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Três Lagoas

MPE capacita sobre violência contra criança

Iniciativa faz parte do projeto ?Pré-ver?, que já percorreu todas as escolas municipais de Três Lagoas

De recepcionistas, diretores, professores a merendeiras e auxiliares de serviços gerais. Estes são os alvos do projeto “Pré-ver” (ou prever), lançado nas escolas públicas e Centros de Educação Infantil de Três Lagoas no início deste ano e que já percorreu todas as escolas municipais, contra o abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes do Município.

De acordo com o psicólogo Sydnei Ferreira Ribeiro Junior, o projeto é idealizado pelo Ministério Público Estadual (MPE), por meio de uma parceria com as Secretarias Municipal e Estadual de Educação, e visa preparar os trabalhadores em educação para identificar possíveis casos de maus tratos, violência doméstica e abuso sexual contra crianças e adolescentes em fase escolar.

Sydnei explica o porquê da escolha do nome do projeto: “Pré-ver, ou seja, antes da visão. É orientar e conscientizar todos aqueles que trabalham com a educação sobre as formas de ajudar a interromper o ciclo de uma violência contra as crianças”.

O projeto nasceu de uma teoria básica sobre todos os crimes cometidos contra a criança e o adolescente: se a criança sofre algum tipo de violência em casa, é na escola que o problema será manifestado. Em contrapartida, como explica o psicólogo, até então, a participação das escolas era pequena. “Recebíamos muitas denúncias de violência contra a criança por meio do disk 100, ou telefones do conselho tutelar e outros. Mas eram poucas as denúncias trazidas pelas escolas, sendo que é no ambiente escolar que a criança manifesta as agressões. Foi por meio desta constatação que começamos a discutir um projeto voltado para as escolas, não apenas para os professores, mas para todos aqueles que têm contato direto com os alunos. Do porteiro à merendeira.
Todos podem perceber um comportamento atípico desta criança e, todo cidadão tem, por obrigatoriedade, denunciar”.

A necessidade da participação de todos também foi explicada pelo psicólogo através de um exemplo registrado em Três Lagoas. No ano passado, uma merendeira de uma escola – todos os nomes dos envolvidos foram mantidos em sigilo – percebeu que uma aluna, de aproximadamente sete anos de idade, não havia entrado na fila para a merenda. O fato gerou dúvida, já que a criança tinha a merenda como uma das principais refeições. No dia seguinte, a menina novamente não foi comer e a merendeira viu que ela estava com um pacote de biscoitos nas mãos, depois de balas. A servidora achou o fato estranho e levou ao conhecimento da coordenação. Os pais foram chamados. Os alimentos não estavam sendo trazidos de casa, mas sim por um aliciador. “Resumindo, a direção acionou os órgãos de defesa da criança e do adolescente, que descobriram que a criança estava recebendo as balas e biscoitos de um homem que morava próximo à escola. Ele foi preso foi aliciação”.

Conforme Sydnei, a merendeira salvou a criança de um possível estupro, já que, quando trata-se de um estranho, o aliciador precisa ganhar a confiança da criança primeiro. Isto, geralmente, é feito com presentes, para depois praticar o abuso. “São atitudes como a desta merendeira que esperamos com este projeto. Que todos os funcionários da escola fiquem atentos aos comportamentos dos alunos e investigue, denuncie”.

Neste ponto, o psicólogo faz um alerta também aos pais para que não deixem os filhos ir sozinho para a escola. “Há muito perigo no trajeto até à escola, por mais próxima que esta seja da casa da criança. O ideal, se possível, é que a criança seja acompanha pelos próprios pais”.

O PROJETO

A capacitação consiste em um “bate-papo” com os profissionais da Educação, como resumiu Sydney. Em uma hora de conversa, os trabalhadores recebem informações de como perceber um possível abuso, como conversar com a criança e o que fazer após a constatação de uma possível violência. Além disso, sugestões de como o tema pode ser inserido dentro da sala de aula, por meio de projetos, são discutidas e a auto estima dos funcionários também são trabalhadas.

Para Sydnei, o projeto já trouxe resultados. O comportamento de uma criança de 11 anos chamou a atenção de uma professora, já capacitada pelo Pré-ver.

“A menina andava muito triste e a professora foi conversar com ela e a criança contou o que vinha acontecendo”, disse. Há algum tempo, a menina vinha sofrendo abusos do padrasto. Chegou a contar para a mãe, mas, depois de ameaçada pelo agressor, acabou negando. Hoje, a mãe deixou o parceiro. Ele foi indiciado e a criança é acompanhada pelo Centro de Referencia Especializado da Assistência Social (Creas). “Fora este caso, também estamos recebendo muitas ligações, pedidos de esclarecimentos por parte das escolas. As pessoas estão ficando mais atentas sobre o tema.”, concluiu o psicólogo.

Desde que iniciado o projeto, no dia 6 de abril deste ano, o psicólogo já percorreu as 17 escolas municipais de Três Lagoas. Trabalho que foi feito até o mês de junho. Agora, o projeto é retomado nas escolas estaduais. Três, do total de 11, já foram visitadas até o momento. A mais recente foi a escola estadual Bom Jesus. “Neste mês, também deveremos percorrer os 12 CEIs da Cidade”, disse.

A estimativa é de 40 participantes por escola. O número representa um total de mais de 330 profissionais já qualificados até o momento.

Todos os participantes deverão receber uma cartilha sobre maus tratos e abuso sexual da criança e do adolescente ainda este ano. O material informativo foi elaborado pelo psicólogo, e confeccionadas por meio de uma parceria com o Conselho Municipal da Criança e do Adolescente (CMDCA). “A princípio, iríamos confeccionar em torno de mil cartilhas, apenas para as escolas, mas o CMDCA gostou da proposta e estuda a possibilidade de confeccionar mais 500 para distribuir em toda a Cidade”, completou.

As cartilhas, que totalizam mais de mil, ficaram prontas na semana passada, mas deverão ser distribuídas em uma solenidade que ainda deverá ser marcada.