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VOLTA DE FÉRIAS

                          VOLTA DE FÉRIAS

                                                                               Alexandre Garcia

          Acabo de voltar de três semanas longe do Brasil. Na volta, encontro as coisas ainda piores. A sucessão presidencial é um imenso nhenhenhém, sem que haja candidatos e candidatas que inspirem esperança. Também tudo igual nas ruas. Em São Paulo, mascarados tentam linchar um coronel da PM, negociador de tumultos, e um PM atira no peito de um jovem e faz iniciar outra quebradeira selvagem. Voltei do Chile, o país mais adiantado da América do Sul. É um choque, a volta ao Brasil. Deveria ter ido para a Venezuela, para ter, na volta, um consolo para o que encontro.

          A terra de Hugo Chavez é uma sucessão de pitorescos-ridículos. O navio-escola da Marinha, Simon Bolívar, agora vai singrar aos mares com seus guarda-marinhas, tendo na proa uma estátua de Chavez – não o comediante, o comandante – a apontar o rumo adiante, como era comum nas estátuas de Lênin e Stálin nas cidades da Cortina de Ferro.(Quem quiser vê-las, há um  museu fora dos limites de Budapest, com direito a entrar num antiquado Trabant). 

          Na Venezuela, o presidente Nicolás Maduro acaba de criar o Vice-Ministério da Suprema Felicidade, superando o Big Brother de George Orwell em 1984. E está criando o programa governamental Misión Nevado, para levar a felicidade também aos outros animais. Nevado era o nome do cão de Simon Bolívar. 

          Ele tem feito discursos que superam os que estão mais próximos de nossos ouvidos. Contou que entrou um passarinho no gabinete dele, deu três voltas em torno da cabeça do presidente, pousou e passou a chilrear um canto lindo. O presidente relata que respondeu, tentando gorjear também as mesmas notas. E que o pássaro lhe respondeu. “Senti que era o espírito de Chávez” – explicou Maduro. Depois, revelou que às vezes dorme na tumba de Chavez, o que ninguém sabia. Também contou que chegou à Venezuela um grupo especial destinado a inocular-lhe veneno.

          Maduro quis que fosse concedido o Prêmio Nacional de Jornalismo a Hugo Chavez. Mas não conseguiu porque, afinal,  Chavez fechou e censurou órgãos de informação. E depois que passou a faltar papel higiênico no país – e não por excesso de comida – Maduro criou um 0800 para denunciar sabotagem na economia, “por parte da direita fascista e da burguesia amarela” – disse o presidente. Se eu estivesse agora voltando da Venezuela, talvez não me chocasse ao encontrar o Brasil com o triplo dos casos de dengue em relação ao ano passado. A maior parte – 62% – na região sudeste. Um retrato do atraso da nação, não apenas de governos, na área mais “desenvolvida”. Mas voltei do Chile e vai levar uns tempos para o choque passar.