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Entrevista

Detecção precoce é fundamental para a cura do câncer de mama

Doença tem a segunda maior taxa de incidência do Brasil e MS é o sétimo Estado com a maior taxa de mortalidade da enfermidade

Diretor > Técnico do Hospital de Câncer de Campo Grande, Gustavo Ianazze -
Diretor > Técnico do Hospital de Câncer de Campo Grande, Gustavo Ianazze -

O câncer de mama é o segundo tipo de câncer mais comum entre as mulheres, no Brasil, com estimativa de 73.610 novos casos em 2023. Em Mato Grosso do Sul, são esperados 910 novos casos da doença por ano. O diretor técnico do Hospital de Câncer Alfredo Abraão, Gustavo Ianazze, também médico oncologista, destaca a importância da prevenção. “A gente sempre pede para que a as pacientes não deixem de fazer seus exames de rotina. Que pare, pelo menos, uma semana no ano, e vá ao profissional que a acompanha e faça seus exames”, disse. Ianazze também ressalta a importância do autoexame das mamas, que deve ser realizado mensalmente por mulheres a partir dos 20 anos de idade. “A mulher conhece o próprio corpo. Se perceber alguma coisa de diferente, sabe que aquilo não estava ali”, afirmou.

De acordo com o INCA (Instituto Nacional de Câncer), sem considerar o câncer de pele não melanoma, o câncer de mama feminino é a doença mais frequente em todas as regiões brasileiras, com um risco estimado de 66,54 casos novos a cada cem mil mulheres. Em MS, o índice aponta 910 novos casos da doença. Qual a importância da prevenção?

GUSTAVO IANAZE A gente sempre pede para que as pacientes não deixem de fazer seus exames de rotina. Que ela vá, pelo menos, uma vez ao ano até o profissional que a acompanha, seja o ginecologista ou outro profissional e faça seus exames de rotina. A  gente enfatiza muito a parte das mamas e a parte ginecológica que é a parte em que as mulheres mais se preocupam. É interessante também que a gente converse com os nossos familiares para saber sobre antecedentes de câncer na família. Se você tem um câncer de mama na família, é interessante que você dê um foco especial a esse órgão, às vezes de maneira mais precoce do que é recomendado pelas sociedades médicas, para que você evite um diagnóstico tardio. E campanhas como Outubro Rosa, Novembro Azul, são extremamente importantes para a gente levar essas informações para a população, e lembrar aquelas que não fizeram ainda seus exames, para que procurem o médico e faça a mamografia, faça o ultrassom, faça seus exames ginecológicos. Devemos relembrar a todos que,  quem não tiver condições de pagar, no Hospital do Câncer Alfredo Abrão, está oferecendo 80 mamografias por dia, agora, no mês de Outubro Rosa. E que não deixem de fazer esse exame, que é extremamente importante na detecção precoce do câncer de mama.

O que o corpo feminino produz para levar a essa situação do câncer?
Gustavo Ianaze O câncer de mama é extremamente prevalente na população feminina, logicamente, pelo volume da glândula mamária da mulher. Pela exposição hormonal que a mulher tem ao longo da vida, através dos ciclos menstruais, e também os hábitos de vida. A gente tem que lembrar que, hoje, 5% a 10% dos cânceres são hereditários, são decorrentes de problemas familiares, alterações genéticas. A grande maioria dos outros cânceres, que são diagnosticados, são de origem de fatores ambientais, de pessoas tabagistas, pessoas com consumo abusivo de álcool. Uma das causas ainda é o sedentarismo, que hoje está em fator de risco quase ao lado do tabagismo. As pessoas que não fazem atividade física têm um risco maior de desenvolvimento do câncer de mama. E quando a gente fala de exercício físico, aquela caminhadinha que todo mundo gosta de fazer, não é o suficiente.  A pessoa precisa construir uma massa magra e musculação. Então, a atividade física, precisa ter esses dois aspectos: o aspecto do aeróbico, que seja uma caminhada, uma corrida, um beach tennis, que está na moda, e também a musculação, que é extremamente importante.

Em qual situação o médico solicita a mamografia ou o ultrassom das mamas? 
GUSTAVO IANAZE O ultrassom das mamas geralmente é solicitado para mulheres abaixo dos 40 anos. A mamografia não é indicada abaixo dos 40 anos,  porque a mama ainda é muito densa,  então dificilmente consegue-se fazer a compressão do mamógrafo pra uma avaliação adequada. Só lembrando que depois dos 40 anos é interessante que se faça a mamografia e o ultrassom de mamas. Eles não são exames que veem as mesmas coisas, eles são exames complementares, então, ambos têm que ser realizados anualmente pela paciente. Quando o ultrassom e mamografia estão alterados, às vezes, a ressonância é um excelente exame  para tirar a prova de que aquele nódulo seja ou não seja suspeito. Feito toda essa triagem de imagem inicial,  precisa fazer a biópsia. Geralmente essa biópsia fica pronta em até sete dias.  E com esse resultado, a gente determina  se precisa depois ir para um procedimento cirúrgico para a retirada de todo esse nódulo, caso ele seja maligno ou suspeito. Só acompanhamento,  no caso do nódulo ser benigno.

E como é a avaliação para a retirada total da mama?
GUSTAVO IANAZE Hoje em dia, a grande maioria dos procedimentos que a gente faz , são conservadores.  Porque, apesar de uma incidência grande do câncer de mama, as pessoas estão tendo o diagnóstico cada vez mais s precoce, então, a gente tem conseguido fazer cada vez mais cirurgias conservadoras,  nas quais a gente não precisa tirar a mama toda,  que é a mastectomia. Quais são as indicações para a mastectomia? Por exemplo, o paciente tem um câncer de mama com comprometimento extenso da pele. A pele está comprometida por câncer de mama. Eu não posso preservar a pele dessa mulher. Outro caso é quando o paciente tem um comprometimento já diretamente na areola  ou no mamilo.  Não tem como eu preservar essa região,  então, a gente precisa fazer a mastectomia. Nódulos muito volumosos, que às vezes chegam próximo à pele,  então a gente também precisa fazer a mastectomia.  E quando fazemos a cirurgia conservadora,  obrigatoriamente depois,  a gente precisa oferecer a radioterapia para o paciente.  Por quê?  Para diminuir a chance de reincidência dessa doença. 

Algumas pessoas ficam tão assustadas com a possibilidade de um diagnóstico positivo que entram na fase de negação. Como que é o impacto emocional nesse caso? E como a família pode contribuir nesses casos?
GUSTAVO IANAZE Falando do impacto emocional, quando a gente dá o diagnóstico e fala do estágio e do tratamento da paciente,  a primeira fase sempre é a negação,  de achar “por que está acontecendo comigo”,  “o que eu fiz de errado ao longo da minha vida”…  Mas eu sempre falo para os meus pacientes o seguinte: olha, a vida te trouxe até aqui, daqui para frente a gente tem que  tentar fazer um pouco diferente. Hábitos de vida, hábitos alimentares,  atividade física. Então, a gente tem que chamar a família  para ficar junto da paciente. E não é só o impacto emocional,  tem o impacto físico,  que ela pode perder cabelo durante o tratamento  da quimioterapia, alteração das unhas, tudo isso causa um impacto muito ruim.