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Entrevista

Salário mínimo é reajustado em R$ 41. E agora?

Economista e professor da UFMS do Campus de Três Lagoas, Marçal Rogério Rizzo, fala do tema

Desde o dia 1º de janeiro, o salário mínimo vigente do Brasil é de R$ 1.039 – uma alteração que  mexe com a vida de muita gente e com a economia do país, mesmo tendo sido de apenas R$ 41 acima do valor antigo. Há quem planejasse um salário mínimo maior. Mas, é preciso considerar que qualquer reajuste do mínimo repercute pesado nas contas do governo porque incide em quase todos os valores das aposentadorias e benefícios pagos pela Previdência Social. O economista e professor da UFMS, campus de Três Lagoas, Marçal Rogério Rizzo, fala sobre o tema.

Nos últimos dias acompanhamos que houve uma grande polêmica em torno do aumento do salário mínimo. Qual é a importância do salário mínimo para os brasileiros?

Marçal Rogério Rizzo – O aumento do salário mínimo expressa muita coisa para a vida dos brasileiros e para a economia do país como um todo. Para se ter uma ideia o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) estima que o salário mínimo é referência para 49 milhões de brasileiros. Aqui se enquadra os brasileiros que ganham o salário mínimo e aqueles que tem seu salário atrelado ao valor do salário mínimo. Há também os aposentados que tem suas aposentadorias ligadas ao salário mínimo e aí é o governo quem paga e, isso mexe diretamente com as contas públicas. Ainda há aqueles que são empregadores que pagam o salário mínimo ou valores ligados a ele a seus colaboradores. Isso explica a razão da polêmica instalada em torno do valor do salário mínimo.

O valor do salário mínimo em 2019 era de R$ 998,00 e a partir de 1º de janeiro de 2020 o valor será de R$ 1.039,00. Podemos afirmar que este aumento foi justo?

Marçal Rogério Rizzo – O reajuste foi de 4,1% que teve por base o Índice Nacional do Preços ao Consumidor (INPC), que é calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Falar em valor justo ou mesmo aumento justo para o salário mínimo é algo difícil, justamente por termos perdido o poder de compra do mesmo em décadas passadas. O salário mínimo foi criado no final da década de 1930 pelas mãos do presidente Getúlio Vargas. Surgiu num contexto pós escravatura e para ser piso, contudo em muitos casos no período mais recente virou teto, já que há empregadores que já afirmam que o que podem pagar é no máximo o salário mínimo. O próprio governo encontra dificuldades para pagar mais do que o salário mínimo para grande parte dos aposentados, justamente por estar com as contas desequilibradas. Na verdade, em razão de muitos problemas estruturais da economia brasileira o salário mínimo passou a ser muito para quem paga e pouco para quem recebe, dessa forma como falaríamos em aumento justo. O que nos consola é que ao menos ficou próximo do índice de inflação, não tendo perda no poder de compra como já ocorreu em décadas passadas.   

Foi dito que o valor do salário mínimo teve perdas consideráveis em seu poder de compra nas últimas décadas. Por que ocorreu isso? 

Marçal Rogério Rizzo – Isso ocorreu especialmente nos períodos de alta inflação justamente em razão dos governos da época elevarem o valor do salário mínimo abaixo do valor real da inflação, dessa forma os preços subiram além do salário mínimo. 

É possível um trabalhador sustentar uma família de 4 pessoas (esposa e 2 filhos) ganhando 1 salário mínimo?

Marçal Rogério Rizzo – Sabemos que isso é impossível. Sabemos que os números não mentem. O Dieese faz o levantamento do valor da cesta familiar, ou seja, faz um levantamento de uma cesta com uma quantidade de produtos para atender uma família com dois adultos e duas crianças e o valor dessa cesta já passa de R$ 1.200,00. Outro cálculo feito pelo Dieese que tem ligação com o tema é o valor mínimo necessário para atender as despesas de um trabalhador e sua família com a alimentação, moradia, transporte, saúde, educação, vestuário, higiene, lazer e previdência e o valor é muito superior ao nosso salário mínimo atual. Hoje necessitaria aproximadamente R$ 3.800,00. Agora é um problema complexo de ser solucionado, já que o salário mínimo atual se tornou pesado para o governo e empregadores até em razão do custo Brasil e pouco para o trabalhador receber. O que ameniza o problema é mais de um membro da família trabalhar, para isso tem que haver empregos.

O aumento do valor do salário mínimo foi de R$ 41,00. Para aqueles brasileiros que não contavam com esse aumento, ou não tem esse valor comprometido com gastos e contas o que seria interessante fazer com esse dinheiro?

Marçal Rogério Rizzo – Sugiro que poupe esse adicional inesperado ou descomprometido e, claro, invista de forma inteligente. Faça ele render. Lembre-se do poder dos juros compostos. Faça ele trabalhar por você. Disciplina, persistência e paciência é a mistura ideal para iniciar-se como investidor. Temos que dar valor no que parece pouco. Esses R$ 41 pode parecer pouco, no entanto, já é um importante começo. Vou fazer uma conta para entendermos que aos poucos caminhamos para longe. R$ 41 aplicados todos os meses por 10 anos a uma taxa de 0,5% ao mês daria R$ 4.961,00 (valor poupado) mais R$ 1.831,63 (juros recebidos) totalizando R$ 6.792,63. A questão que faço agora é: qual é o número de brasileiros que tem R$ 6.792,63 em uma aplicação rendendo juros? Notem que o inicio de tudo foi os R$ 41.

Esses R$ 41,00 podem ser o início de um fundo de emergência?
Marçal Rogério Rizzo – Sim. É importante falarmos em fundo de emergência. Como o próprio nome já diz é justamente um montante que deveríamos ter guardado para as emergências, as urgências, ou fatos inesperados como uma doença ou um momento de desemprego. Infelizmente no Brasil vivemos o contrário. Hoje parte das pessoas estão endividadas.

O que seria investir de forma inteligente?

Marçal Rogério Rizzo – A primeira coisa que devemos saber é que nada é fixo. Quando falamos em investimentos falamos em expectativas e essas mudam. Há momentos que a renda fixa está boa e há momentos que não rende o esperado. Aí temos que transitar para o investimento. Na realidade é que temos que estar antenados com o que está acontecendo. Quando falo em investir de forma inteligente é justamente conhecer o terreno que está pisando. Tem que tomar cuidado com uma serie de armadilhas que estão aí para nos pegar. Sugiro que converse com pessoas que já investem. Outro ponto é buscar informações sobre o tema. Aconselho que coloquem tudo na ponta do lápis. Hoje se faz necessário calcular o custo total do investimento, como taxas de administração; imposto de renda e até mesmo as taxas para a manutenção de contas. Temos que saber o valor liquido de nosso investimento. Outro ponto importante é saber quanto tempo que irá poder manter esse dinheiro aplicado e o risco que deseja correr com seu investimento.