Veículos de Comunicação

Três Lagoas

Pecuaristas perdem mais de R$ 1,5 milhão com ?calotes? de frigoríficos

Cerca de 15 pecuaristas venderam gado à frigoríficos poderão recuperar o dinheiro só em 20 anos

Pecuaristas de Três Lagoas lutam para tentar receber de frigoríficos em processo de recuperação, em Mato Grosso do Sul e no interior paulista.

Conforme informações do Sindicato Rural de Três Lagoas (SRTL), a estimativa é que os frigoríficos devam mais de R$ 1,5 milhões para os produtores de gado de corte da Cidade. “Temos um grupo de 15 a 20 pecuaristas que perderam com a falência de frigorífico, seja este fechamento correto ou fraudulento, a maioria deles do interior paulista”, disparou o presidente do Sindicato Rural de Três Lagoas, Domingos Martins de Souza.

De acordo com ele, a média de perdas foi de R$ 70 mil a R$ 130 mil, por pecuarista. “O caso mais grave foi de um membro do sindicato que perdeu o total de R$ 600 mil”, completou.

O caso citado por Domingos, cujo nome do pecuarista será preservado, refere-se à venda de 650 vacas ao frigorífico Estrela D’Oeste, do Estado de São Paulo. Na lista dos produtores que sofrem com a inadimplência de frigoríficos, aparece outro produtor que perdeu nada menos que R$ 400 mil. Em outros casos, o prejuízo dos pecuaristas foi de R$ 85 mil e R$ 82 mil, com a venda de 72 bois cada um. Pela relação apresentada pelo Sindicato, o produtor com menor perda foi um que comercializou 20 vacas com um frigorífico, num total de R$ 18 mil, que ainda não foram pagos.

Casos como estes fizeram com que o Sindicato Rural lançasse em Três Lagoas a Campanha “Só à Vista”, encabeçada pelas lideranças rurais de três estados brasileiros (Mato Grosso do Sul, pela Famasul, Goiás e Mato Grosso). “Começamos a divulgar a campanha nos meios de comunicação. A medida visa conscientizar o produtor rural a mudar de comportamento. Agora, venda de gado só à vista e no peso vivo”, destacou.

Domingos explicou que, hoje, boa parte das comercializações do gado é feita já no frigorífico, com o gado abatido e os frigoríficos tem um prazo de 30 dias para pagar o produtor. A intenção é promover a venda de gado só à vista em toda a região e com a pesagem dos animais ainda das fazendas.

O projeto “peso vivo” já funciona no Estado do Rio Grande do Sul e, de acordo com o presidente do sindicato, já está trazendo resultados positivos. “O pecuarista é pior comerciante que há. Ele pergunta quanto, quando e como querem pagar pelo seu produto. Os pecuaristas não põem preço e nem prazo, é esta cultura que estamos tentando mudar”, destacou.

LEI DE FALÊNCIA

Mas os problemas dos pecuaristas que perderam com o fechamento de frigoríficos não param por aí. Domingos explicou que muitos deles irão ver o retorno do seu investimento apenas dentro de 20 anos. “Hoje é assim que acontece. O frigorífico feche e tem até 20 anos para pagar o pecuarista, alguns deles nem estarão mais vivos quando receberem tudo de volta.”, disparou.

A medida é baseada na Lei de Falências, de 2005. Segundo o sindicalista, por ela, os produtores rurais são os últimos na lista de quitação de dívidas. “E a juros judiciais, o mais baixo que há: 12% ao ano, sendo que a média é de 2% ao mês, juros normal. Agora imagine se eu fosse pagar meus fornecedores de sal, vermífugos, por exemplo, em 20 anos?”.

O pecuarista completa: “As pessoas de fora do mundo da pecuária desconhecem o funcionamento. Vêem pecuaristas de caminhonetes e acham que todos estão esbanjando dinheiro. Não sabem que a caminhonete é, muitas vezes, parcelada e uma necessidade, não luxo, já que o único meio de transporte que agüenta as nossas estradas rurais”.

A mudança da legislação atual sobre falência também foi um dos assuntos discutidos durante a vista do senador Valter Pereira (PMDB), em Três Lagoas. O Sindicato busca forças junto à bancada ruralista do Senado, a qual Pereira faz parte, para tentar alterar, na lei, a ordem de prioridades de quitação de dívidas. A intenção é colocar os produtores em segundo lugar na ordem de pagamento das dívidas, ficando atrás apenas dos funcionários. Apenas em Mato Grosso do Sul, 30 frigoríficos fecharam no ano passado e passaram por processo de recuperação.

O encontro aconteceu na noite de ontem (7), na Casa do Criador (Parque de Exposições). Entre outros assuntos, o parlamentar falou sobre legislação ambiental, situação dos frigoríficos e seguro rural.