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A PÚBLICA E A PRIVADA

        A PÚBLICA E A PRIVADA

                                                                                  Alexandre Garcia

            Há poucas semanas, a presidente da República falava em reforma política, assunto que há anos é tema de enfáticas declarações de políticos & politiqueiros. “A mãe de todas as reformas” – proclamam, de boca cheia, fingindo ter a pedra de toque da transformação do país. Reforma política para termos partidos reais e sólidos, instituições fortes e nos tornarmos um país sério. Nada, é tudo encenação. Você está vendo, caro leitor, a multidão de mandatários a trocar de partido sem consultar e sem autorização de seus mandantes, os donos dos votos que os elegeram.

            Nada! O eleitor que se dane. O vínculo perdura até o dia da eleição. Depois, que se dane. Nenhuma satisfação. O eleitor votou no fundador do PFL, mas ele agora é tucano; votou em petista histórico, mas ele agora está no Solidariedade. Acompanhou o PSB e votou em candidato de sua confiança, mas foi traído, o deputado vira-casaca agora é PDT. Um ex-presidente do DEM agora é PP. A suposta Rede de Marina deixou alguns enredados. Miro Teixeira saiu do PDT, Walter Feldman do PSDB, e até Alfredo Sirkis deixou o PV. Mesmo Marina, “evangélica de esquerda”, como ela se define. Ele havida deixado o PT, que a lançou, e foi para o PV, mas o deixou para fundar a Rede. O que dizem os eleitores dessa gente?

            Não venham dizer que partido não elege. Está cheio de gente com mandato, eleita com menos votos de gente que ficou de fora. Ganharam o mandato com os votos do partido. O noticiário registrou o troca-troca como algo lúdico, quase uma brincadeira de recreio de escola, uma dança de cadeiras. Quando, na verdade, foi um escárnio ao eleitor, uma verdadeira pá-de-cal no sistema partidário de nossa mendicante democracia. Partido é só rótulo, sem princípios nem doutrina. Se perguntar a alguém  que aderiu ao PRTB qual a doutrina do partido, vai receber em troca um muchocho. Doutrina? Isso não é coisa de religião?

            Na minha adolescência, havia isso. As pessoas tinham cara de PTB, de PSD, de UDN. Cada partido tinha suas características, sua identidade. Mesmo assim, naqueles tempos, o humorista Aparício Torelly – o Barão de Itararé – escreveu que “a vida pública é a continuação da privada”. Penso o quanto está atualizada a irônica comparação. No ano que vem, diante da urna, o eleitor exigente vai ter que tapar o nariz.