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Análise

Diversificação econômica tem beneficiado a região, diz presidente do Sindicato Rural

Bruno Ribeiro fala sobre os desafios e a resiliência do setor pecuário, que enfrentam a expansão das indústrias e das novas culturas

Bruno Ribeiro diz que a diversificação econômica tem beneficiado a região, mas a pecuária não deixou de ser relevante - Reprodução TVC
Bruno Ribeiro diz que a diversificação econômica tem beneficiado a região, mas a pecuária não deixou de ser relevante - Reprodução TVC

Uma das atividades econômicas mais tradicionais de Três Lagoas, a pecuária, vem perdendo espaço para o avanço de outras culturas e setores na região. Segundo dados da Pesquisa da Pecuária Municipal do IBGE, o número de cabeças de gado no município caiu vertiginosamente nas últimas décadas, gerando mudanças significativas no uso da terra.
Em 2001, o rebanho bovino em Três Lagoas somava mais de 917 mil cabeças. Já em 2023, esse número é quase a metade: pouco menos de 500 mil cabeças. O declínio no número de bovinos na região acompanha a expansão das plantações de eucalipto e o crescimento das indústrias de celulose. Em apenas um ano, o município caiu de 33º para 43º lugar no ranking nacional de criação de gado. Entre 2014 e 2021, o rebanho de gado em Três Lagoas caiu cerca de 10%, e a tendência de declínio foi contínuo nos anos seguintes.
De acordo com o presidente do Sindicato Rural de Três Lagoas, Bruno Ribeiro, a diversificação econômica tem beneficiado a região, mas a pecuária não deixou de ser relevante.
Como você analisa a redução do número de bovinos em Três Lagoas? Isso tem preocupado o setor?
Bruno Ribeiro
Para a nossa região, essa redução não é necessariamente um coisa ruim. Três Lagoas, que antes era dependente do setor agropecuário, hoje possui outras fontes de renda importantes, como a celulose e o plantio de eucalipto. Isso diversificou muito a nossa economia. Com a expansão dessas atividades, a pecuária perdeu espaço, mas quem continua no setor tem feito o dever de casa. O rebanho tem se mantido firme, com os produtores investindo em genética, melhorando o ritmo de produção e, consequentemente, aumentando a produtividade.
Há dados que mostram uma queda de cerca de 10% no número de bovinos de 2014 a 2021, e mais 10% entre 2021 e 2023. Essa tendência deve continuar?
Bruno Ribeiro
Sim, os dados da Famasul confirmam essa queda, mas isso é algo natural. Quem permanece no setor, no entanto, está investindo fortemente. Mesmo com os desafios climáticos, como a seca recente, a pecuária tem mostrado sinais de recuperação. O preço da arroba do boi gordo está subindo, e já há escassez de animais para o abate nos frigoríficos. Investimentos em genética, tecnologia e adubação têm contribuído para isso. Apesar da redução de área disponível, a pecuária continua sendo uma cultura expressiva em nossa região.
A redução também ocorre em outros municípios que estão recebendo fábricas de celulose, como Inocência e Água Clara?
Bruno Ribeiro
Sim, essa redução não é exclusividade de Três Lagoas. Em Água Clara, Inocência, Paranaíba e outros municípios que receberam investimentos em celulose e eucalipto, o número de bovinos também está reduzindo. Isso se reflete nos dados que a Famasul nos envia. Contudo, essa mudança tem sido gradual e acompanhada por uma modernização do setor agropecuário.
Com a chegada de mais duas indústrias de celulose em Mato Grosso do Sul, incluindo uma em Inocência e outra em Água Clara, a tendência é que o número de cabeças continue a diminuir?
Bruno Ribeiro
Acredito que a redução não será tão marcante. Hoje, a pecuária está mais produtiva. Antes, conseguíamos colocar uma cabeça por alqueire; agora, conseguimos colocar três cabeças por hectare, o que mostra uma evolução significativa na produtividade. Além disso, temos o sistema de confinamento (boitel), que permite que os produtores realizem a criação dos animais fora de suas fazendas, o que também contribui para manter a atividade ativa. A pecuária, assim como outras culturas, precisa ser economicamente viável. Não há como o produtor rural se manter no setor sem lucro.
Muitas terras estão sendo arrendadas para o plantio de eucalipto, pois é uma fonte de renda mais prática. Essa é uma tendência crescente?
Bruno Ribeiro
Sem dúvida, muitos produtores arrendaram suas terras para o eucalipto porque é uma atividade mais rentável e com menos burocracia comparada à produção agropecuária. O setor pecuário também enfrenta desafios com a sucessão familiar. Muitas vezes, os filhos dos produtores não querem continuar na atividade, o que leva os pais a mudarem o foco das propriedades. A falta de mão de obra também é um problema, e quando o produtor envelhece e não encontra sucessores, ele pode optar por arrendar a terra para culturas como o eucalipto.
Como você vê o futuro da pecuária na região, considerando essas mudanças?
Bruno Ribeiro
Eu acredito que a pecuária vai continuar firme para quem realmente se dedica à atividade. Os produtores que permanecem são cada vez mais especializados e utilizam tecnologia de ponta. Além disso, novas culturas estão surgindo na região, como a laranja em Três Lagoas e Paranaíba, e a soja em Selvíria. O produtor rural precisa ter retorno financeiro, e se a pecuária se mostrar lucrativa, ela vai continuar a crescer, mesmo com a competição de outras culturas.