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Medula Óssea

Distantes por diferenças de DNA

O caminho entre um doador e um receptor é grande, assim como a esperança

De um lado, Simoni Ferreira, de 36 anos, advogada de Três Lagoas que foi diagnosticada com leucemia. Para vencer a doença, ela depende de um doador compatível de medula óssea. Do outro lado, Michel da Silva, vendedor de carros, de 27 anos, doador compatível de medula óssea, mas não com Simoni e sim com um paciente do sexo masculino de outro país – essas foram as únicas informações repassadas pelo Redome (Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea) ao doador. Tudo e feito em sigilo absoluto. A única maneira de o doador saber para quem foi a sua medula é pela iniciativa do receptor, que tem o direito querer ou não conhecer o seu doador. 

A histórias se cruzaram no Hemosul. Isso porque, recentemente, a família de Simoni promoveu um mutirão de cadastro de pessoas que têm interesse em doar medula óssea. Essa ficha é cadastrada ao banco de dados do Redome e, a partir de então, o voluntário pode ser acionado quando o órgão encontrar um paciente compatível. 

A doação segue a lista de espera e é por isso que o doador pode ser de qualquer lugar do mundo. A família soube que tinha um rapaz de Três Lagoas que era compatível, mas, logo soube também que o receptor não seria a Simoni. Os dados genéticos de Simoni foram cruzados com o de Michel, mas, não são compatíveis e mesmo que fossem, ela não seria privilegiada por ser da mesma cidade. Mesmo assim, não perdeu a esperança. Mobilizou familiares e amigos, que, prontamente, fizeram o cadastro no Hemosul do município.

Simoni: a necessidade de um transplante urgente

Simoni recebeu o diagnóstico de leucemia recentemente, em fevereiro. Tudo começou quando ela passou a sentir muito cansaço e a observar manchas roxas pelo corpo. Ela procurou um médico, que realizou inúmeros exames até concluir que era câncer. E mais: a única forma de cura é pelo transplante de medula óssea. 

Desde então, ela parou de trabalhar, assim como a mãe, Dora, cabeleireira que deixou tudo para cuidar da filha. Elas estão em Barretos, isoladas, pois Simoni não pode adoecer nesta etapa do tratamento.

Para ajudar, familiares e amigos realizaram mutirão de doação e centenas de pessoas fizeram o cadastro no Hemosul de Três Lagoas. De acordo com a dona de casa, Luciana Ferreira, prima da Simoni, por enquanto, não é possível ter nenhum contato físico com ela, porém, mesmo assim, ela se faz presente nas orações diárias. “A gente se apegou a nossa fé, com a certeza de que encontraremos um doador compatível com a Simoni”, disse. 

Silvana Domingos, auxiliar de serviços em saúde do Hemosul, disse que apesar de as duas pessoas serem do mesmo município – Simoni e Michel – quem resolve todo o processo de doação é o Redome, que segue a lista de espera. Isso explica o porque o receptor de Michel é de outro país. 

“Nós cruzamos os dados genéticos dos dois, mas, mesmo, se os resultados fossem de compatibilidade, não conseguiríamos passar a Simone na parte da frente da fila de espera. Infelizmente. A gente não tem, sequer, acesso a quem vai doar por conta do sigilo”, destacou.“ 

Michel deverá doar medula para um receptor estrangeiro

Michel da Silva é vendedor de carros e tem uma vida tranquila. Trabalha durante a semana, em uma concessionária, e aos finais de semana frequenta a igreja e curte a família. Ele sempre foi consciente da importância ajudar o próximo, tanto, que é doador assíduo de sangue. Há um ano, ele resolver ser também doador de medula óssea. 

De acordo com Michel, dez meses depois de fazer o cadastro, recebeu a ligação de que seus dados genéticos eram compatíveis com um paciente que tem leucemia. Para sua surpresa é uma pessoa de outro país. “Eu estou muito ansioso para fazer o transplante e feliz também, pois se que vou dar uma nova chance de vida para alguém”, destacou. 

Atualmente, ele passa por vários exames e aguarda ser comunicado pelo Redome sobre a data e o local onde será realizado o transplante. “Me disseram que o paciente está sendo preparado para receber o transplante. Ele precisa estar estável, é tudo que sei até o momento. Apesar de não saber muito sobre o receptor, eu tenho a certeza de que sou privilegiado em poder ajudar alguém desta maneira. Estou muito feliz”, completou. 

SORTE GRANDE
Conforme Silvana Domingos, o resultado dos exames de Michel da Silva é considerado um “achado”, pois a compatibilidade entre doador e receptor de medula óssea é de um para 100 mil doares. Quando se trata de doação internacional, a chance é absurdamente maior: um para um milhão de doares.