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Três Lagoas

Lideranças religiosas se reúnem para discutir Apac

Hoje as religiões oferecem apoio, trabalham para a ressocialização do indivíduo infrator e a prevenção geral

Aproximadamente 40 representantes de diversas religiões se reuniram na manhã de ontem (20), no Estabelecimento Penal de Três Lagoas (Presídio Feminino), para discutirem o cronograma de visitas, bem como as ações para o natal e a possibilidade de inserção da Associação de Proteção e Assistência ao Condenado (Apac). Foi apresentado um vídeo mostrando como funciona o método da associação, e como é realizado o trabalho.

Hoje as religiões oferecem apoio, trabalham para a ressocialização do indivíduo infrator e a prevenção geral, incentivando a sociedade a inibir a prática de outros delitos.

De acordo com a diretora do Patronato Penitenciário, Maria José da Paz Matos, o intuito é levar a religião a todas as unidades da Cidade. “Nós fiscalizamos e acompanhamos os internos beneficiados pelo regime semi aberto. Atualmente são 400 pessoas. Hoje estamos cumprindo mais uma etapa. Desde janeiro trabalhamos a sensibilização para levar a religião e mostrar a importância dela para essas pessoas”, frisou.

A diretora explicou ainda que a assistência religiosa não se limita apenas em visitas, algumas igrejas também trabalham a  reabilitação da  família dos reeducandos. “Nós trabalhamos para que toda estrutura receba apoio. As religiões ajudam aos familiares na conivência com o ex-presidiário e ainda o auxiliam a encontrar um emprego. São ações que ajudam em um ‘trabalho de formiguinha’ ”, explica.

Um dos motivos que leva o envolvimento de tantas entidades religiosas são os elevados índices de reincidências. Laine Jacinto Queiroz Zuque, do grupo de assistência espírita, ressalta que um dos motivos da reunião é a união de forças. “Nosso objetivo é lutar para tentar trazer o Apac para o município. Hoje estamos passando essa proposta. No sábado (24) vamos fazer uma palestra no Crase.  No dia 13 de novembro está prevista a visita a Itaúna (MG), quando vamos conhecer o modelo que é desenvolvido lá”.

Segundo Laine, a vinda da Associação é importante para que exista uma união maior do poder Legislativo, Executivo, Judiciário e comunidade. “A religião entra como trabalho de orientação. Nosso objetivo é mostrar amor, fé e oportunidade para pessoas vulneráreis. Claro que a vulnerabilidade não justifica, mas muitos que entram no crime não conseguem dar a volta por cima e é por isso que temos que ajudar. Precisamos despertar um lado melhor nas pessoas, pois uma vez recuperados elas deixam de oferecer riscos e passam a somar com toda a sociedade”, enfatiza.

A assistente diz ainda que a Apac não deve ser vista como algo superior. “Ela [Apac] não faz nada mais do que a lei deve cumprir. Precisamos humanizar o sistema. Com a Apac, tudo melhora, pois começa na comunidade e se reflete na própria comunidade”.

Laine também comenta que o grande número de pessoas interessadas pode ser reflexo da situação atual com o crescimento da violência. “Com o aumento dos índices de criminalidade as pessoas passaram a se interessar mais. Todo homem é falível de erro, mas todo homem é maior do que seu próprio erro”.

Entidade para auxiliar presos foi criada em 1972

A Associação de Proteção e Assistência ao Condenado (APAC) surgiu em 1972, em São José dos Campos (SP). Em Minas Gerais, a associação foi implantadano início dos anos de 1980, em Itaúna, e em 1991 passou a administrar o regime aberto e fiscalizar as penas substitutivas.

A partir de 1997, os regimes fechados e semi-abertos adotaram o método APAC. Outras prisões no Brasil e no estrangeiro também adotaram o método, tornando-se modelo e atraindo visitantes de todos os lugares.

Em Itaúna os índices de recuperação alcançaram um percentual de 92% do total de detentos, nos últimos cinco anos. As estatísticas apontam para um aumento populacional na cidade e a diminuição dos índices de criminalidade. Em Mato Grosso do Sul, nenhuma cidade utiliza o método.

A Apac é inspirada no princípio da dignidade da pessoa humana e na convicção de que ninguém é irrecuperável. Os trabalhos recuperam e possibilitam uma nova visão de mundo.

A religião atua como fator de conscientização do recuperando como ser humano, espiritual e social. A Associação também luta pela a assistência social, educacional, psicológica, médica e odontológica como apoio à sua integridade física e psicológica e ressalta a importância da família do recuperando, como um vínculo afetivo fundamental e como parceira para sua reintegração à sociedade. 
 
CONFERÊNCIA

Na manhã de ontem também foram entregues os certificados aos participantes da 1ª Conferência de Atuação das Religiões nas Unidades Penais, que aconteceu no dia 23 de junho, como objetivo ampliar o trabalho de evangelização nos presídios e os reflexos positivos na ressocialização.

A iniciativa pioneira na Cidade discutiu medidas para intensificar a assistência religiosa como ferramenta de ressocialização. “Temos muitos casos de internos que ao começarem a freqüentar uma determinada religião passam a enxergar a vida com outros olhos, se transformam e retornam à sociedade como novas pessoas”, ressaltou Maria José.

Uma das propostas discutidas na conferência foi a criação de um espaço para o tratamento dos internos e ex-internos usuários de drogas e a inserção dos ex-internos no mercado de trabalho.