Veículos de Comunicação

Transporte Coletivo

Nova crise, problema antigo: em pauta a qualidade do transporte público na Capital

Enquanto a população reclama do serviço, empresas alegam prejuízo e atrasam pagamento dos motoristas

Segundo diretor, pensar em nova frota para a capital é inviável neste momento - Foto: Arquivo/CBN-CG
Segundo diretor, pensar em nova frota para a capital é inviável neste momento - Foto: Arquivo/CBN-CG

O adiantamento do salário de janeiro para os funcionários do Consócio Guaicurus, conforme acordado com os trabalhadores e que estava previsto para esta quarta-feira (20), não foi realizado. A informação foi dada pelo diretor operacional do consórcio de empresas que administra o serviço de transporte coletivo de Campo Grande, Paulo Vitor.

O gestor alega déficit tarifário de R$ 10 milhões no período de um ano, de outubro de 2022 a outubro de 2023, e acusa o poder público municipal de não cumprir com o contrato, em vigor desde 2012.

Paulo Vitor, diretor operacional do consórcio em Campo Grande

"Estamos enfrentando algo que já vem de algum tempo, que é o descumprimento do contrato em questões administrativas e técnicas. O contrato impõe uma revisão a cada sete anos, isso em função da metodologia que o município escolheu para fazer a contratação do serviço, que venceu em 2019. E apesar da fiscalização do Tribunal de Contas e da Justiça, isso (revisão) não aconteceu até hoje. Então, a tarifa não atende ao custo do serviço hoje, Além disso, não tem sido decretada no momento adequado", afirma.

Para o diretor, a tarifa técnica, definida anualmente pela Agência de Regulação dos Serviços Públicos Delegados de Campo Grande (Agereg), e fixada há poucos dias em R$ 5,95, deveria ser de R$ 7,79 para cobrir os custos do serviço prestado ao município. O consórcio de empresas pondera que, para o usuário, o valor seria menor devido ao subsídio das gratuidades pelo poder público.

A reclamação por reajustes maiores na tarifa tem gerado impasse representantes do consórcio e da Prefeitura da Capital há vários anos. E, mais uma vez, os trabalhadores do setor podem ser prejudicados. Durante a entrevista coletiva, realizada nesta quinta-feira (21), o gestor revelou que, neste mês de dezembro, os funcionários das empresas não receberam o valor da primeira parcela do salário que deveria ter sido paga na data de hoje, apenas o pagamento do 13º  foi cumprido.

Essa situação já ocorreu outras vezes e os trabalhadores chegaram a paralisar o serviço como forma de protesto. Para evitar um novo caos no transporte público da Capital, o diretor afirma que conta com apoio do executivo e compreensão da categoria.

"Ontem nos reunimos com o sindicato. Conversamos, mostramos que não seria possível o pagamento do adiantamento salarial. Estamos trabalhando para que não ocorra isso, para que a gente consiga fazer esse pagamento, ainda falta um aporte de subsídio. E também estamos trabalhando com o sindicato para que possa nos ajudar a vencer mais esse período", disse Paulo Vitor.

Ao ser indagado sobre o prazo para substituição dos ônibus velhos, o diretor disse que esse investimento na frota é inviável no momento.

Coletiva de imprensa realizada no Bahamas Suíte Hotel, em Campo Grande

"Nós estamos vivendo um momento em que a gente não está conseguindo pagar o salário, então é totalmente improducente a gente falar de frota num momento desse. A própria agência de regulação, no diagnóstico dela, mostra que a questão da frota é uma consequência do desequilíbrio e não a causa. A gente precisa que esse equilíbrio ocorra para a gente retomar a troca da frota e a melhora do transporte no todo", explica.

 

Entre as melhorias aguardadas pela população está a climatização dos veículos que, com as recentes ondas de calor no estado, se tornou item essencial para o usuário do transporte público. Mas para as empresas, isso não é prioridade porque não é previsto no contrato assinado com a Prefeitura. 

"E a gente tem que fazer algumas reflexões antes disso. Um ar-condicionado,  na sala de trabalho da gente ou no quarto da gente, a primeira coisa que pressupõe é o que? A porta fechada. Imagina um veículo com três portas que, a cada 500 metros, ele para, desce gente e sobe. Com certeza, não melhora para o usuário, porque essa troca de calor que vai existir é muito grande dentro do ônibus, o sobe e desce é muito grande. E finalizando, o contrato de concessão  não prevê ônibus com ar-condicionado. Mas isso pode ser revisto? Lógico que pode", diz.

O diretor operacional do consócio ainda concluiu que um veículo com ar-condicionado tem um custo de operação 30% maior que o outro e, diante disso, é necessário também mudar o cálculo tarifário e a revisão contratual.

O que diz a população?

Quem usa diariamente o transporte público em Campo Grande revela insatisfação com a qualidade do serviço oferecido.

"Os ônibus são pequenos, né, super lotado, mega lotado. Principalmente na hora do pico, eles tinham que colocar o ônibus maior. A situação é precária mesmo e, com esse calor, eu acho que o ônibus tinha que ser assim, com mais ventilação. Tinha que ter mais segurança, principalmente para as pessoas idosas, crianças, enfim", reclama DirceVilhagra.

A aposentada Nina Ferreira também não está contente com o serviço."Muito difícil, principalmente pra nós, os idosos. Você entra, tá muito cheio, não tem lugar pra sentar, faz muito calor, a gente passa mal. É bem precário o nosso ônibus aqui em Campo Grande", desabafa.

A costureira Marina Melo utiliza o ônibus para chegar ao trabalho todos os dias e também se mostra insatisfeita.  "Tá uma verdadeira sucata, não tem qualidade, a gente sofre muito no calor, né? A troca da frota para ter mais conforto para os usuários seria de grande valia e o ar-condicionado faria diferença, sim. A gente teria um conforto a mais, principalmente quem utiliza por longos percursos e nos horários de lotação", comenta a usuária.

A precariedade no transporte público levou a doméstica Luísa Ortega a gastar mais com o deslocamento pela cidade porque optou pelo motorista por aplicativo.

"Eu sempre peguei ônibus e ultimamente eu não pego mais devido aos horários que são péssimos. É muito demorado o intervalo. De um ônibus para o outro demora muito. E a qualidade está péssima, pelo menos o que eu pego, que é o Coopharadio pra ir pro trabalho. Está sem condições, muito horrível, velho, barulhento, sujo, acabado, é complicado […]  E eu tenho problema sério de coluna e não aguento aquele ônibus velho batendo tudo, aí prefiro pagar mais e andar de uber", desabafa.