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Só indignação, não basta!

Dias atrás, conversando com uma querida amiga que terminou um relacionamento conturbado e doloroso de anos, ela me disse: “amiga, nós dois somos igual ao Senado: não tem jeito!”
Ouvir esta frase não foi nada engraçado, ao contrário, foi duplamente triste para mim, pela minha amiga que perdeu alguns de seus melhores anos com um canalha e, por todos nós brasileiros, que também convivemos quase que diariamente com a falta de vergonha.
Eu ainda não havia escrito nada sobre o Conselho de Ética do Senado, em 19.08.2009, ter absolvido o presidente da casa, o senador José Sarney e arquivado as onze denúncias que estavam sendo feitas contra ele. Também não escrevi nada sobre o Presidente da República ter compactuado com isso e ter dito ainda que: “Sarney não pode ser tratado como uma pessoa comum”, mas resolvi escrever agora, depois dessa conversa com a minha amiga.
Inicialmente, gostaria de perguntar ao senhor Presidente, se quando proferiu a fala sobre não tratar Sarney como uma pessoa comum, se ele se esqueceu do artigo 5º da Constituição Brasileira que diz que todos são iguais perante a lei, ou se ele pretende enviar algum projeto alterando a Constituição, ou ainda, o que o faz pensar que um coronel cínico como Sarney deva ser tratado de forma diferenciada?
O PMDB e o PT somaram nove votos nesta “tramóia”, contra seis votos do PSDB e do DEM, e o senador Aluízio Mercadante, chefe da bancada do PT, antes da votação, se recusou a ler uma carta do presidente do partido Ricardo Berzoine, mas a nota foi lida pelo senador João Pedro (PT-AM), que dizia o seguinte: “Oriento os senadores do PT que fazem parte do Conselho de Ética que votem pela manutenção do arquivamento das representações em relação aos senadores representados, como forma de repelir essa tática política da oposição, que deseja estabelecer um ambiente de conflito e confusão política”.
O Senador Aluízio Mercadante anunciou que iria renunciar ao cargo, como fez a senadora Marina Silva em protesto ao ocorrido, mas ele não renunciou. Disse que errou ao anunciar uma renúncia irrevogável e disse também que gostaria muito que todos nós conhecêssemos os motivos e as razões profundas que o levaram a esta decisão… Devem ter sido razões muito profundas mesmo…
Essas atitudes de falar que vai fazer e não fazer, na política, ficam parecendo acertos, acordos. E agora o senador fica se explicando por aí, clamando por compreensão aos jornais, blogs, em sua página no Twitter… Mas ele se culpa pelo erro errado. Seu maior erro e o que manchou sua biografia, não foi ter anunciado que renunciaria, e sim  não ter renunciado! A experiência nos mostra que os acertos dificilmente podem ser melhorados, mas os erros sempre podem ficar mais errados…
Engraçado, parece que eu estou brincando com a língua portuguesa quando escrevo essas rimas despropositais: erro, errado, renúncia, renunciado, erros errados… Mas fazer o quê, se o nosso Senado nos possibilita essas “brincadeiras” e comparações, como estou fazendo agora, comparando tudo isso ao caso da minha amiga?
A minha amiga também passou por isso. O marido sempre dizia que ia fazer algo que não fazia, e depois clamava por desculpas, por perdão, compreensão enfim, estava sempre apelando para os sentimentos nobres dela. Nos últimos tempos, porém, a sua indignação foi se tornando tamanha que após pensar muito e também perceber os seus erros, ela decidiu que era nojento conviver com a mentira, com a falta de vergonha e com a podridão no dia-a-dia, mas sabia que indignação só não bastava e que era preciso agir. Foi humilde. Pediu ajuda aos amigos e aos filhos e encontrou coragem para mandar o canalha embora. Cassou o mandato dele!
Não, não foi nada fácil. Essas coisas não são fáceis, mas a minha amiga está bem e vai ficar cada vez melhor, porque agora não dorme mais com o inimigo. E depois, ela é uma profissional brilhante, tem um incrível senso de humor e todos os amigos a amam.
Mesmo tendo sido difícil para mim, resolvi compartilhar um assunto das minhas relações pessoais para lembrar a todos que logo amanhã, em 2010, teremos eleições e este é o momento de mandar a turma das “tramóias”, das “maracutaias” pra fora do Senado, porque a grande maioria desses que estão lá não nos representa. O povo brasileiro não compactua com essas obscenidades que andam acontecendo por lá. E já que esse Senado não nos representa de forma decente e não reflete a nossa vontade como eleitores, vamos dar um cartão vermelho para eles, como fez o senador Eduardo Suplicy.  Vamos jogar as roupas do marido mentiroso pela janela do apartamento!
Mas no caso do senado, só pelo voto isso é possível, pois vimos agora com o que aconteceu que não é nada fácil tirá-los de lá. Eles têm muitos amigos da mesma laia que eles. Então vamos pela prevenção. Vamos começar o namoro agora e, se der certo em 2010, a gente casa.
Sim, podemos errar. A vida não é uma receita de bolo. Errar é humano e reconhecer o erro é um gesto nobre e humilde, mas persistir no erro é falta de inteligência. Os nomes dos senadores que votaram a favor do arquivamento das denúncias contra Sarney estão disponíveis em vários sites. A trajetória política de senadores e outros políticos atuais também está. Os candidatos das próximas eleições também terão sua trajetória política disponível para nossa pesquisa, portanto é só pesquisar, se informar e por a memória para funcionar.
Depende de nós, eleitores, fazer esse “casamento” dar certo. Neste caso, munindo-se do maior número de informações possíveis em relação ao caráter deles.

 
Maura Tânia Guimarães é historiadora,  professora da rede pública e particular.  E-mail:
mauratania@uol.com.br