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Três Lagoas

Fibria terá de criar rede de ?fiscais de odores??

Imasul deu o prazo de 30 dias para que a empresa reúna e treine as pessoas que atuarão na rede

Por conta do acidente ocorrido na noite de segunda-feira (28) e que provocou um mau cheiro por toda a Cidade, a Fibria, antiga Votorantim Celulose e Papel, terá de criar a “Rede de Percepção de Odores” para atuar em Três Lagoas e Brasilândia. A medida visa atender a notificação do Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul), entregue à empresa na terça-feira (29).
 
Segundo a fiscal ambiental e responsável pelo Imasul em Três Lagoas, Délia Villamayour Javorka, a rede será formada por pessoas da comunidade dos dois municípios. O grupo, formado pela própria empresa, terá de receber treinamento específico para reconhecer os odores e as possíveis causas. “Trata-se de uma rede de comunicação, formada por pessoas da comunidade, como uma dona de casa, se ela tiver o perfil para o trabalho. Caso a pessoa sinta um odor especÍfico dos produtos utilizados na indústria, ela irá entrar em contato com os outros membros e em seguida com a empresa”, disse.

A criação da rede de percepção já estava sido solicitada pelos órgãos ambientais nos estudos de impactos ambientais – Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental (EIA-Rima) – da empresa, apresentado das audiências públicas realizadas antes da implantação do empreendimento, porém havia sido descartada pela empresa por conta da distância da unidade fabril da área urbana: 25 quilômetros, aproximadamente de Três Lagoas. “Hoje, ficou constatado que esta rede se faz necessária”, disse.

FALTA DE COMUNICAÇÃO

A falta de comunicação foi um dos pontos mais criticados pela fiscal ambiental. Segundo Délia Villamayor Javorka, do Imasul,  ela só foi informada do acidente na unidade fabril após as 21 horas de segunda-feira (28), depois que ela entrou em contato com a equipe responsável pela área ambiental da empresa.“Por volta das 21 horas, eu senti o mau cheiro na minha casa. Foi quando entrei em contato com a empresa e tive o retorno de que o acidente com um dos tanques teria ocorrido às 19 horas e que já havia sido sanado. O processo tem que ser contrário: a empresa que deve alertar os órgãos ambientais e eles tiveram duas horas para fazer isso”.

Para Délia, a falta de informação repassada na hora contribuiu, e muito, para o pânico gerado na população, que deixou as linhas dos serviços de resgate do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) e do Corpo de Bombeiros congestionadas por mais de três horas.

A responsável explicou que a regra vale para todas as empresas: em casos de acidentes, os órgãos ambientais precisam ser acionados na hora. Em seguida, a saúde pública também precisa ser informada do incidente. “Se tivéssemos sido informados, teríamos visitado a empresa na hora. Além disso, as unidades de resgate, principalmente Corpo de Bombeiros e SAMU, que é para onde boa parcela da população liga nestes casos, estariam preparadas para a demanda de atendimento e também munidas de informações sobre o caso. Esta foi uma falha imperdoável”.

Mas a falta de comunicação entre empresa e órgãos ambientais não foi a única citada por Délia. À equipe de reportagem, ela também indagou sobre a falha de comunicação entre os próprios órgãos ambientais. “Procuro ver o lado positivo em todas as coisas, por piores que sejam, e neste caso, o lado positivo foi detectar estas falhas na comunicação e tentar corrigi-las”.

Além da criação da rede de percepção, a Fibria também foi obrigada, impreterivelmente, a entregar amanhã (2) um relatório completo sobre as causas do acidente. Pelo relatório, os órgãos ambientais saberão quais os tipos e a quantidade de produtos químicos emitidos no ar e também o que a empresa pretende fazer a respeito para evitar futuros acidentes.

As notificações foram entregues à Fibria na terça-feira (29). Às 9 horas, a diretoria da empresa foi chamada para uma reunião na sede do Imasul. Em seguida, Délia se reuniu com o comandante do Corpo de Bombeiros, major Luiz Antonio de Mello para esclarecer o motivo do mau cheiro e às 13 horas, o Instituto e os Bombeiros realizaram uma vistoria no local. “Pelo que foi constatado não houve danos físicos à estrutura, apenas o vazamento”.

Em caso de descumprimento de qualquer uma das notificações, a Fibria corre o risco de ser autuada, multas que podem variar de R$ 500 a R$ 10 milhões.

Imasul confirma que poluição foi provocada por acidente

A responsável pelo Imasul explicou que o acidente em um dos tanques da indústria, que provocou mal estar em uma parcela considerável da população, ocorreu em decorrência de uma falha técnica do sensor de nível de um dos tanques. Com a falha, o líquido – composto de produtos químicos, entre eles enxofre – e conhecido como licor negro, entrou em contato com o ar e volatilizou os gases. Os ventos, que estavam direcionados para a Cidade e o tempo carregado de chuva (com muitas nuvens) influenciou para que os gases ficassem presos na atmosfera por mais tempo.

“A primeira coisa que precisa ser deixada às claras é que o odor característico da celulose existe, e sempre alertei isto nas audiências públicas realizadas anteriormente. Com certa freqüência, dependendo da posição dos ventos, o cheiro irá chegar à Cidade. Mas não na intensidade que foi registrada nesta segunda-feira, aquilo realmente foi por conta de um acidente, algo atípico. E mesmo em menor intensidade, também não pode ser algo diário. Pode ser eventual, mas não diário, se não terá algo errado”.

Délia conta que também sentiu o mesmo cheiro, embora em menor quantidade, no dia seguinte ao incidente, por volta das 19 horas de terça-feira.
 
Ela entrou em contato com a empresa novamente e uma hora depois, o odor havia desaparecido.

Ela completa: “O segundo fator que precisa ser esclarecido é que a Fibria conta com tudo que há de mais moderno, mas ainda está em fase de condicionamento, ou seja, em fase de testes. São previstas falhas como estas neste processo de adaptação, desde que haja controle”.