um homem pronto, formado e cheio de responsabilidades”, explica.

Djalma também conta que começou a atuar depois de ver inúmeras apresentações de trapézio. “Tenho um netinho que toda vez que acaba o espetáculo ele começa a imitar o pai. O gosto pela profissão começa cedo. Não precisamos ensinar, eles vão aprendendo apenas de olhar. A primeira vez que fiz trapézio nunca tinha treinado”.

Religioso, o circense não esquece os agradecimentos a Deus e diz que todo seu sonho está realizado. “Agradeço a Deus por ter nascido. Poder estar aqui é atuar com um dom. O circo é a nossa vida. Não saberia te dizer o que eu seria. Já nasci com o pensamento direcionado a viver esta vida. Nem se me dessem uma casa enorme ou uma fazenda eu largaria o circo, pois a minha vida é aqui. Meu sonho já foi realizado, já temos nossos filhos, eles vivem com a gente, estamos todos os dias juntos, não temos vícios, vivemos em paz e isso já é uma grande vitória”.

O artista tem casa em Paulínia, interior de São Paulo, mas garante que o circo não tira férias e que pouco visita a casa. “Temos uma vida normal, moramos no trailler e temos tudo que uma casa tem, mas em espaço reduzido. Só compramos o que consumimos, quase não cozinhamos, compramos o que é necessário. Tudo que recebo aqui aplico para conforto do público. Não é difícil sobreviver do circo. Temos uma vida boa, conseguimos nos manter. Hoje tenho uma empresa”

SOBREVIVÊNCIA

Em meio a comentários de que o circo possa acabar, Djalma é otimista. “O que falta é incentivo à cultura circense. Não penso que vá acabar. Nosso circo tem muito público, nós temos uma boa divulgação, estrutura. O único problema hoje é a falta de incentivo, somos fortes porque um socorre o outro em caso de necessidade”, enfatiza.

Mas, nem só de flores é composta a vida no circo. Djalma explica que em alguns lugares há dificuldade para a instalação. Tem cidades que não podemos parar por não ter um espaço para comportar o circo. Por exemplo, aqui em Três Lagoas poderíamos ter um local bom, como o que colocaram o circo do Marcos Frota. Não me importava em pagar mais, pois queríamos um lugar melhor, mas eles dificultam. A Cidade se divide em muitos órgãos, enquanto poderia existir uma fusão. Tive que ir a muitos lugares para conseguir ficar aqui”.

CUSTOS

Segundo o proprietário, a estrutura do circo Fox é avaliada em R$280 mil. Apenas para montar o circo em Três Lagoas, ele aplicou R$4 mil, que correspondem aos impostos, energia e terreno. “Têm cidades que não pago nada, em alguns locais do Estado de São Paulo, por exemplo, as taxas são tão baixas que revertemos parte da bilheteria para instituições de caridade”.

Os ingressos podem ser encontrados a partir de R$4.  O espaço para público é de 1,5 mil pessoas. “Não penso em ter um circo maior, pois esse é o tamanho ideal, consigo atender o público que quero. Se fosse maior apenas o preço aumentaria, mas o espetáculo seria o mesmo. Quero atender a classe média, que possibilita pessoas carentes a frequentar e conhecer a magia”.

EDUCAÇÃO

Não é porque estão no circo e vivem cada semana em uma cidade que as crianças que acompanham o circo não podem estudar. De acordo com Marcelo Albino Faria, filho de Djalma, as crianças têm direito aos estudos. “Em qualquer cidade, onde a escola e creche estiver mais perto elas são obrigadas a aceitar nossas crianças. Assim eles estudam em uma escola diferente a cada cinco dias”.

Criado no circo desde que nasceu Marcelo conta que aprendeu muito na escola e que é apaixonado pela vida no circo. “Eu nunca pensei em seguir um caminho diferente. Somos pessoas comuns, e temos um trabalho um pouco diferente. Hoje eu trabalho no globo da morte. Nasci para a vida no circo”.
Segundo Djalma, existem pesquisas que compravam o aproveitamento das crianças chega a 70%, enquanto que das que frequentam normalmente é de apenas 50%. “O que vemos é que elas fazem a faculdade da vida, tem lições todos os dias, elas tem aulas de sobrevivência”.

O CIRCO

Antes mesmo de ter o circo, Djalma conta que o nome já existia. “A ideia do nome surgiu após meu pai comprar um carro Fox. Foi quando comecei a pensar. Circo Fox não saia da cabeça”.

Hoje o Fox conta com 25 colabodores, 15 deles estão nos espetáculos e 10 nos bastidores. “Somos uma grande família, não existem funcionários, aqui uns ajudam os outros”.

A próxima parada do Circo Fox é a cidade de Promissão, no interior de São Paulo