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Entrevista

Como a hipnoterapia pode contribuir para a saúde mental?

Hipnoterapeuta e psicanalista, Tanila Rezende, ressalta a importância da terapia para o tratamento de sintomas emocionais

Tanila Rezende em entrevista nos estúdios do programa RCN Notícias. - Reprodução/TVC
Tanila Rezende em entrevista nos estúdios do programa RCN Notícias. - Reprodução/TVC

A campanha “Setembro Amarelo” aborda do temas relacionados à saúde mental, que envolvem doenças, diagnósticos e métodos de terapia. Por muitas vezes, o que é tratado como um tabu pela sociedade, pode estar afetando quem precisa de uma ajuda especializada. Não existe uma abordagem única que funcione para todos os casos de pessoas que buscam um tratamento. Desde a pandemia de Covid-19, a saúde mental voltou a ganhar destaque, por conta do isolamento social que se tornou uma barreira de interação entre a sociedade, agravando sintomas de ansiedade.

Em entrevista ao RCN Notícias, a hipnoterapeuta e psicanalista Tanila Rezende, ressaltou a importância da hipnoterapia no tratamento dos sintomas emocionais, como depressão, ansiedade e fobias. “A campanha tem como objetivo principal chamar a atenção da sociedade para a importância da prevenção contra o suicídio, reduzir o estigma em torno do tema, chamar a atenção ao cuidado com a saúde mental e o incentivo para as pessoas a procurarem ajuda quando enfrentarem problemas emocionais”, explicou Tanila.

O que é a hipnoterapia? Como ela atua no tratamento da saúde mental?
Tanila Rezende: A hipnoterapia identifica a causa de um sintoma, utilizando a hipnose. Porém, diferente do que muitas pessoas conhecem, a hipnose é utilizada em estado de consciência, em que a pessoa fica em estado de foco e concentração de seus sentimentos, para que se possa identificar a causa do que ela sente. Todo o sintoma emocional tem uma causa. O que aconteceu lá na infância para esse adulto estar com sintoma emocional? Geralmente são traumas, memórias que foram reprimidas e que influenciam nos sintomas emocionais. Foram situações pelas quais a pessoa foi passando. Na hipnoterapia, vamos identificar essas causas, para poder estar ressignificando. Não descartamos a importância de uma avaliação médica para analisar quando há a necessidade de entrar com intervenção de medicamento, pois, às vezes, é preciso restabelecer alguma função química ou hormonal, mas até nos casos que são necessários entrar com intervenção do medicamento, é importante identificar a causa do sintoma. Pois, se não for tratada a causa, há chances desse sintoma retornar posteriormente.

Existe alguma restrição de idade para fazer a hipnoterapia?
Tanila Rezende: Pode começar a fazer a partir de 4 anos de idade. Eu atendo adolescentes e adultos, mas crianças a partir de 4 anos podem estar fazendo também.

Tem algum prazo de duração para fazer o procedimento de hipnoterapia?
Tanila Rezende: Isso varia, só que a hipnoterapia, diferente da terapia convencional, ela é um processo breve e eficaz e de poucas sessões. Primeiro, eu faço uma consulta inicial que dura, em média, uma hora e meia, para entender com profundidade o que a pessoa procura tratar. Depois, durante o tratamento, cada sessão dura entre duas e três horas. A gente dá um intervalo entre as sessões, para que, após a ressignificação e verifique o que mais precisa estar melhorando. Mas é um processo breve, que varia de caso a caso. Em média, o tratamento vai de três a cinco sessões. Em 90% dos casos, os pacientes já apresentam uma melhora a partir da primeira sessão. É uma terapia transformadora, é muito gratificante quando a pessoa volta do intervalo entre as sessões, trazendo um feedback de como a vida dela melhorou e mudou.

Como tem sido a procura pela hipnoterapia?
Tanila Rezende: As pessoas têm procurado bastante. É impressionante, às vezes, a pessoa relatar que está vivendo um sintoma, enfrentando uma depressão, uma ansiedade há anos, que está fazendo tratamento e pode ser que até com medicamentos. E, na sessão de hipnoterapia, você acaba identificando uma memória lá da infância, um bullying que ela passou, que ela viveu. Aquilo não está na consciência, mas está influenciando a sentir o que está sentindo.

Quais os principais sintomas de quem busca pela hipnoterapia?
Tanila Rezende: Em primeiro lugar, a ansiedade. A partir daí, vem o medo excessivo de alguma coisa. Uma angústia que não se sabe de onde vem, entre outros sintomas emocionais diversos. Mas a ansiedade é o número um.

A hipnoterapia ajuda na prevenção do autoextermínio?
Tanila Rezende: Com certeza. Tem sintomas emocionais de algo que está incomodando, alguns momentos tristes, isso todo mundo tem. Mas, quando esses momentos têm uma constância, uma frequência mais elevada, isso requer um olhar atento. De onde está vindo essa angústia? Vamos olhar para isso, identificar. As principais doenças associadas ao comportamento suicida são: depressão, transtorno de personalidade, transtorno bipolar, transtornos relacionados ao uso de álcool e outras substâncias. Na hipnoterapia, a gente identifica para não deixar avançar e evoluir para algo mais grave. Às vezes, começa com uma crise de ansiedade, mas a pessoa não dá atenção para aquilo, e quando vê, ela está com um transtorno de ansiedade e que evolui para a depressão, e vai dificultando mais.

A saúde mental, às vezes, ainda é tratada como um tabu. Mas, as pessoas precisam ter consciência de que é necessário mudar isso, certo?
Tanila Rezende: Não é “frescura”. O Brasil foi considerado pela OMS como país mais ansioso do mundo. A campanha Setembro Amarelo, vem com esse propósito. É uma campanha contra o estigma. Às vezes, as pessoas têm o hábito de achar que falar de saúde mental é algo como frescura, como fraqueza. Muito pelo contrário, tanto que tem estudos que comprovam que, em grande parte, a maioria das causas de mortes por suicídio, as pessoas estavam enfrentando um transtorno mental, e essa maior parte não estava em tratamento. E por que não estavam em tratamento? Por falta de conscientização, exatamente, pelo receio de achar que é bobeira, por julgamento da sociedade de achar que falar que não estar bem mentalmente, é demonstrar fraqueza. Isso evita com que muitas pessoas busquem ajuda.

Como identificar as pessoas que estão passando por problemas graves na saúde mental?
Tanila Rezende: Primeiramente, é ter um olhar bem atento para observar todos os sinais que a pessoa pode estar manifestando. Identificando esses sinais, que podem ser diversos, desde uma mudança brusca de um comportamento até a perca de interesse de algo que a pessoa fazia e não faz mais. Como, também, sinais sutis, falas como: “Minha vida não importa”, “Se eu não existisse, não ia fazer diferença”. Identificando estes sinais, primeiramente, acolha essa pessoa, ouça atentamente, sem julgamentos e com empatia, e oriente essa pessoa a buscar ajuda. Às vezes, as pessoas olham de fora e acham que a vida do outro é tão perfeita, tem tudo: uma família estabilizada, trabalho, dinheiro e não é assim. Nem mesmo quem passa por problemas consegue identificar o motivo de sentir aquilo. Dependendo o nível em que esta essa pessoa, a recomendação é buscar uma avaliação médica, porque pode ser que tenha uma baixa química cerebral ou hormonal, que precisa ser reparado. É muito importante buscar uma terapia. O medicamento vai trabalhar o sintoma, a hipnoterapia vai identificar a causa.

Confira a entrevista: