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Três Lagoas

DRAMA: Uma jovem refém da violência doméstica

Três Lagoas registra aproximadamente 120 denúncias por mês

Jovem, bonita, independente e mãe de três filhos. Com 28 anos, Rosinei Botelho dos Santos é dona de um livro de histórias que nem de longe lembra um conto de fadas. Em um ano e meio ela acumulou capítulos de sofrimento e terror sob o domínio do ex-marido, o policial militar, José Roberto Alves, 37 anos.

O último sábado (12) foi mais uma das madrugadas que Rosinei quer esquecer. Separada há três meses, ela estava em um baile quando o ex-marido a encontrou. “Ele sempre me dizia que uma hora ia me encontrar. No sábado ele me ligou 34 vezes e só parou de telefonar por volta da uma hora. Eu estava no baile com as minhas amigas. Foi quando o vi na entrada do salão.

No momento já entrei em pânico, pois não tinha como escapar. Ele me chamou para conversar. Quando comecei a correr ele veio atrás e cravou a faca nas minhas costas. Eu cai no chão e ele caiu por cima. Depois tirou a faca das minhas costas e a enterrou na minha mão direita”.

O relato contado por Rosinei é só mais uma cena do cotidiano de agressividades em que ela viveu. Após o fato ela passou três dias internada no Hospital Nossa Senhora Auxiliadora, o ex-marido José Roberto foi preso em flagrante e está respondendo processo, afastado de suas funções. Com a prisão, Rosinei, os filhos e até mesmo seus pais estão livres das agressões e ameaças.

O drama vivido por Rosinei começou há um ano e meio, quando ela conheceu José Roberto e com menos de um mês resolveram morar juntos. O conto de fadas durou poucos dias. “Ele bebia muito. Tudo era motivo de ciúme. Quando o Roberto veio morar comigo tudo passou a ser motivo de briga. Eu não podia mais usar shorts, saia, só vivia de calça. Ele fez com que eu parasse de trabalhar e só me deixava atender clientes em casa”.

A primeira agressão aconteceu na casa da sogra de Rosinei. “Fazia dois meses que estávamos juntos. Ele me bateu na casa da mãe dele, estava bêbado. Fiquei toda roxa. Depois ficou ligando, pedindo desculpas e prometendo que jamais isso voltaria a acontecer. Eu acreditei nisso, nem pensei em denunciá-lo. A segunda vez aconteceu em uma festa de família. Novamente embriagado ele queria ir até o Arapuá, e como recusei, ele me agrediu”.

A cabeleireira enfatiza que acreditava na mudança e recuperação do policial. “Eu não tenho idéia de quantas vezes fui agredida. Eu tinha dó dele. Ele é uma pessoa que precisa de tratamento, de ajuda e eu dizia que ia ajudar. No começo estava empenhada nessa mudança, pois eu gostava, mas depois vi que nada ia acontecer”.

Vítima já havia denunciado agressões

Depois de inúmeras agressões Rosinei resolveu denunciar o marido, após o mesmo tê-la ferido com socos. “Ele praticamente quebrou o meu nariz. Foi quando fiz queixa, e passei por exames de corpo e delito. Acabei retirando a queixa tempos depois, a pedido dele. Como ele tinha três filhos ficava preocupado em perder a farda e o emprego, se eu levasse adiante seria a responsável por isso e na minha ideia, com a perda do emprego seria ainda mais difícil mudar”.

Proprietária de uma casa simples, porém bem arrumada, Rosinei não dependia do marido para nada. “Eu não me separei dele por medo. Ele falava o tempo todo que iria me matar. Como eu já tinha corrido riscos por diversas vezes temia por mim, pelos meus filhos e pela minha família”.

Apesar de ter sido vítima de tentativa de homicídio, Rosinei afirma que esse não foi o pior dia vivido nas mãos do ex-marido. “Teve um dia que ele chegou bêbado. Colocou eu e os meus filhos sobre a mira de um revolver carregado com sete balas. Ele dizia que se alguém chegasse lá mataria eu, meus filhos e depois se mataria. Roberto enfatizava que não tinha nada a perder. Ele era policial há 16 anos, mas foi afastado recentemente. Eu só rezava e chorava.

Prometia a ele que iria ajudá-lo, para ver se assim ele se acalmava”. A cabeleireira não se arrepende de não ter levado a denúncia até o fim. “Se eu tivesse levado isso até o fim, talvez já estivesse morta. Pois, ele já teria perdido a farda e viria se vingar”.

“É muito duro ver o sofrimento de uma filha”

O drama da jovem atingiu toda a família, já que a casa de Rosinei fica ao fundo da casa dos pais. O pai, Joaquim Magalhães, conta que sabia que essa história não acabaria bem. “Eu era refém na minha própria casa. Quando ouvia o barulho da moto dele já começava a me dar tremedeira. Eu não podia fazer nada, já que ele vivia armado. Teve um dia que ele entrou aqui e sufocou a minha filha com um travesseiro, entrou escondido e só fiquei sabendo depois. Ele me fez construir um muro dividindo as casas para que a gente não visse a Rose. Um dia que fui proteger a minha filha, ele me deu um safanão que fui parar longe. Mas a gente não tinha o que fazer”, relatou.

O pai diz que o ódio e a raiva cresciam e que muitas vezes pensou em matar Roberto. “Somos pessoas de bem. Mas a raiva é tanta que a gente pensa besteira. Se ele matasse a minha filha, com certeza eu o mataria. É muito duro ver o sofrimento de um filha, ouvir ela gritar pedindo socorro e não poder fazer nada. Nosso medo agora é que ele saia da cadeia e venha até aqui”.

A mãe, Maria Botelho dos Santos, lembra que todos os vizinhos ouviam as discussões. “Todos nós éramos vítimas. Tínhamos vergonha dos vizinhos, pois o tempo todo ele ficava gritando. Chegava bêbado. Era um terror. Um dia ele invocou que eu tinha roubado o coturno dele e por começou a agredir minha filha”.

Agora a cabeleireira espera que José Roberto pague pelos crimes e que após sair da cadeia seja mandado para uma clínica de recuperação. “Ele é um doente. Precisa de ajuda e tratamento, porque para mim, uma pessoa dessas não é normal”.