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Três Lagoas

Nossa Senhora Auxiliadora no ?vermelho?

Por mês, hospital acumula dívida média de R$ 500 mil; destes, R$ 240 mil são apenas com a UTI

Metas de atendimento defasadas e “barateamento” dos procedimentos pelo Serviço Único de Saúde (SUS) aumentam, a cada mês, a crise financeira que se abate no Hospital Nossa Senhora Auxiliadora.

Segundo o diretor administrativo da instituição, João Carlos Florentino, a discrepância entre os recursos encaminhados pelo governo e total de gastos com atendimentos de pequena a alta complexidade geram um déficit mensal que pode variar de R$ 300 mil a até R$ 600 mil para a administração.

Atualmente, o hospital, referência na Região, recebe em torno de R$ 900 mil/mês em recursos das três esferas governamentais (Federal, Estadual e Municipal). Em contrapartida, o custo mensal da instituição ultrapassa a casa de R$ 1,6 milhão a cada 30 dias.  “Os principais problemas são os procedimentos de alto custo, como oncologia, recém implantado, e Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). Para se ter uma base, são R$ 240 mil negativos ao mês apenas com o serviço de UTI”, completou Florentino.

No momento da entrevista, nove, dos dez leitos da unidade intensiva, estavam ocupados, boa parte dos pacientes era vítimas de acidentes de trânsito.
 
“Contudo, pela nova Lei, o hospital não recebe mais o seguro obrigatório DPVAT [Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre]. Tiraram a receita e aumentaram o prejuízo, já que o número de acidentes aumentou consideravelmente”.

Mas este não é o único problema enfrentado pelo departamento financeiro. Em 2007, houve uma mudança nos repasses e o Nossa Senhora Auxiliadora passou a receber os recursos baseados em uma média de valores do hospital.

“De lá para cá não houve correção. As contas aumentaram, tivemos reajustes salariais, os preços dos materiais subiram, o número de atendimento cresceu, passamos por uma crise e o valor do repasse permanece o mesmo”.

Florentino cita um exemplo: pela tabela, o soro fisiológico (um dos medicamentos mais consumidos dentro de um hospital) custa R$ 0,80. Hoje, ele é adquirido à R$ 3,80. “Agora, imagine quanto de soro é consumido em um hospital?! Tivemos insumos de até 300%. E esta diferença tem de ser completada por nós”.

Além disto, pelo convênio, medida adotada em boa parte do Brasil, o teto dos procedimentos são custeados pelo SUS, no entanto, o governo não cobre os gastos extras. “O SUS possui um teto. Se houver gastos a mais, se houver complicações, é por conta do hospital. Este é um problema que se abate em todos os hospitais com atendimento público do Brasil. Acredito que, quando firmado [pela administração do hospital anterior] , o novo convênio já apresentava déficits, porém, naquela época (há dois anos) os procedimentos da rede particular do hospital seria o suficiente para cobri-los”.

ATENDIMENTOS

O diretor garantiu que os problemas financeiros não estão afetando os pacientes, ainda. Mas admite que o atendimento só vem sendo mantido por meio de empréstimos. “Três Lagoas ainda não está nesta situação [como ocorreu com Campo Grande e Dourados], ainda”. Em dezembro de 2008, a instituição acumulou uma dívida de R$ 4 milhões em empréstimos junto à Caixa Econômica Federal, a ser pago em 48 meses. Depois disto, novos empréstimos tiveram de ser feitos para manter o atendimento, também impactado pela população flutuante.

O Nossa Senhora Auxiliadora chega a realizar a média de 800 internações, 12 mil exames e quatro mil consultas ao mês pelo Sistema Único de Saúde. O índice foi diretamente afetado pela população flutuante que reside, ou passou, pelo Município e região. “Esta população não aparece nos dados do IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas] e, em conseqüência, não nos é repassado”, lembrou.

Para o diretor, a melhor solução para tirar o hospital do vermelho seria o pagamento em cima do custo do serviço e não por meio do valor fixo por procedimento. “A cada procedimento, seria pago tudo o que foi utilizado, que foi gasto. Com o pagamento em cima do custo, resolveria todo o problema”.