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Traduzindo Dilma

Sempre que improvisa discursos, a  presidente Dilma constrói frases de modo confuso, o que dificulta saber o que ela quis dizer. Agora, logo depois de mais um improviso – o anúncio de cortes e de impostos – a presidente disse o seguinte: “Obviamente, o governo está atento a todas as tentativas de produzir uma espécie de instabilidade profunda nesse país, o pessoal do quanto pior, melhor. […] Faremos de tudo para impedir que processos não democráticos cresçam e se fortaleçam"

Se é que eu entendi, ela disse que a autoria da instabilidade é o não identificado “pessoal do quanto pior, melhor”. Certamente não é a oposição, que anda calada. Certamente não é o povo, que é vitima da instabilidade. Certamente não são os marcianos nem os albaneses. Nenhum desses teve poder, nesses últimos anos, de desarticular as contas públicas, de aumentar gastos acima das receitas, de desorganizar o sistema elétrico, de ignorar o Congresso, de manter um governo desunido. Como ela nomeou Levy para ajuste, pelo menos reconhece que desajustou as contas públicas; como a cada reunião de ministério ela pede unidade, reconhece que não conseguiu unir nem seus ministros em quase cinco anos de governo. Concluiu-se então que quem quer melhorar piorando é a senhora presidente.

Ela falou também em impedir “processos não democráticos”. Ora, não deve estar se referindo a impeachment, porque o partido dela sempre considerou da essência da democracia esse recurso, tanto que o PT foi importante no impedimento de Collor, feito dentro da lei e da ordem. Seu lider, Lula, chegou a ir além, pregando recall de qualquer um que tenha sido eleito. Portanto, se há quem aposta em crescimento e fortalecimento de processos não-democráticos são os que ameaçam pegar em armas, como o MST e a CUT. Aliás, o MST é contumaz em processos não democráticos e ilegais como são  invasões e destruição de bens públicos e privados.

Isso posto, a gente conclui que ainda não caiu a ficha da presidente, como alguns supõem depois do último anúncio. Ela ainda não teve a humildade – que é a mais sábia das virtudes – para reconhecer os erros e corrigi-los. Talvez não consiga, porque isso está na personalidade da senhora presidente. Faz parte do seu temperamento não reconhecer o que lhe falta. Pena é que todos os brasileiros estejam pagando por isso. Só de impostos a mais vamos desembolsar 39 bilhões de reais no ano que vem, se  os nossos representantes no Congresso aprovarem o que quer a presidente.