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Três Lagoas

ESPECIAL: Lei da Acessibilidade ainda é desafio

Embora a lei exista, vários prédios e vias públicas não estão acessíveis

Caminhar, correr e andar tranquilamente pelas ruas da Cidade é uma realidade para maioria da população. Mas, os portadores de deficiência que vivem em Três Lagoas enxergam essa liberdade como uma verdadeira prisão.

Embora a lei exista,  vários prédios e vias públicas não estão acessíveis. A conquista da autonomia e da independência é uma das características da cidadania. Parte desse processo tem relação direta com o bem-estar do indivíduo no meio em que ele vive, e a acessibilidade é garantida por lei para todos.

A maioria dos ambientes construídos apresenta barreiras visíveis, algumas chegam a ser invisíveis. Como o caso da construção de rampas de acesso no município. Para quem não necessita delas, talvez apenas de ver o rebaixamento na calçada não se preocupe com as normas de adequação, mas a realidade é uma outra bem diferente.

Segundo o presidente do CREA-MS, Jary de Carvalho e Castro, a questão atinge várias cidades brasileiras, para ele a situação vai muito além das adaptações executadas fora das normas regulamentadoras. “O problema de algumas rampas inadequadas é a construção sem acompanhamento. Muitas vezes as pessoas dispensam a presença de engenheiros e arquitetos e o serviço acaba saindo errado, o que leva a readequação, ou seja, os custos acabam onerando e saindo mais caro”, explica.

O objetivo da acessibilidade é permitir um ganho de autonomia e de mobilidade a uma gama maior de pessoas, até mesmo àquelas que tenham reduzida a sua mobilidade ou, até mesmos,  para as que usufruam dos espaços com mais segurança, confiança, comodidade.

Todos os impedimentos concretos, entendidos como a falta de acessibilidade dos espaços são barreiras. Elas compõem a forma como as pessoas são vistas pela sociedade, na maior parte das vezes representada pelas suas deficiência e não pelas suas potencialidades.

O caso do servidor público, e presidente da Associação Caminhar, Ivan José de Souza, 33 anos, pode ser classificado como um resumo dos problemas por que passam diariamente os cadeirantes. Tetraplégico desde os 23 anos, Ivan se acidentou durante um mergulho. “Eu estava brincando. Pulei de ponta e bati as mãos no chão, foi quando fiquei tetraplégico. Antes eu tinha uma rotina agitada, fazia faculdade, namorava, andava de moto, de carro, trabalhava, jogava bola, nadava, era super ativo. Com o acidente passei um mês e meio sem nenhum movimento, com tratamento e fisioterapia melhorei. Em nenhum momento entrei em depressão, mas muita coisa mudou”, relatou.

Ivan conta que a maior dificuldade para quem está numa cadeira ainda são as rampas. “Pode parecer mentira, mas nossa dificuldade principal está no acesso as rampas. Há muitos lugares inviáveis, que não é possível entrar, como no caso do correio, onde a rampa é totalmente inclinada. O Erpe (Edifício das repartições públicas estaduais) também não possui elevador ou ainda banheiros, não está acessível ainda. Tudo isso dificulta”, explicou.

O presidente da associação lembra ainda a dificuldade quando a questão é estacionamento. “As vagas que são reservadas a nós muitas vezes ficam em espaços ruins, ou ainda, em lugares muito movimentados. Eu nunca andei de ônibus para falar da situação, mas tenho problemas com relação aos estacionamentos”, contou.

CAMINHAR

De acordo com Ivan, não é possível definir a quantidade de portadores de deficiência em Três Lagoas. “Não saberia te dizer o número. Esta é uma questão delicada, pois já fomos há várias instituições, mas nenhuma delas sabe informar. O problema é que muitas pessoas não se colocam como deficientes, por isso é difícil falar. Hoje os dados do censo não colocam os deficientes. Seria ótimo se isso fosse inserido, pois com as estatísticas seria possível atender melhor esta classe”.

Com intuito de melhorar a qualidade de vida dos portadores de deficiências, a Associação Caminhar empossa no dia 16 de agosto a nova presidência. De acordo com Ivan, o primeiro objetivo é conseguir uma sede acessível a todos os associados, num segundo momento conseguir um transporte, já que muitos não têm como se locomover e no terceiro, ouvir a necessidade de todas estas pessoas. “Não é uma pessoa que faz uma associação. São histórias e lições de vida que devem ser compartilhadas. Com a troca de experiência que conseguiremos saber exatamente quais são as necessidades para então trabalharmos de acordo com elas”.

“Muita coisa precisa ser feita”, reconhece secretário de Obras

Segundo o secretário de Obras, Getulio Neves, todo o centro da cidade está acessível. “Nós nos readequamos às normas exigidas. Todos os órgãos públicos foram adequados. Com relação ao centro da cidade, onde não há rampa para cadeirantes é porque já existe um espaço destinado ao carro que pode ser utilizado. Fora do espaço central, muita coisa ainda precisa ser feita”, disse Getulio.  

A realidade é que a Cidade ainda caminha na questão da acessibilidade. Segundo o presidente do CREA-MS, a vontade dos políticos é grande. “As pessoas já falam muito sobre acessibilidade. Ao longo dos anos estamos conseguindo cumprir nossa missão de disseminar a necessidade. Em algum momento todo mundo precisa e sempre estamos suscetíveis a isso. Com o tempo o degrau fora do padrão passa a ser encarado com dificuldade. A acessibilidade facilita a vida de todos. Vejo como um compromisso com o cidadão”.

Para Jary , ainda não existe uma cidade brasileira que possa servir de exemplo. “Todas estão caminhando, algumas mais rápido, outras mais lentamente. Mas, o fato é que estão evoluindo. Para que cada vez mais sejam acessíveis”.

“Três Lagoas é uma cidade plana, aqui o trabalho realizado pela prefeitura no quadrilátero central deveria ser estendido aos bairros, melhorando assim a qualidade de vida das pessoas”.

O problema pode ser resolvido com mudanças simples, como rampas, corrimão, balcão de 80 cm, corredores mais largos para circulação de cadeirantes, entre outras. A obra acessível não onera mais que 1,5% no valor total da obra.